Wassef troca posto de advogado pelo papel de cúmplice confesso
Pelo enredo esboçado nas páginas do inquérito da Polícia Federal, o caso das joias é o conchavo de um ex-presidente decadente com militares fanatizados para passar bens da União no cobre, obtendo um dinheirinho fácil. Para aceitar a versão de Frederick Wassef sobre sua participação nesse script, o Brasil precisa aceitar como verdade absoluta a fantasia segundo a qual o advogado de bolso dos Bolsonaro entrou na história para moralizá-la.
Wassef passou uma semana operando no modo negação. De repente, cercado pelas provas de que havia recomprado o relógio Rolex vendido por muambeiros de farda nos Estados Unidos, caiu em si: "Eu comprei o relógio." Temperou a realidade com as especiarias da ficção: "A decisão foi minha. Usei meus recursos. Eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos".
O doutor descobriu que trazia enterrado na alma um benemérito da pátria: "O meu objetivo quando comprei esse relógio era exatamente devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República, isso inclusive por decisão do Tribunal de Contas da União."
Perguntou-se a Wassef quem lhe pediu para realizar a recompra. Ele disse que não foi Bolsonaro. O inquérito está adornado por mensagens eletrônicas que revelam que o Rolex foi entregue pelo mecenas do ilícito ao tenente-coronel Mauro Cid, na Hípica de São Paulo. Mas Wassef jura que também não foi o ex-ajudante de ordens do capitão que lhe fez a encomenda.
Na prática, Wassef pede aos brasileiros que se finjam de idiotas pelo bem de Bolsonaro. Sem perceber, o advogado das causas perdidas virou ele próprio um cúmplice confesso de ilicitudes irrefutáveis. Tornou-se participante voluntário de uma quadrilha.
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