Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Idosa retoma os estudos após 60 anos e sonha com faculdade em Alagoas
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Vizinha do Centro Educacional de Jovens e Adultos Paulo Freire, em Maceió, a aposentada Lídia Dias da Cunha, 74, sentia sempre que passava pela escola uma vontade de retomar os estudos parados ainda na 5ª série — hoje, 6º ano do ensino fundamental.
Até que um dia achei necessário voltar. Falei ao meu filho, ele me apoiou de imediato, meu esposo também atiçou. Decidi fazer a matrícula e na mesma semana comecei a estudar"
Lídia Dias da Cunha, aposentada e agora estudante
Depois de seis décadas, ela entrou em uma sala de aula na manhã da última quinta-feira (2). "Enquanto há vida, há de se prosperar mais um pouco. Achei que deveria terminar [a escola] porque meus estudos ficaram pela metade", conta.
Lídia é aluna da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Desde 2018 o número de estudantes da etapa vem caindo —eram mais de 3,3 milhões e ano passado chegou a 2,6 milhões, segundo dados do Censo Escolar de 2022.
A modalidade registrou queda no número de matrículas e não é vista, de acordo com especialistas, como prioridade pelos governos. Para a professora Maria Clara Di Pierro, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), a explicação é "multicausal".
"Tem a ver com políticas públicas, com as condições de vida da população, ausência de mudanças que motivem o esforço da pessoa e da cultura na sociedade de maneira geral, que escola é para o período da infância", afirma.
Com lápis, caneta e caderno, Lídia se apresentou às 7h para a primeira aula, de matemática. Ela conversou com o UOL logo após a segunda aula, de geografia, e estava animada.
"Está sendo puxado porque não tenho costume, mas está tudo indo muito bem", afirmou.
A sala dela tem dez alunos, a maioria bem mais jovens que Lídia. "Eles me receberam bem, ficaram brincando", conta.
O desafio, segundo ela, é ficar sentada por muito tempo, mas as dores estão longe de desanimar. "Tenho problema na coluna cervical e no ombro, mas dá para levar."
Ela diz que vai fazer concluir os estudos na EJA para chegar na sua principal meta: a faculdade.
Eu quero fazer [o curso] de serviço social ou coisa parecida. Gosto da área e me sentiria realizada"
Assim como outros estudantes da EJA, ela interrompeu os estudos após precisar ajudar a mãe, quando morava no Recife, sua terra natal. "Não lembro o ano exato que larguei, mas eu era adolescente."
Em 1981, ela e o marido foram morar em Maceió após ele ser transferido pela empresa. Na capital alagoana, o casal montou uma loja de serviços em eletrônica e Lídia passou a trabalhar junto ao marido.
Há 16 anos, ela não trabalha mais fora de casa e se dedica apenas à família. O incentivo do marido e filhos foi decisivo para a aposentada retomar os estudos.
Antes de matricular, ela conta que pediu ao marido para substituí-la nas tarefas de casa. "Vai ter de tomar conta do neto [o pequeno Eduardo Miguel, de 3 anos]."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.