Bololô do caso Marielle ganha a cereja: um bombeiro-ostentação
Na investigação sobre o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o absurdo ganhou uma doce naturalidade. Antes da chegada da Polícia Federal ao inquérito, os investigadores fluminenses eram pessoas de pouquíssimos espantos. Tratavam Maxwell Simões Corrêa, o Suel, como figurante. Súbito, descobriu-se que Suel, expulso do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro em 2022, é um empreendedor do submundo das milícias.
Como bombeiro, ganhava algo como R$ 10 mil por mês. Uma cifra incompatível com sua movimentação bancária. Escorando-se em dados do Coaf, a PF verificou que, entre entradas e saídas, Suel movimentou R$ 6,4 milhões na conta pessoal e de sua empresa no período de março de 2019, quando a execução de Marielle fez aniversário de um ano, e outubro de 2021.
Nessa época, Suel ainda se dividia entre a farda de bombeiro, a venda clandestina de TV a cabo na Zona Norte e um varejo criminoso que incluiu a participação no planejamento e acobertamento do assassinato de Marielle. Já cumpria pena de prisão em regime aberto por obstrução de Justiça. Foi passado na chave nesta segunda-feira, como consequência da delação de Élcio Queiroz, que dirigia o carro na perseguição em que Ronnie Lessa metralhou Marielle e o motorista Anderson.
Num passado remoto, as milícias eram toleradas —às vezes aplaudidas—, porque executavam pivetes e "aviões" do tráfico em troca de alguns caraminguás. Hoje, dividem regiões com o tráfico. Operam em ramos variados —do transporte clandestino aos imóveis ilegais. Recrutam pessoal nas forças de segurança, sob a proteção de governantes.
Quando menos se espera, um Suel qualquer surge no bololô em que se converteu o caso Marielle como a cereja podre de um bombeiro-ostentação. Morava bem e gastava muito. A plateia se pergunta: por que os investigadores haviam suprimido dos seus hábitos o ponto de exclamação?
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