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Após 12 dias, manifestantes desocupam a Câmara Municipal do Rio

Manifestantes cantam e lavam as escadarias da Câmara Municipal do Rio momentos antes da desocupação - Hanrrikson de Andrade/UOL
Manifestantes cantam e lavam as escadarias da Câmara Municipal do Rio momentos antes da desocupação Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

21/08/2013 14h28Atualizada em 21/08/2013 17h49

Após 12 dias, os sete manifestantes que continuavam ocupando a Câmara Municipal do Rio de Janeiro deixaram o local às 14h20 desta quarta-feira (21), acompanhados de advogados e vereadores. A desocupação foi espontânea, sem necessidade de intervenção policial. Eles saíram amordaçados, em sinal de protesto pelo mandado de reintegração de posse determinado pelo desembargador Fernando Fernandy Fernandes, da 13ª Câmara Cível, e sob aplausos de pessoas que apoiavam do lado de fora.

"Dessa vez não houve intimidação. Mas sabíamos que se a gente não se retirasse, a força policial entraria e agiria com truculência, pois não foi estabelecido o diálogo", disse um dos manifestantes, que se identificou como Amarildo. "Não houve nenhum tipo de dano ao patrimônio público dentro da Câmara desde que começamos a ocupação. Tanto que o próprio presidente da Casa [Jorge Felippe, PMDB] assinou um documento reconhecendo que não houve depredação."

A decisão de reintegração de posse levou ao cancelamento da sessão desta quarta. O ofício foi expedido para o oficial de Justiça às 11h54. Cerca de 50 policiais militares do Batalhão de Choque chegaram a cercar a Casa no final da manhã. Segundo a decisão, a ocupação é desordenada. "Do que se depreende do atual estado das coisas, fartamente noticiado pela mídia, não se cuida de cidadãos que ingressam nas galerias do plenário, no horário reservado ao acesso público para defender sua ideologia e reivindicar seus anseios políticos e sociais, mas ocupação desordenada, prejudicando o desenvolvimento das atividades parlamentares", afirma o desembargador.

O grupo de "Amarildos" se reuniu nas escadarias da Câmara junto aos manifestantes que ocupavam a parte externa da Casa para ler uma nota divulgada mais cedo. Os jovens disseram ter recebido com "decepção" a notícia de que o desembargador Fernandy Fernandes havia deferido a ordem de reintegração de posse.

Na nota, os manifestantes que permaneciam na Câmara afirmam não acreditar que a Casa realmente pertence "ao povo". "A ocupação, nesse sentido, foi uma mínima tentativa de atuar como símbolo de uma reintegração de posse que precisa ser verdadeira: a reintegração ao povo. Com alegria, diversos movimentos de ocupação de Câmaras e outros prédios simbólicos se espalharam pelo país antes, durante e depois do nosso. Que essas ocupações não sejam permanentes, mas eternamente intermitentes, como disse um dos Amarildos daqui", diz o texto divulgado pelo grupo.

Os sete manifestantes afirmam que a luta não acabou: eles afirmam que vão permanecer ocupando as escadarias do prédio, onde cerca de 40 pessoas permanecem com barracas. "Meu coração ficou lá, formamos uma grande amizade", afirmou a dona de casa de 57 anos que ocupou a Câmara até a noite de terça-feira, quando saiu a decisão do desembargador de conceder a reintegração de posse. Ela ficou com medo de uma possível ação violenta da polícia durante a madrugada e atendeu aos apelos da filha de 26 anos para que fosse embora.

O DDH (Instituto de Defensores dos Direitos Humanos) pedirá ainda nesta quarta um habeas corpus preventivo para garantir a ocupação do lado de fora da Câmara. Segundo o advogado André Mendes, há audiência marcada com Fernandes às 14h30 na 13ª Câmara Cível, para tentar negociar a ocupação.

Os manifestantes pediram que as cerca de cem pessoas que ocupam o lado de fora do prédio não interfiram no processo de desocupação, para evitar confrontos e confusão. Um deles, no entanto, afirmou que eles permanecerão no local enquanto for possível. "As imagens de violências atrapalham nosso movimento. Não vamos agir até que a polícia seja truculenta", afirmou um dos ocupantes.

Por volta das 13h, o grupo foi reforçado por guardas municipais que seguiram em passeata da prefeitura à Cinelândia. A categoria reivindica plano de carreira, reajuste salarial e profissionalismo.

Às 16h, a passeata de professores que foi caminhando desde a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) chegou ao local. Segundo a PM, são cerca de 300 manifestantes. (Com A Tarde)

Veja imagens da ocupação dia a dia

  • 1º dia - Manifestantes ocupam o plenário da Câmara de Vereadores em protesto contra a escolha do vereador Chiquinho Brazão (PMDB) para ser presidente da CPI dos Ônibus

  • 2º dia - Cerca de 60 manifestantes que participam do protesto Fora Cabral apoiam a ocupação da Câmara

  • 3º dia - Após assembleia, apenas um grupo de nove manifestantes permanece na Câmara

  • 4º dia - O vereador e ex-prefeito Cesar Maia (DEM) é hostilizado por manifestantes, que chegaram a cuspir no carro do parlamentar na saída da Câmara

  • 5º dia - Grupo de taxistas se une aos manifestantes em frente à Câmara e estende um enorme bandeira do Brasil

  • 6º dia - Manifestantes acampam na frente da Câmara

  • 7º dia - O vereador Chiquinho Brazão abre a CPI dos Ônibus e preside a reunião que determinou as indicações das funções e a entrega de documentos

  • 8º dia - Manifestantes completam uma semana acampados na Câmara

  • 9º dia - O grupo monta uma espécie de varal com fotos dos vereadores Chiquinho Brazão (PMDB) e Professor Uóston (PMDB) com dizeres de "procura-se".

  • 10º dia - Manifestantes aproveitam o domingo para praticar ioga

  • 11º dia - "Não existe tarifa zero. Alguém sempre vai pagar", diz presidente da CPI

  • 13º dia - Os sete manifestantes que continuavam ocupando a Câmara deixam o local, acompanhados de advogados e vereadores