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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Idosa retoma os estudos após 60 anos e sonha com faculdade em Alagoas

Aposentada afirma que incentivo da família foi fator decisivo para retomar estudos - Carlos Madeiro/UOL
Aposentada afirma que incentivo da família foi fator decisivo para retomar estudos Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Carlos Madeiro e Ana Paula Bimbati

Colunista do UOL, em Maceió, e do UOL, em São Paulo

06/03/2023 04h00

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Vizinha do Centro Educacional de Jovens e Adultos Paulo Freire, em Maceió, a aposentada Lídia Dias da Cunha, 74, sentia sempre que passava pela escola uma vontade de retomar os estudos parados ainda na 5ª série — hoje, 6º ano do ensino fundamental.

Até que um dia achei necessário voltar. Falei ao meu filho, ele me apoiou de imediato, meu esposo também atiçou. Decidi fazer a matrícula e na mesma semana comecei a estudar"
Lídia Dias da Cunha, aposentada e agora estudante

Depois de seis décadas, ela entrou em uma sala de aula na manhã da última quinta-feira (2). "Enquanto há vida, há de se prosperar mais um pouco. Achei que deveria terminar [a escola] porque meus estudos ficaram pela metade", conta.

Lídia é aluna da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Desde 2018 o número de estudantes da etapa vem caindo —eram mais de 3,3 milhões e ano passado chegou a 2,6 milhões, segundo dados do Censo Escolar de 2022.

A modalidade registrou queda no número de matrículas e não é vista, de acordo com especialistas, como prioridade pelos governos. Para a professora Maria Clara Di Pierro, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), a explicação é "multicausal".

"Tem a ver com políticas públicas, com as condições de vida da população, ausência de mudanças que motivem o esforço da pessoa e da cultura na sociedade de maneira geral, que escola é para o período da infância", afirma.

Com lápis, caneta e caderno, Lídia se apresentou às 7h para a primeira aula, de matemática. Ela conversou com o UOL logo após a segunda aula, de geografia, e estava animada.

"Está sendo puxado porque não tenho costume, mas está tudo indo muito bem", afirmou.

A sala dela tem dez alunos, a maioria bem mais jovens que Lídia. "Eles me receberam bem, ficaram brincando", conta.

O desafio, segundo ela, é ficar sentada por muito tempo, mas as dores estão longe de desanimar. "Tenho problema na coluna cervical e no ombro, mas dá para levar."

Ela diz que vai fazer concluir os estudos na EJA para chegar na sua principal meta: a faculdade.

Eu quero fazer [o curso] de serviço social ou coisa parecida. Gosto da área e me sentiria realizada"

Lídia quer fazer facldade em um curso na área social - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Lídia quer fazer facldade em um curso na área social
Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Assim como outros estudantes da EJA, ela interrompeu os estudos após precisar ajudar a mãe, quando morava no Recife, sua terra natal. "Não lembro o ano exato que larguei, mas eu era adolescente."

Em 1981, ela e o marido foram morar em Maceió após ele ser transferido pela empresa. Na capital alagoana, o casal montou uma loja de serviços em eletrônica e Lídia passou a trabalhar junto ao marido.

Há 16 anos, ela não trabalha mais fora de casa e se dedica apenas à família. O incentivo do marido e filhos foi decisivo para a aposentada retomar os estudos.

Antes de matricular, ela conta que pediu ao marido para substituí-la nas tarefas de casa. "Vai ter de tomar conta do neto [o pequeno Eduardo Miguel, de 3 anos]."

Aposentada sonha em cursar serviço social na universidade - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Aposentada sonha em cursar serviço social na universidade
Imagem: Carlos Madeiro/UOL