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"Estamos com medo", diz comerciário de favela com UPP onde homem foi morto

Policiais guardam a entrada do morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, zona sul do Rio, na manhã desta quinta-feira (24) - Alessandro Buzas/Futura Press
Policiais guardam a entrada do morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, zona sul do Rio, na manhã desta quinta-feira (24) Imagem: Alessandro Buzas/Futura Press

Da Agência Brasil, no Rio

24/10/2013 13h50

O comerciário Veton Monteiro, que trabalha há 25 anos em uma loja de materiais de construção no morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, afirmou nesta quinta-feira (24) que não abriu as portas de seu estabelecimento por estar com medo de novas ações do tráfico de drogas.

"A polícia está aqui agora, mas amanhã a gente não sabe o que pode acontecer. Nós comerciários do Pavão-Pavãozinho estamos com medo", disse. Um homem morreu e um ficou ferido durante a madrugada, em uma troca de tiros. Vários comerciantes da favela e das ruas de Copacabana próximas preferiram manter as portas de seus estabelecimentos fechadas por medo de novos incidentes.

A vítima fatal foi identificada como Tomaz Rodrigues, 33. De acordo com o Comando-Geral das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), ele tinha três passagens pela polícia, uma por roubo e duas por tráfico.

O ferido conseguiu fugir. O comando informou, ainda, que a polícia das UPPs entrou em confronto com traficantes da comunidade.

O comandante do 19º Batalhão de Polícia Militar, André Luiz Belloni, disse que pelo menos 20 homens reforçam na manhã de hoje o policiamento na região para garantir que o comércio funcione.

Ele disse que na madrugada os policiais do batalhão receberam informações de que estava ocorrendo uma troca de tiros na comunidade. Quando chegaram ao local, já encontraram moradores fazendo protesto na subida do morro.

UPPs

Principal bandeira do Governo do Estado na área de segurança pública desde 2008, a instalação de UPPs em comunidades dominadas pelo tráfico de drogas passou a ser alvo de críticas cada vez mais frequentes desde junho deste ano, quando teve início uma onda de manifestações que repercute até hoje na capital fluminense. Atualmente, há 34 UPPs instaladas, todas na cidade do Rio de Janeiro.

Na UPP da Rocinha, em São Conrado, zona sul da cidade, inaugurada em setembro do ano passado, a investigação sobre o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, em julho, revelou que ele foi vítima de tortura praticada por policiais da própria unidade. O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) denunciou 25 PMs pelo crime, que provocou protestos em toda a cidade. Por conta da repercussão do caso, vieram à tona outras denúncias feitas por moradores da favela ao MP envolvendo mais de 20 vítimas de tortura praticados pelos PMs da UPP.

Na última quinta-feira (17), moradores da UPP de Manguinhos, na zona norte do Rio, protestavam contra a morte de um rapaz de 18 anos na comunidade, e policais da unidade utilizaram armas de fogo durante a manifestação. Uma jovem levou um tiro na perna durante o ato. A família de Paulo Roberto Pinho de Menezes, 18, aponta os PMs da UPP como responsáveis pelo óbito do rapaz.


Um dia depois, dois PMs da UPP instalada no Complexo do Alemão foram baleados durante troca de tiros com homens suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas. Uma UPP foi instalada no local em maio de 2012, mas casos de violência ainda são frequentes na comunidade.