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Em entrevista, papa propõe pacto entre religiões e diz que não lhe agrada ''jovem que não protesta'

Do UOL, no Rio

28/07/2013 22h42

O papa Francisco afirmou, em entrevista exibida na edição deste domingo (28) do Fantástico, da TV Globo, que não o “jovem que não protesta não lhe agrada”. Na entrevista, o pontífice propôs ainda um pacto entre religiões para melhorar a vida das pessoas.

Questionado pelo jornalista Gerson Camarotti sobre os protestos no Brasil, o pontífice enfatizou que desconhece as causas das manifestações, mas disse que gosta de ver a juventude protestando. 

“Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia. E a utopia não é sempre ruim. Utopia é sempre olhar adiante. O jovem tem mais energia para defender suas ideias. O jovem é essencialmente um inconformista. Isso é comum a todos os jovens. Eu diria que é preciso escutar os jovens, e cuidar para que eles não sejam manipulados.”

Sobre a relação da Igreja Católica com outras religiões, o pontífice voltou a dizer que é necessário “promover a cultura do encontro”, que, para ele, é uma necessidade de todos. “É importante que todos trabalhemos pelos demais, sem egoísmo, segundo os valores da fé. Cada religião tem sua crença, sua fé”, disse.

Para Francisco, católicos, protestantes, ortodoxos, judeus, entre outras religiões, precisam se unir para ajudar a resolver os problemas do povo, como a fome e a educação precária. “Não quero saber se a educação será resolvida pelo católico, pelo protestante, pelo ortodoxo ou pelo judeu. Temos que trabalhar pelos outros. Não podemos guerrear entre nós e abandonar os outros.”

A entrevista foi concedida na tarde da última quinta-feira (25) na residência Assunção, no Sumaré, onde o pontífice ficou hospedado durante sua estada no Brasil.

Redução de católicos

Indagado sobre a redução de católicos e o crescimento de evangélicos no Brasil, Francisco afirmou que não tem conhecimento sobre a realidade do país para dar uma resposta precisa, mas levantou uma hipótese. “Para mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é a mãe. Nem eu, nem você, conhecem uma mãe por correspondência. Uma Igreja ocupada por mil coisas, que descuida da proximidade e só se preocupa com documentos, é como uma mãe que fala com seu filho por cartas. Não sei se isso aconteceu no Brasil, mas em alguns lugares da Argentina, sim.”

Veja a íntegra do último discurso do papa no Brasil

Protagonismo do dinheiro

O pontífice disse novamente que a política mundial “está muito impregnada pelo protagonismo do dinheiro”. “Quem manda hoje é o dinheiro, isso é uma política mundial”, afirmou. Segundo Francisco, a primazia do dinheiro “descarta” o que chama de dois “extremos” da população: os jovens e os idosos.

Para sustentar esse modelo, descartamos os extremos, que curiosamente são a promessa do futuro. Descartados os dois, o mundo acaba. Porque o jovem é o futuro e o idoso é quem vai transmitir a sabedoria necessária. Há uma filosofia para descartar os velhos, ‘não servem, não produzem’. Agora estamos vendo que os jovens estão sendo descartados”, disse o líder máximo da Igreja Católica, referindo-se aos altos índices de desemprego entre a juventude.Corrupção e pedofilia

Sobre os casos de corrupção e pedofilia na Cúria Romana, o papa afirmou que “na Cúria há muitos santos, cardeais santos, bispos santos, gente de Deus, que ama a Igreja”, mas “se faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce.”

O pontífice disse que em outubro irão começar as reuniões de uma comissão criada por ele para reformar a Igreja. Ele acredita que a partir da terceira reunião mudanças concretas irão começar a ocorrer.

Contato com fiéis

Francisco disse não temer o contato com as multidões, como ocorreu em vários momentos durante sua passagem pelo Brasil.

“Eu não tenho medo. Sou inconsciente, não tenho medo, sei que ninguém morre na véspera. Quando for a minha vez, que Deus permita, assim será. Antes de viajar, fui ver o papamóvel e ele estava com vidros. Se você quer fazer amigos, se comunicar, vai visitá-los em uma caixa de vidro. Não dá pra visitar um povo com esse grande coração em uma caixa de vidro. Ou tudo ou nada, ou faz a viagem como tem que ser, com comunicação humana, ou não se faz.”

Simplicidade

O pontífice falou também da necessidade de “dar testemunho de certa simplicidade, e inclusive, de pobreza”. “Nosso povo exige pobreza dos padres”, disse. “Não é um bom exemplo um padre ter um carro de último modelo, de marca.”

Quanto à escolha de morar junto com bispos e cardeais na casa Santa Marta, em Roma, Francisco diz que foi motivada para ele não se sentir sozinho. “Preciso do contato com as pessoas. Fiquei em Santa Marta por razões psiquiátricas, para não ter que ficar sofrendo.”

Francisco elogiou a recepção “muito calorosa” dos brasileiros e disse que a rivalidade com a Argentina já está superada por “termos negociado bem”. “O papa é argentino, e Deus é brasileiro.”
 

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