Topo

Morre engenheiro baleado após entrar em favela por engano no Rio

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

08/07/2013 09h28Atualizada em 08/07/2013 11h39

O engenheiro Gil Augusto Gomes Barbosa, baleado na cabeça no dia 8 de junho na entrada do Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, morreu na manhã de domingo (7). Segundo a polícia, Barbosa teria entrado por engano na favela quando se dirigia ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, zona norte da cidade. Ele recebeu um telefonema da ex-mulher avisando que já havia pegado um táxi, procurou um retorno e acabou entrando na Maré.

A pedido da família, a causa da morte do engenheiro não foi revelada. Ele estava internado em um hospital particular na zona oeste da capital fluminense desde o dia 15 de junho, após ter sido transferido do Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, zona norte, para onde havia sido levado quando foi baleado.

Na época do crime, dois suspeitos de terem atirado contra Barbosa se entregaram à polícia. O delegado José Pedro da Costa, titular da 21ª DP (Bonsucesso) do Rio de Janeiro, afirmou que investigaria se Jone Barbosa, 32, e Maycon Douglas Eduardo da Silva, 18, estavam assumindo a autoria do crime por outras pessoas.

"O rapaz [Maycon] que diz que atirou contou, em depoimento, que o engenheiro não teria obedecido ao sinal de parar. Ele teria ficado nervoso para sair da favela, mas sem saber por onde, acabou chegando muito perto dos traficantes, que atiraram pensando que era invasão", contou o delegado na época. "A certeza é que eles só se entregaram porque o Menor P [chefe do tráfico no Complexo da Maré] não quer acelerar o processo de pacificação e não queria que a polícia entrasse na favela para procurar o autor do tiro."

Casos semelhantes

Uma mulher de 52 anos morreu após ser baleada dentro de seu carro no município de São Vicente, litoral sul de São Paulo. Elza Gomes dos Santos viajava de Campo Grande (MS) para São Vicente orientada por um GPS, aplicativo de navegação, quando por volta das 13h do dia 31 de maio foi parar em uma favela situada no bairro de Vila Margarida, na cidade litorânea.

Para a polícia, Santos teria se perdido, já que a entrada da rodovia que leva ao bairro não é passagem nem para a praia, nem para o centro da cidade. Os policiais trabalham com a hipótese que criminosos jogaram uma bicicleta em frente do carro de Santos para que ela parasse. Contudo, Santos teria tentado fugir e acabou baleada na cabeça. A bicicleta foi encontrada embaixo do veículo e apreendida como prova.

Os bombeiros encontraram Santos ainda viva, sentada dentro do veículo. Ela foi encaminhada ao Centro de Referência de Emergência e Internação de São Vicente, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Seu carro, que não foi arrombado, tinha malas, eletrodomésticos, câmera fotográfica e uma televisão. Segundo a polícia, é possível que a mulher estivesse se mudando ou que viesse passar uma temporada no litoral paulista.

Na madrugada do dia 19 de maio, o assistente de direção da TV Globo Thomaz Cividanes, 25, dirigia um carro blindado, com placa de São Paulo, quando entrou por engano no Morro do Dezoito, no bairro de Água Santa, na zona norte do Rio, e também foi atacado a tiros por traficantes. Apesar da blindagem, ele foi ferido na perna por uma bala que conseguiu atravessar a porta.

A vítima tinha inserido no GPS do carro o endereço para onde iria: rua Jornalista Tim Lopes. No entanto, seguindo as indicações erradas do aparelho, acabou entrando na favela. Mesmo ferido, ele conseguiu dirigir até a rua Cairuçu, em Vila Valqueire, bairro próximo na zona norte, onde moradores chamaram policiais militares e bombeiros.

UPP na Maré

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), confirmou na última semana que a próxima região a receber uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) será o Complexo da Maré, após a morte de dez pessoas durante uma troca de tiros entre traficantes e policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais), entre a noite do dia 24 de junho e a manhã seguinte.

Formado por 15 comunidades com 130 mil moradores, o Complexo da Maré é dominado por duas facções de traficantes de drogas e uma milícia. Cortado pelas três principais vias expressas do Rio (avenida Brasil e Linhas Vermelha e Amarela), o conjunto de favelas é rota obrigatória para quem chega ao Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, e precisa se deslocar para o centro, a zona sul ou à Barra da Tijuca, na zona oeste.

No dia 25, após a operação do Bope, membros de ONGs que atuam na Maré revelaram que há menos de um mês a PM realizou uma reunião com representantes de todas as associações de moradores do complexo. O encontro foi em uma universidade particular, no Centro do Rio. Na ocasião, foi dito que a Maré começará a ser ocupada pelas forças de segurança em agosto, logo depois da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada entre os dias 23 e 28.