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"Vi na hora que Juan tomou o tiro e voou", diz 1ª testemunha em júri

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

09/09/2013 14h43Atualizada em 09/09/2013 17h11

A primeira testemunha e ser ouvida no julgamento dos policiais militares acusados pela morte de Juan de Moraes, 11, e de Igor Sousa, 17, em junho de 2011, disse que viu quando o menino foi atingido por um tiro. "Vi na hora que ele [Juan] tomou um tiro, acho que no pescoço, e ele voou para o lado esquerdo e parou na parede", disse Wanderson dos Santos, que também é uma das vítimas. O julgamento começou nesta segunda-feira (9), na 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Ele passava por um beco quando foi ultrapassado pelo garoto e seguido pelo irmão do menino, Wesley de Moraes, que também foi baleado e sobreviveu.

A testemunha disse que os tiros começaram quando eles saíam do beco. Wanderson foi atingido nas costas e perto do joelho direito. A pedido do promotor, a testemunha mostrou aos jurados as marcas dos tiros.

Ele escapou se arrastando de volta para o beco até conseguir se levantar e ir andando a um local mais distante. "Na hora que fui, mancando, não paravam de atirar. Aí eu me joguei, porque pensei que ia morrer", afirmou.

Ele disse desconhecer que a comunidade era área de tráfico e afirmou que nunca havia visto traficantes na favela.

Os quatro advogados de defesa dos réus apresentaram fotos para a testemunha durante seu depoimento. Eles questionaram o jovem sobre a posição em que ele caiu após ser baleado.

Para o promotor Sérgio Ricardo Fonseca, a defesa tenta colocar aos jurados a tese de que traficantes atiraram contra as vítimas.

A rua da 4ª Vara Criminal e o prédio tiveram a segurança reforçada por policiais militares e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) , da Polícia Civil.

Irmão de Juan sente-se preso

"Pedi para eles virem aqui hoje, é muita saudade. Estou praticamente preso. Não posso ver ninguém". Wesley de Moraes, irmão do menino Juan, está no programa de proteção às testemunhas e presta depoimento hoje. Ele e Wanderson sobreviveram aos tiros que receberam naquela noite de junho de 2011.

O jovem disse também que viu quando o irmão caiu após levar um tiro e tentou correr para socorrê-lo, mas foi atingido por um tiro na perna direita. "Não tive como [chegar perto dele]. Era muito tiro. Ficavam batendo no chão, no concreto", disse o irmão do garoto.

Quando tentou se proteger voltando para o beco, Wesley ainda levou um tiro no ombro, que atravessou seu corpo. Ele mostrou as marcas aos jurados, à pedido da promotoria.

Atraso

O julgamento dos quatro policiais militares acusados das mortes começou por volta das 13h desta segunda-feira (9), duas horas depois do horário previsto. O atraso ocorreu porque o juiz Andre Luiz Duarte Coelho esperou pela chegada do 15º jurado para poder sortear os sete integrantes do júri --quatro mulheres e três homens.

Os policiais militares Isaías Souza do Carmo, Edilberto Barros do Nascimento, Ubirani Soares e Rubens da Silva são acusados das mortes dos adolescentes e da tentativa de mais outros dois jovens.

Os policiais também são acusados de tentativas de homicídio contra Wesley Felipe Moraes da Silva, irmão de Juan, e Wanderson dos Santos de Assis e ocultação de cadáver, pois o corpo de Juan foi encontrado somente dez dias após os crimes, que ocorreram na noite de 20 de junho de 2011 na comunidade do Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Segundo a assessoria do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio), das 14 testemunhas arroladas para esta segunda-feira, serão ouvidas nove, entre elas a mãe de Juan, Rosineia, o irmão do menino e tambem vítima, Wesley, o delegado Ricardo Barbosa e um perito, entre outros.

As vítimas foram mortas em uma suposta ação do 20º batalhão da Polícia Militar na favela. Os dois sobreviventes do crime estão no programa de proteção à testemunhas da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos junto com suas famílias.

Testemunhas

Sete jurados vão avaliar as teses da acusação e defesa para decidir sobre o futuro dos acusados. Ao todo, Promotoria e defesa chamaram 35 testemunhas. A previsão é de que o julgamento dure quatro dias.