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Após intervenção, exército diz que destino do Líbano está em jogo

Militares percorrem ruas de Beirute, capital do Líbano, para tentar conter conflitos - AFP
Militares percorrem ruas de Beirute, capital do Líbano, para tentar conter conflitos Imagem: AFP

Do UOL, em São Paulo

22/10/2012 09h17

O exército libanês advertiu nesta segunda-feira (22) que "o destino da nação está em jogo" e que a segurança é uma "linha vermelha", após os distúrbios desencadeados pela morte do chefe da Inteligência da Polícia, Wisan al-Hassan, em um atentado na sexta-feira (19) em Beirute.

"Pedimos aos dirigentes de todas as forças políticas que expressem suas opiniões com cuidado, porque o destino da nação está em jogo. É necessário se comprometer a manter a paz", disse o comando das Forças Armadas em comunicado.

No domingo, durante o funeral de Al-Hassan, o ex-primeiro-ministro Fouad Siniora pediu a renúncia do chefe de governo, Najib Mikati, dizendo que o líder é responsável por sua morte. Pouco depois, um grupo de jovens tentou invadir a sede do Executivo, o que desencadeou choques com as forças da ordem.

Os soldados trocaram tiros com manifestantes nesta segunda quando tentavam abrir as ruas bloqueadas no bairro de maioria sunita, Tariq Yadid, reduto do opositor Saad Hariri, cujos partidários tomaram o controle de várias avenidas durante a manhã.

O exército iniciou intervenção em algumas cidades do país na tentativa de diminuir os conflitos. Os militares revistaram moradores e prenderam alguns acusados de incentivar a rebelião.

Conflitos

Nesta segunda, homens encapuzados e fortemente armados partidários de Saad Hariri ocuparam importantes ruas e espaços públicos na região sunita da capital libanesa.

Em locais como a avenida Qasqas, Cola e Mazraa, perto do bairro de Tariq al-Jdideh, eles construíram barricadas improvisadas com pedras e ferros, bloqueando a passagem de veículos e pessoas.

A maioria da comunidade sunita apoia Saad Hariri e considera que o governo de Najib Mikati, também sunita, é controlado pelo partido xiita Hezbollah, aliado da Síria e do Irã.

No domingo, Saad Hariri convocou todos os partidários a deixar as ruas. Ele disse que aspira "derrubar o governo de forma pacífica e democrática".

Confrontos violentos se espalharam por Beirute. De acordo com a imprensa local, três pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em choques entre xiitas e sunitas neste domingo.

Bairros Trípoli, segunda maior cidade libanesa, também sofreram ataques. Várias estradas continuam fechadas com pneus incendiados.

Os colégios e universidades do norte do país não abriram suas portas nesta segunda por causa da situação da segurança.

Tensão cresce no Líbano

A tensão entre os grupos xiitas e sunitas libaneses aumentou após o atentado contra Wissam al Hassam, na última sexta, que deixou mais dois mortos e 126 feridos.

A violenta explosão foi na hora do rush na cidade. Informações iniciais apontam que oito pessoas foram mortas e mais de 70 ficaram feridas. Nenhum grupo assumiu a autoria do atentado. Este foi o maior ataque em Beirute desde 2008.

O atentado acontece num momento em que as tensões no Líbano estão crescendo por causa do conflito na Síria, palco de atentados e confrontos entre partidários e opositores do regime de Assad.

Devido ao atentado, os sunitas aumentaram a rebelião contra o governo local, que é acusado de associação com o grupo radical xiita Hizbollah. 

Primeiro-ministro ofereceu renúncia

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, disse neste sábado (20) que ofereceu sua renúncia ao presidente Michel Suleiman, e disse considerar necessária a formação de um governo de união nacional perante a crise política aberta após o ataque da véspera.

"Não estou preso ao posto e suspendi todas as decisões à espera das consultas do presidente", declarou Mikati.

A coalizão anti-Síria 14 de março, que representa a oposição libanesa, havia exigido a renúncia de Mikati, a quem responsabilizou diretamente pelo atentado. Os rebeldes também acusaram o regime de Damasco e o grupo xiita libanês Hizbollah de estarem por trás da explosão.

Funeral acabou em violência

O funeral do chefe da inteligência da polícia libanesa, o general Wissam Hassan, morto após a explosão de um carro-bomba, acabou em violência.

Milhares de pessoas se juntaram no centro de Beirute neste domingo (21) para o funeral. A polícia fez disparos para o alto e atirou bombas de gás lacrimogêneo para impedir que manifestantes entrassem na sede do gabinete do primeiro-ministro Najib Mikati.