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Passageiros aumentam, mas governo reduz em 20% investimentos na linha 3 do metrô de SP

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

17/05/2012 06h00Atualizada em 17/05/2012 10h03

A cada dia mais lotada, a linha 3-vermelha do metrô de São Paulo, cenário da colisão entre dois trens na manhã de ontem (16), recebeu menos investimentos do governo do Estado na comparação entre os anos de 2010 e 2011.

De acordo com dados do próprio Metrô, no total, foram investidos na linha R$ 236 milhões no ano retrasado, contra R$ 188 milhões do ano passado --o que representa uma retração de 20,4%. No mesmo período, o número de passageiros transportados saltou de 329 milhões para 336 milhões --aumento de 1,91%.

A linha 3 é o principal meio de transporte da população que vive na zona leste, região mais populosa da capital, cortada ao meio pela malha metroviária. Por conta disso, a linha é a campeã no número de passageiros transportados entre todas as linhas da capital paulista, que tem o metrô mais lotado do mundo.

Em 2011, a média de passageiros transportados na linha 3 nos dias úteis foi de 1,1 milhão por dia, o que dá oito usuários por metro quadrado --nos horários de pico, o número sobe a mais de 11. O limite de lotação, segundo o Comet --comitê que reúne os principais metrôs do mundo--, é de seis usuários por metro quadrado.

Investimentos no metrô

Linha20102011Variação
Linha 1-azulR$ 181,2 milhõesR$ 197,7 milhões9,1%
Linha 2-verdeR$ 70,9 milhõesR$ 65,9 milhões-7,1%
Linha 3-vermelhaR$ 236,2 milhõesR$ 188 milhões-21,4%
Linha 5-lilásR$ 4,2 milhõesR$ 2,6 milhões-38,1%

A redução de investimentos no metrô não atingiu somente a linha 3. Com exceção da linha 1-azul, todas as outras sofreram cortes nos investimentos entre 2010 e 2011 (veja tabela ao lado) e viram o número de passageiros aumentar no mesmo período. No total, foram investidos no metrô R$ 1,7 bilhão em 2010, contra R$ 1,2 bilhão em 2011, redução de 32%. A conta não inclui os investimentos na linha 4-amarela, administrada por uma empresa privada.

Os dados sobre os investimentos foram divulgados no relatório anual administrativo do Metrô. Para o sindicato, as falhas recorrentes nos últimos meses e o acidente de ontem são fruto da falta de investimentos no Metrô.

Em nota, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos afirmou que “em nenhum momento o governo de São Paulo deixou de investir no transporte metroferroviário”.

A secretaria diz ainda que, até 2015, serão investidos R$ 45 bilhões na compra de trens, expansão e modernização do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O governo do Estado questiona ainda a falta de repasses da União para investimentos no metrô.

Acidente

A colisão entre dois trens da linha 3-vermelha do metrô de São Paulo deixou dezenas de pessoas feridas entre as estações Carrão e Penha, na zona leste de São Paulo. Com ferimentos leves e médios, elas foram encaminhadas a hospitais da região.

No total, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que foram atendidas 103 pessoas, entre feridos e pessoas que passaram mal. De acordo com o balanço final do Samu e do Corpo de Bombeiros, 49 pessoas foram atendidas com ferimentos --a maioria tinha escoriações.

Segundo relato de usuários que estavam nos trens, houve uma “aceleração inesperada” das composições e um “forte estrondo” antes de um trem bater na traseira do outro.

Com o choque entre as composições, usuários acionaram o botão de emergência dos trens e deixaram os vagões pelas laterais. Alguns quebraram os vidros para poder sair. 

"Foi um desespero muito grande. Todo mundo estranhou o fato de o maquinista parar o metrô várias vezes e acelerar do nada", disse o usuário Ahlex Marlon. Segundo ele, o acidente fez com que todas as pessoas que estavam no último vagão caíssem no chão. O caso mais grave, segundo relato da testemunha, foi o de uma idosa que fraturou a perna e foi auxiliada pelos próprios passageiros. "Uma menina que estava sentada do meu lado acabou batendo o ombro no ferro de proteção. Ela chorava de dor."

O secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, confirmou que o acidente foi provocado por uma falha no circuito eletrônico da linha, que é responsável pelo controle da velocidade. Segundo o presidente do sindicato dos metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, o maquinista relatou que, enquanto o trem estava em movimento, o circuito emitiu um alerta de acelerar em vez de frear ao se aproximar da outra composição, que estava parada nos trilhos. O maquinista então operou o trem manualmente para freá-lo. Segundo Prazeres, toda composição do metrô conta com o sistema automático que, ao registrar a distância de 150 metros entre o próximo trem, aciona o freio --o que não aconteceu. Ainda segundo o sindicato, uma falha mecânica no sistema foi relatada horas antes da colisão entre os dois trens.

Uma comissão de segurança foi nomeada para avaliar as causas da falha que causou o choque.

O Ministério Público vai investigar o acidente, as promotorias do Consumidor e do Patrimônio Público e Social instauraram inquéritos para apurar o caso. Um promotor criminal ainda foi designado pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar as investigações da Polícia Civil sobre o acidente.

No inquérito civil da Promotoria do Consumidor, o promotor Gilberto Nonaka notificou o Metrô para que, no prazo de 15 dias, informe qual sistema era utilizado e que causou o acidente. O promotor também enviou ofício ao Instituto de Criminalística solicitando uma cópia do laudo pericial, que deve sair entre 15 e 30 dias.

A Promotoria Patrimônio Público e Social instaurou outro inquérito civil para verificar a eficiência da prestação de serviços públicos. O inquérito também vai apurar se as recomendações técnicas e os protocolos de segurança e de redução de riscos foram obedecidos.

Este foi o primeiro choque de trens com passageiros da história do metrô de São Paulo. Em 2009, um choque foi registrado em novembro quando duas composições colidiram durante a madrugada, entre as estações Ana Rosa e Vila Mariana, após o fim da operação comercial. Um funcionário ficou ferido na ocasião.