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Dilma diz que solução para crise na Síria não é militar e volta a pedir reforma na ONU

Dilma Rousseff discursa na abertura da 67ª Assembleia Geral da ONU, em NY, na manhã desta terça-feira - Timothy A. Clary/AFP
Dilma Rousseff discursa na abertura da 67ª Assembleia Geral da ONU, em NY, na manhã desta terça-feira Imagem: Timothy A. Clary/AFP

Do UOL, em São Paulo

25/09/2012 11h22Atualizada em 25/09/2012 14h32

A presidente Dilma Rousseff abriu a 67ª Assembleia da ONU nesta terça-feira (25), em Nova York (EUA), criticando a política econômica e reforçando seu apelo de paz entre os países que hoje são palco de conflitos, como Síria, Palestina e Israel, e alvo de terrorismo. No discurso, a presidente voltou a pedir a reforma do Conselho de Segurança da ONU.

"Não há solução militar para a crise na Síria. Diplomacia e diálogo são únicas alternativas de solução", disse a presidente ao fazer um apelo para que tanto o governo sírio quanto os opositores "deponham as armas e juntem-se aos esforços da ONU e da Liga Árabe" para solucionar o conflito que já dura 18 meses no país.  

Cerca de 20 mil pessoas já morreram devido aos conflitos entre o regime de Bashar Assad e os grupos rebeldes. Dilma disse que "a maior responsabilidade" recai sobre Damasco, mas completou: "sabemos também da responsabilidade das opções armadas, especialmente daquelas que contam com apoio militar e logístico de fora", referindo-se ao apoio de países ocidentais.

A presidente ressaltou que para o governo do Brasil é inadmissível aceitar violações de direitos humanos identificadas na Síria, como assassinatos, torturas, violência sexual e prisões indevidas. "O Brasil condena a violência que ceifa vidas. A Síria produz um drama humanitário em seu território e seus vizinhos. Recai sob o governo de Damasco as responsabilidades. Mas sabemos também das responsabilidades das oposições armadas."

Dilma lembrou que a Primavera Árabe, que começou no ano passado gerando protestos e manifestações nos países muçulmanos, é a principal motivadora das mudanças políticas, econômicas e sociais vividas no Oriente Médio e no Norte da África.

"[Essas manifestações] varreram regimes déspoticos e desencadearam processos de transição. Mas não é difícil de identificar um grito de revolta contra a pobreza, o desemprego e à falta de liberdade impostos por amplos governos autoritários", destacou a presidente.

Dilma fez uma leve crítica ao atual funcionamento da ONU com relação aos conflitos internacionais. Segundo a presidente, "a comunidade internacional tem dificuldade para lidar com as crises internacionais" e muitas vezes o uso da força é aprovado sem a autorização da instituição ou do Conselho de Segurança, "reflexo da necessidade de mudanças".

Relembre os discursos do Brasil em anos anteriores

A reforma do Conselho de Segurança da ONU é tema recorrente nos discursos dos governantes brasileiros na Assembleia Geral.

Há tempos o Brasil pleiteia uma vaga entre os cinco membros permanentes (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China). Estes países têm poder de veto no conselho, responsável por definir medidas e sanções nas principais questões globais.

Em seu discurso em 2011, a presidente Dilma Rousseff já havia abordado a crise econômica e defendeu o fim da guerra fiscal e monetária e do protecionismo.

Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocupado com as eleições presidenciais, não foi à assembleia, onde foi representado pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Ele fez um balanço da gestão petista e falou sobre o desejo do país de integrar o Conselho de Segurança.

Em 2009, Lula havia pedido maior comprometimento da ONU em questões como o crescimento da África e expressado a necessidade de reformar o conselho.

"As guerras e os conflitos regionais cada vez mais intensos demonstram a imperiosa urgência da reforma institucional da ONU e a reforma de seu Conselho de Segurança", afirmou.

Os recentes ataques às embaixadas norte-americanas após a divulgação de um filme que ridiculariza o islamismo também foram comentados pela presidente, que repudiou os atos de violência. Um dos ataques matou o embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens. 

"Repudiamos os atos de terrorismo que vitimaram diplomatas na Líbia", declarou Dilma, reiterando a rejeição do Brasil, "país com milhares de brasileiros de confissão islâmica", ao que ela chamou de "preconceito islamofóbico".

Ao falar sobre o conflito Israel-Palestina, Dilma repetiu o discurso feito na mesma assembleia, em 2011, defendendo a criação de um Estado palestino autônomo. "Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel", disse a presidente.

Dilma condenou a produção de armas de destruição em massa. Sem citar nenhum país, disse que a produção dessas armas está em curso em vários países, e que é necessário aumentar a fiscalização.

Em seu discurso, Dilma ainda falou dos resultados da Rio+20, da importância de se criar medidas para frear o aumento no número de mortes de jovens em acidentes de trânsito e da busca dos países latino-americanos pela democracia.

"Nossa região é um bom exemplo para o mundo pela superação dos regimes autoritários", disse. "Para nós, a democracia não é um patrimônio imune a assaltos. Temos sido firmes, na Unasul e no Mercosul, [em favor da] integração e democracia."

O Paraguai foi suspenso do Mercosul e da Unasul, no final de junho. Os líderes políticos da região entenderam que houve o rompimento da ordem democrática de direito no país pela forma como o então presidente paraguaio Fernando Lugo foi destituído do poder, em 22 de junho. Para os líderes, Lugo não teve tempo para se defender durante o impeachment.

Quase no fim de sua fala, a presidente citou Cuba e voltou a pedir o fim do embargo econômico à ilha. 

Sobre a economia, a presidente criticou a política monetária dos países desenvolvidos, que, segundo ela, é prejudicial às exportações dos emergentes. Dilma também rebateu as acusações de que o Brasil seria "protecionista".