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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Ursal não existe e, portanto, não armou esquema para manipular urnas

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

18/10/2018 13h54

São falsas as alegações de uma publicação no Facebook sobre supostas estratégias da Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), que sequer existe, para fraudar as eleições brasileiras. Além disso, as ações descritas no suposto plano não poderiam ser executadas em virtude da forma como as eleições no Brasil são realizadas.

O post original foi apagado, mas usuários filmaram o conteúdo. Esses vídeos viralizaram principalmente no Facebook. O narrador de uma das gravações declara que "a gente está correndo um risco tremendo".

Como o projeto Comprova demonstrou, a Ursal não existe. Trata-se de um termo escrito por uma socióloga, como ironia, em 2001, e que acabou alimentando teorias conspiratórias. O termo voltou à tona em agosto, quando o candidato derrotado Cabo Daciolo (Patriota), no debate da “Band”, pediu a Ciro Gomes (PDT) que falasse sobre o “plano Ursal”.

Apesar de a entidade não existir e, portanto, não ser organizada para atuar politicamente, o Comprova também analisou as principais afirmações do post e concluiu que elas usam informações falsas ou mesmo sem qualquer possibilidade técnica de se viabilizarem.

O post afirma que uma das estratégias da pretensa Ursal é, em locais onde o candidato Jair Bolsonaro (PSL) tem mais votos, “deixar partes do código [das urnas] com erros propositais” para que os equipamentos sejam substituídos e, consequentemente, os votos sejam anulados. Contudo, a Justiça Eleitoral informa que os softwares são desenvolvidos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e não há possibilidade de inserção de erros propositais.

Além disso, os sistemas recebem uma assinatura digital e são lacrados. Por outro lado, sempre que uma urna apresenta algum problema e precisa ser substituída há um procedimento para que os votos que ela já recebeu não sejam anulados.

Outra informação falsa diz respeito à ideia de gerar algum defeito no sistema biométrico de identificação para que os votos do eleitor não sejam contabilizados. No entanto, quando, por alguma razão, não é possível fazer a leitura da impressão digital, o mesário confere os documentos e faz a liberação da urna para que o eleitor vote. Em seguida, o fato precisa ser relatado na ata da seção. Não cabe ao mesário definir se o voto será ou não contabilizado.

Também causa desinformação a frase do post sobre o interesse em “dar fim” aos Boletins de Urna com votos significativos para “o candidato da direita”. A verdade é que, ao final da votação, a urna imprime cinco desses boletins. Eles têm informações sobre as quantidades de votos e o total de eleitores da seção. Outras vias ficam disponíveis para fiscais do partido. Apesar desse relatório “físico”, versões eletrônicas dos boletins são enviados aos Tribunais Regionais Eleitorais das unidades federativas.

O post ainda lança um boato sobre uma suposta interferência de empresa da Venezuela para “organizar e enviar” dados ao TSE, para a apuração. Esse caminho, segundo a informação falsa, seria usado para alterar os votos da urna. Não é verdade. Como o Comprova já mostrou, códigos de urnas eletrônicas nunca foram entregues para empresa venezuelana. Os votos da eleição presidencial são apurados após os dados das urnas serem enviados aos TREs que, em seguida, os remete ao TSE. A apuração dos votos não passa por atores estrangeiros.

A página que fez a primeira publicação foi apagada. O Facebook não informou a razão. O vídeo, divulgado em um perfil pessoal no Facebook no último dia 13, foi compartilhado 32 mil vezes e teve 322 mil visualizações até esta quarta-feira (17). O assunto também foi encaminhado para verificação pelo WhatsApp do Comprova (11-97795-0022).

Outros desmentidos sobre este vídeo foram feitos pelo TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) e pelo site “Boatos.org”.

Agora as peças de desinformação foram verificadas pelo “SBT”, pelo “Jornal do Commercio”, pela “Gazeta Online” e pela “Gazeta do Povo”, além do UOL e das revista “piauí” e "Nova Escola", todos integrantes do projeto Comprova.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.