Leonardo Sakamoto

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Opinião

Aumento nos ônibus eliminaria ganho eleitoral de Nunes com tarifa zero

Logo após o prefeito Ricardo Nunes ter anunciado tarifa zero nos ônibus em São Paulo aos domingos e alguns feriados, decisão tomada sob críticas do governo de São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes confirmou que haverá aumento da passagem do transporte sobre trilhos de R$ 4,40 para R$ 5 a partir de 1º de janeiro de 2024. Isso empurra a prefeitura para o mesmo movimento, o que reduziria e até eliminaria os ganhos eleitorais de Nunes com a liberação das catracas aos domingos. Por enquanto, ela nega que reajustará as passagens.

O passe livre nos ônibus aos domingos tem como consequência retirar passageiros do metrô e dos trens nesse dia da semana, gente que tende a preferir andar de graça mesmo que o trajeto leve mais tempo e seja mais desconfortável. O que reduz a entrada de recursos no caixa do transporte sobre trilhos.

Com isso, a medida de Nunes provocou descontentamento no governo estadual, que não aceitou o convite para se integrar à proposta.

O governador Tarcísio de Freitas já havia deixado claro que não conseguia ver viabilidade de implementar tarifa zero na capital. "Quanto você vai subtrair de outras políticas para vir com a tarifa zero? Para mim, é algo que não se sustenta, não faz sentido e nós não vamos embarcar", disse em 24 de novembro.

Trucado por Nunes, Tarcísio gritou "seis!" para o prefeito, que tenta segurar o valor da tarifa em R$ 4,40 por mais um ano a fim de buscar a reeleição em outubro.

Se o valor aumenta no estado, as empresas de transporte municipal vão pressionar Nunes para aumentar a tarifa ou o repasse de subsídios do caixa municipal. Mas não só: se não reajustar o valor da tarifa, pode ocorrer um fluxo de passageiros migrando do transporte sobre trilhos para os coletivos sobre pneus, saturando um sistema que conta com muitas linhas já saturadas.

Um governo mais robusto compraria a briga, mas a gestão Nunes não tem essa força.

Um aumento desse porte na passagem vai ser duramente criticado. Afinal, do que adianta dar aos trabalhadores aos domingos se tira muito mais deles nos outros dias da semana? Considerando um aumento de R$ 1,20 por dia (60 centavos na ida e 60 na volta) e multiplicando por seis dias (segunda a sábado), o valor da mordida no bolso será de R$ 7,20. Certamente, a maioria preferiria economizar esse valor do que ganhar um passe livre no domingo.

Isso sem contar que o aumento não seria engolido facilmente pela sociedade. Se ocorrer, podemos, portanto, esperar protestos e manifestações do Movimento Passe Livre, entre outros. O MPL está organizando, aliás, um "Rolezinho Tarifa Zero", neste domingo (17), quando passa a valer a gratuidade. Facilmente isso pode virar um protesto. Não mais por 20 centavos, como em junho de 2013, mas por 60.

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Politicamente, isso mostra que Tarcísio não está nem um pouco preocupado com a situação eleitoral de Nunes, mas com a sua própria gestão. O que confirma que ainda não há unidade no campo da direita para o pleito paulistano de 2024.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL