Carlos Madeiro

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Reportagem

Quais critérios definem quem recebe novo coração, como no caso de Faustão

O apresentador Fausto Silva, o Faustão, recebeu um coração novo neste domingo, após conseguir um doador apto. Para que o transplante fosse realizado, foi preciso que o órgão passasse por avaliações que levam em conta o seu tamanho. Além disso, o "estado muito grave" de Faustão fez ele se enquadrar nos critérios de prioridade para receber um novo coração.

Como é definida a lista

O tempo na lista de espera não é o principal critério. É usado como desempate em caso de dois pacientes que estejam em uma mesma situação.

Os critérios de prioridade diferem para cada órgão, segundo a coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), Daniela Salomão. Os detalhes estão estabelecidos na portaria de consolidação número 4, que regula o SNT.

A lista é única e nacional, e os critérios [de definição de ordem] são técnicos. Valem para todo o país e apontam a prioridade de um paciente.

A cronologia [tempo na fila] funciona mais como desempate do que como critério de elegibilidade. E tudo isso está em um sistema informatizado que gerencia o SNT.
Daniela Salomão, do SNT

Importante explicar que todo o sistema de doação é controlado pelo SUS. E não há qualquer diferença entre pacientes dos sistemas público ou privado.

E para transplantes de coração?

O paciente que está em lista precisa de um doador compatível em todos os aspectos, como peso e tipo sanguíneo.

Por se tratar de órgão de caixa torácica, o tamanho do coração também é um critério definidor. "Ele tem de caber. Não pode ser muito maior ou menor", explica Daniela.

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Outra questão importante é que o sistema de doação prioriza os pacientes que estão listados no estado onde ocorreu a doação, ou em uma cidade próxima.

O coração tem um tempo curto, ente quatro e seis horas, chamado de tempo de isquemia fria, que é o tempo de retirada do órgão e o implante do órgão no receptor.
Gustavo Fernandes Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em entrevista à GloboNews

Imagina a gente transportando rim, fígado, coração pelo Brasil afora e perdendo a qualidade e até a possibilidade do transplante. Cada órgão tem um tempo máximo de sobrevida entre a retirada e o transplante no receptor.
Daniela Salomão, do SNT

Há critérios para prioridade dentro das prioridades. O coordenador médico do Programa de Transplantes do hospital Albert Einstein, José Eduardo Afonso Jr., explica que é preciso estabelecer quem deve ser atendido primeiro pelo risco maior de morte. Faustão foi operado no Einstein, em São Paulo.

Por exemplo, se o paciente tem uma insuficiência e consegue ser estabilizado só com remédios, é um grau de prioridade. Se não está mais nessa condição e precisa de um ECMO [aparelho que funciona como coração artificial], já seria outro [grau de prioridade].
José Eduardo Afonso Jr, do Albert Einstein

O tempo na fila de espera serve de desempate após a definição de todos esses critérios. Caso haja mais de um paciente com as mesmas condições, a cronologia define.

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Em relação a Faustão, o Ministério da Saúde destacou que ele se adequava nos quesitos de prioridade "em razão de seu estado muito grave". "Ele recebeu um coração após constatada a compatibilidade necessária para o procedimento, assim como os outros sete transplantados", informou a pasta.

Transplantes de coração na semana passada

Em nota, o Ministério da Saúde informou que, na última semana, entre 19 e 26 de agosto, foram realizados 11 transplantes de coração no país, sendo sete em São Paulo.

Depois do caso de Faustão, os estados têm relatado aumento no número de autorizações e doações de órgãos.

Na sexta-feira (25) havia 65.291 pessoas na lista de espera por um órgão, mais da metade delas por um rim (37 mil). O SNT mantém um banco de dados atualizado para que as pessoas possam saber, em tempo real, quantas pessoas estão esperando uma doação, de qual órgão e o perfil dela.

Unidade Morumbi do Hospital Albert Einstein, onde são realizados os transplantes
Unidade Morumbi do Hospital Albert Einstein, onde são realizados os transplantes Imagem: Kiko Ferrite/Divulgação

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