Wassef deu a Bolsonaro uma aparência de suicida didático
O caso das joias fez de Bolsonaro um representante típico da política patrimonialista —grosso modo falando. Ele virou uma caricatura burlesca de si mesmo. De tanto mentir, assumiu a missão inconsciente de se desnudar, como quem desvenda os próprios crimes cometendo-os com desmazelo. O desejo de ser apanhado ficou evidente com a entrada em cena de Frederick Wasseff.
Na definição da Polícia Federal, o advogado de bolso da família Bolsonaro estrelou uma "Operação Resgate". Enquanto Bolsonaro enrolava o Tribunal de Contas da União, recuperou relógio Rolex presenteado pela ditadura saudita e vendido como muamba nos Estados Unidos. O "resgate" revelou a precariedade da "operação". Wassef foi menos cuidadoso do que quando abrigou num imóvel em Atibaia o operador de rachadinhas Fabrício Queiroz. A polícia demorou quase um ano para chegar a Queiroz. A arapuca das joias durou menos.
Mal comparando, Wassef faz lembrar um personagem encarnado pelo ator Harvey Keitel no filme Pulp Fiction, de Quentin Tarantino. Apelidado de "The Wolf" (O Lobo), o sujeito é acionado sempre que é necessário limpar o sangue e apagar os rastros de um crime. A diferença é que, no caso das joias, Wassef deixou pelo caminho tantas pistas que subverteu os métodos clássicos de acobertamento.
A alma do desse negócio é o segredo. Wassef exibiu-se até em mensagens de aplicativo. De volta ao Brasil, combinou com o coronel Mauro Cid, o coronel muambeiro, a devolução da mercadoria na Hípica de São Paulo. Pilhado, jurou em nota: "Nunca vendi, ofereci ou tive posse de joias." Por mal dos pecados, a Polícia Federal apalpou um recibo de recompra do relógio com o nome Wassef.
Desatento aos detalhes, o lobo de Bolsonaro revelou que, no mundo do crime, ninguém está mais só do que quando mal acompanhado. Wassef transformou Bolsonaro num suicida didático.
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