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Bombeiros resgatam mais um corpo e número de mortos em desabamento no Rio chega a 15

Do UOL*, em São Paulo

27/01/2012 12h15Atualizada em 27/01/2012 21h59

Os bombeiros confirmaram que mais um corpo foi encontrado no final da tarde desta sexta-feira (27) vítima do desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro na quarta-feira (25), subindo para 15 o número de mortos. Entre eles, há sete homens e seis mulheres.

O corpo da 13ª vítima foi levado embora em meio aos escombros. “Um corpo em estado muito dilacerado saiu do local sem que nós percebêssemos e foi levado ao local destinado aos entulhos. Agora, ele está sendo encaminhado ao IML. Nós conseguimos identificar que é uma mulher por uma das mãos. O corpo não estava queimado, mas com muitos traumas, o que dificultava a identificação”, alegou o secretário da Defesa Civil, Sérgio Simões, que disse que os trabalhadores redobrarão a atenção.

Os corpos das vítimas foram encaminhados para o Instituto Médico Legal para identificação. Até o momento, foram identificados nove corpos --cinco homens e quatro mulheres: Celso Renato Braga Cabral, 44, Cornélio Ribeiro Lopes, 73, o porteiro de um dos edifícios, sua mulher, Margarida Vieira de Carvalho, 65, Nilson de Assunção Ferreira, 50, Alessandra Alves Lima, 29, Elenice Consani Quedas, 64, Flávio Porrozzi Soares, 34, Luiz Leandro de Vasconcellos (idade não definida), e Kelly da Costa Menezes, 28, que foi reconhecida por familiares, por meio de tatuagens.

As equipes de socorro, comandadas pelo Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) do Corpo de Bombeiros com o apoio da Defesa Civil e da Polícia Militar, intensificaram hoje o trabalho de busca por mais vítimas, já que ainda há cerca de 12 desaparecidos. Cães farejadores ajudam nos resgates. As dificuldades, segundo os bombeiros, são geradas principalmente pela nuvem de poeira que ainda é intensa no local.

Mesmo mantendo os trabalhos, o secretário da Defesa Civil afirmou nesta sexta-feira (27) que não trabalha mais com a possibilidade de achar sobreviventes.

Os acessos a cinco prédios da rua Treze de Maio estão totalmente bloquados --a situação só será normalizada na segunda-feira (30). A prefeitura afirma que não há "qualquer tipo de risco estrutural" para esses imóveis, mas as interdições foram determinadas por questão de prevenção.

Estado de choque

A faxineira Mariana Nascimento, 25, que é afilhada do casal Cornélio Ribeiro Lopes e Margarida Vieira de Carvalho, que morreram no desabamento, esteve hoje no local do acidente e afirmou que ficou em estado de choque quando soube da tragédia. 

Mariana já morou no edifício Liberdade --onde viviam seus padrinhos-- durante em curto período, em janeiro de 2003. Segundo ela, era possível observar rachaduras na parte externa do edifício, exatamente no vão que fica próximo ao prédio vizinho, que também desabou. “Existia uma lacuna entre os dois prédios e as rachaduras superficiais podiam ser observadas do lado de fora. O prédio vivia em obras”, relata.

Mariana conta que Cornélio era cearense e estava no Rio de Janeiro desde 1980. Ele morava no 20° andar e era zelador do prédio. Sua mulher prestava serviços em outro prédio da região.


Luto e vítimas

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), decretou luto oficial de três dias no Estado em memória das vítimas.

Todos os feridos atendidos na rede pública de saúde já receberam alta, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde.

Cinco feridos foram encaminhados ao hospital municipal Souza Aguiar. Quatro deles foram atendidos entre quarta e quinta-feira e já foram para casa: um homem que sofreu apenas escoriações leves; Alexandro Santos, 31, que estava dentro de um dos elevadores do edifício Liberdade e conseguiu ser resgatado após entrar em contato com um amigo pelo celular; um homem de 50 anos, com ferimentos na perna e lesão na córnea; e um homem de 37 anos, com dores abdominais.

A quinta vítima atendida, uma mulher de 28 anos, sofreu um corte na cabeça e passou por cirurgia no hospital. Durante a tarde ela foi transferida, com quadro estável, para a clínica particular Casa de Portugal –procurada pela reportagem, a assessoria da unidade hospitalar disse que não está autorizada pela família a dar informações sobre a vítima.

Um sexto ferido, uma mulher de 48 anos com escoriações superficiais, foi atendido no hospital Getúlio Vargas, mas já foi liberada, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.

Reforma é vista como possível causa

Questionado sobre as possíveis causas do desabamento em série, Paes afirmou ontem que ainda não é possível dar "respostas definitivas", porém descartou totalmente a hipótese de explosão por vazamento de gás. "A possibilidade de explosão é quase igual a zero, sendo o zero por minha conta", disse.

"Estamos compilando as informações fornecidas pelos profissionais que estiveram no local, e tudo será checado antes de que tenhamos uma resposta definitiva. Ninguém sabe responder ainda se foi por dano estrutural ou algo do tipo. São várias hipóteses que serão estudadas e analisadas", afirmou.

  • Imagem de 18.jan.2011 (esquerda) mostra local dos prédios (em vermelho) que desabaram no centro do Rio de Janeiro no dia 26.jan.2012 (direita)

"Não é normal que três prédios desmoronem no centro do Rio de Janeiro. Não podemos achar que isso é normal. Vamos avaliar a situação geral dos prédios do centro assim que isso tudo passar", completou o prefeito.

De acordo com Paes, a Polícia Civil já está investigando as circunstâncias do desastre. As diligências serão conduzidas pela 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá), e os mesmos investigadores que trabalharam no caso da explosão do restaurante Filé Carioca, em outubro do ano passado, vão tentar identificar as causas da tragédia de ontem.

"Trinta minutos depois do acidente, a Polícia Civil já estava lá colhendo depoimentos e investigando. Tudo será checado através do trabalho de perícia", explicou.

A suspeita mais provável, segundo os investigadores, é que houve colapso na estrutura do prédio mais alto, devido a falhas em uma reforma feita em um dos andares, onde funcionava uma empresa de informática. A desconfiança é que a reforma, que ocorria há dois meses, levou à retirada de vigas de sustentação, ameaçando a estrutura do prédio. Os dois edifícios que estavam ao lado acabaram sendo atingidos pela força da primeira queda, segundo investigações preliminares.  

Crea diz que obras eram irregulares

O presidente da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia (Crea), Luiz Antonio Cosenza, confirmou que estavam sendo realizadas obras no terceiro e no nono andar do edifício Liberdade. Já o engenheiro civil Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, consultor do Crea, afirmou ainda que as obras eram ilegais, pois não tinham autorização do conselho.

“Quando o elevador abria no terceiro andar, era possível ver as colunas do prédio sendo marteladas. Eles estavam quebrando tudo”, relembra Teresa Andrade, sócia da empresa BV Cred, correspondente do banco Votorantim, que ficava no 16º andar do prédio. Ela trabalhava no local há três anos e diz que a reforma no terceiro andar acontecia havia seis meses.

Veja o local onde desabaram os prédios no centro do Rio