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Aos 40 anos, PT chega às eleições envelhecido, sem votos e sem rumo

A velha bandeira do PT, que mudou a história política do país, pode virar só um retrato na parede  - Sergio Lima/Folhapress
A velha bandeira do PT, que mudou a história política do país, pode virar só um retrato na parede Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Colunista do UOL

30/10/2020 14h31

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A bordo de velhos nomes e velhas propostas, o Partido dos Trabalhadores chega às urnas em 2020 com remotas chances de eleger prefeitos nas principais capitais do país, como mostram todas as pesquisas.

Não dá para brigar com os fatos. Aos 40 anos, o PT envelheceu e está sem rumo, apenas tentando acertar as contas com o passado e glorificar as conquistas dos seus períodos de governo.

Cheguei a essa triste conclusão assistindo terça-feira ao programa produzido pelo partido e exibido nas redes sociais para celebrar os 75 anos de Lula, seu fundador e ainda a principal liderança.

Fora os filhos e netos do ex-presidente, a maioria dos personagens que desfilaram na tela está na minha faixa etária, ou seja, não têm muito futuro pela frente. Quem não ficou careca está de cabelos brancos ou grisalhos.

A maior prova de que o discurso petista já não empolga é que, ao longo de mais de uma hora de programa, em nenhum momento a audiência chegou a 400 pessoas assistindo no YouTube. Apenas 400 pessoas! Dá para acreditar?

Já na eleição municipal de 2016, o PT perdeu dois terços das suas prefeituras e só elegeu o prefeito de uma capital, Rio Branco, no Acre.

Não houve uma renovação de lideranças e de propostas, nada mudou no comando do partido, que só teve dois presidentes nos últimos muitos anos, e hoje lidera as pesquisas apenas em Vitória, no Espírito Santo.

Para um partido que venceu quatro eleições presidenciais consecutivas neste século, não basta colocar a culpa na mídia, na Lava Jato e nos adversários para justificar a derrocada.

Algo se rompeu na relação do PT com o seu eleitorado.

Os tempos mudaram e as receitas usadas nas antigas campanhas eleitorais também envelheceram, já não empolgam mais.

Foi-se o tempo dos grandes comícios (e não só por conta da pandemia) e da militância aguerrida, que fazia campanha de porta em porta, carregando suas bandeiras com a estrela por todos as esquinas e grotões do país.

Ninguém mais vende a bicicleta, empresta o carro ou falta no emprego para fazer campanha pelo PT.

Como vimos em 2018, as eleições agora se decidem nos algoritmos da internet, e não mais nos programas na TV; nos memes e nas fake news, e não mais nas propostas de governo; apenas nas altas rodas do poder econômico e não em assembleias de operários e estudantes.

Numa democracia em que os partidos perderam a importância e o respeito, com a multiplicação de siglas de aluguel que têm donos, assim como as novas igrejas, que brotam por toda parte, a sociedade civil cedeu lugar às corporações militares e religiosas, abrindo espaço para as milícias e o crime organizado, cada vez mais influentes.

Esta é a nova realidade da política brasileira, gostemos dela ou não. Dia 15 de novembro, as urnas vão provar.

Vida que segue.