Jamil Chade

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Reportagem

Mercosul chega a entendimento, e agora aguarda UE para fechar acordo

Os quatro países fundadores do Mercosul chegam a um entendimento e aceitam o texto do acordo comercial com a União Europeia, numa rara posição comum adotada tanto por Luiz Inácio Lula da Silva como Javier Milei. Agora, o bloco sul-americano apenas aguarda por uma confirmação por parte da Comissão Europeia para que possam encerrar o processo negociador.

O entendimento dentro do Mercosul, confirmado pelo Itamaraty, ocorre às vésperas do início da cúpula do bloco, em Montevidéu, a partir de quinta-feira. Se a UE também chegar a um acordo, a perspectiva é de que a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, embarque para o Uruguai para fazer o anúncio na sexta-feira.

O UOL apurou que Maros Sefcovic, o novo Comissário para o Comércio da UE, manteve contato com ministros dos 27 países e com os demais membros do Executivo do bloco para costurar um entendimento.

Na terça-feira, o governo alemão insistiu que havia chegado o momento de um acordo. "A cúpula do Mercosul na sexta-feira em Montevidéu é provavelmente a última oportunidade para isso, e finalizar (o acordo) agora seria uma vitória para ambas as partes. O Presidente da Comissão tem um mandato completo para fazer isso e deve, em nossa opinião, usá-lo adequadamente", disse a Ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock.

Mas a resistência também vem da Itália. O chefe da diplomacia de Roma, Antonio Tajani, afirmou nesta quarta-feira que seu país ainda quer mudanças no capítulo sobre agricultura para poder aceitar o entendimento.

O colapso do governo da França, com o voto de censura do Parlamento, pode ser um complicador. Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro Michel Barnier foi derrubado e, agora, Emmanuel Macron, terá de encontrar um novo chefe de governo. A crise, porém, é profunda.

Mas diplomatas destacam que a turbulência pode até ajudar a Comissão Europeia a fechar o acordo. Pelas regras da UE, o poder de negociar é da Comissão, e não dos governos isoladamente.

Concluir o acordo, porém, não significa que ele entraria em vigor imediatamente. O tratado terá de passar pelo Conselho da Europa e pelo Parlamento Europeu.

A previsão do governo brasileiro é de que essa etapa vai exigir um processo intenso de convencimento por parte do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente para atrair para o pacote países como a França e Polônia, altamente protecionistas.

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Sozinho, o governo de Emmanuel Macron não tem votos para garantir um bloqueio ao acordo. Mas não é apenas seu voto no Conselho da Europa que é considerado. Paris acredita que, sendo a maior potência militar de um continente que enfrenta uma guerra, o governo francês teria uma voz poderosa numa barganha com a Comissão Europeia e com os demais países.

Além disso, o grande promotor do acordo, a Alemanha, vive uma situação crítica de seu governo, que pode ter de convocar eleições antecipadas. A fragilidade de Olaf Scholz não ajuda na busca por um entendimento.

Acordo comercial modesto, mas forte impacto geopolítico

Pelo acordo, o mercado europeu seria aberto para alguns dos principais produtos de exportação do setor agrícola nacional, como carnes, açúcar e etanol. Mas o pacto não prevê uma liberalização completa do comércio. Cada um dos setores terá uma cota específica. No caso das carnes, ela não passa de 60 mil toneladas com livre acesso sem tarifas.

Hoje, o volume de exportação brasileira de carnes para a UE é menor que a venda do Brasil para a Arábia Saudita.

O acordo entre Mercosul e UE, porém, teria um impacto geopolítico importante, num momento em que Donald Trump insiste em uma agenda comercial protecionista.

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Um novo adiamento do acordo entre Mercosul e UE pode ainda dar força ao pleito da Argentina de pedir que as regras fundadoras do bloco sejam abandonadas. Milei quer o direito de negociar acordos comerciais com quem bem entender, sem ter de esperar por um entendimento regional.

Se isso for aprovado, a tarifa externa comum do Mercosul seria enterrada e a ideia de uma união aduaneira encerrada.

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