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Megaempresário Horacio Cartes vence eleições no Paraguai e recoloca colorados no poder

Horacio Cartes, do Partido Colorado, novo presidente do Paraguai - Jorge Adorno/Reuters
Horacio Cartes, do Partido Colorado, novo presidente do Paraguai Imagem: Jorge Adorno/Reuters

Do UOL, em São Paulo

21/04/2013 20h47

O megaempresário Horacio Cartes, 56, da Associação Nacional Republicana (ANR, nome oficial do Partido Colorado), de tendência conservadora, foi eleito presidente do Paraguai nas eleições deste domingo (21). Com a vitória, os colorados, que governaram o Paraguai entre 1947 e 2008, voltam ao comando o país. O segundo lugar ficou com o Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), adversário histórico dos colorados. Cartes assume o cargo em agosto deste ano.

Efraín Alegre reconheceu a derrota na noite deste domingo. "Com a responsabilidade que nunca nos faltou, venho dizer que não foi possível obter o triunfo. O povo paraguaio se pronunciou e nós respeitamos, em um processo transparente, que nós consideramos adequado", afirmou. Mais tarde, o presidente do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE), Alberto Ramírez Zambonini, confirmou Cartes como "vencedor" das eleições.

Neófito na política, Cartes ingressou no Partido Colorado em 2009, quando a sigla vivia um momento de profunda crise por conta da derrota histórica, no ano anterior, da candidata Blanca Ovelar, que obteve 30,7% dos votos contra 40,8% do ex-bispo Fernando Lugo. Derrotados, os colorados deixaram a presidência após 60 anos consecutivos e se desapoderaram da máquina pública.

Cartes evita falar sobre sua fortuna e costuma dizer que lhe atribuem cem vezes mais o montante que tem. O colorado é dono de um conglomerado de 25 empresas --a maior parte do ramo tabagista-- e desde 2001 preside o Libertad, clube de Assunção que acumula oito títulos nacionais e 11 participações seguidas na Libertadores da América após a ascensão de Cartes ao mais alto posto da agremiação.

Tais características permitem comparar o empresário com o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi, que detém um império de empresas de telecomunicações e que atuam no ramo financeiro, além de presidir o Milan desde 1986, ininterruptamente.

O dinheiro de Cartes oxigenou o Partido Colorado e ajudou o partido a se reestruturar. Em contrapartida, o empresário conseguiu que a legenda reformasse seus estatutos para que ele pudesse disputar a presidência do país. Embora tenha adquirido adversários internos, Cartes conseguiu articular unidade entre os colorados, tirando de cena velhos quadros do partido desprestigiados.

Mas a biografia de Cartes não é feita só de fama. O empresário frequentemente tem imagem associada a ilegalidades. Na década de 80, chegou a ficar alguns meses preso por evasão de divisas. Ele era acusado de comprar dólares por valores abaixo dos regulares e negociá-los pelo valor paralelo.

Sobre o candidato colorado recaem ainda suspeitas de ligação com uma rede de lavagem de dinheiro e narcotráfico, conforme telegrama vazado pelo WikiLeaks em 2010. No Brasil, o colorado foi citado na CPI da Pirataria, em 2004, que apontou que uma de suas empresas do ramo de tabaco fazia contrabando de cigarros.

RAIO-X DO PARAGUAI

Arte/UOL
Nome oficial: República do Paraguai

Capital: Assunção

Localização: América do Sul

Superfície: 406.750 km²

População: 7.356.789

Moeda: Guarani

Idioma oficial: Espanhol e Guarani

PIB per capita: US$ 5.400

Religião: Católica (89,6%), Protestante (6,2%), outra (1,9%)

Governo: Presidencialista

Principais atividades econômicas: agricultura (grãos e sementes), comércio e geração de energia

Quando confrontando pelas acusações, Cartes as nega e afirma que nunca foi condenado pela Justiça.

O candidato também costuma dizer que é o maior pagador de impostos do Paraguai e se vangloria de quantidade de empregados que tem. "Se Deus me deu habilidades na vida empresarial, acredito ter condições para usar essas habilidades na política", disse Cartes, em entrevista à AFP.

Mercosul e outros desafios

O próximo mandatário terá como desafio reintegrar o Paraguai ao Mercosul e à Unasul, já que o país está suspenso das duas organizações desde a queda de Lugo. Nesse interim, o Mercosul conseguiu integrar a Venezuela ao bloco, o que não tinha ocorrido ainda por rejeição do Congresso paraguaio.

Outra questão a ser enfrentada é a pobreza, que atinge 49,6% dos paraguaios, segundo dados do Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), vinculado à ONU (Organização das Nações Unidas). No campo, a taxa sobe para 59,3%.

O Paraguai possui hoje o segundo pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), com 0,669 pontos, atrás apenas da Guiana (0,636). O país possui ainda uma das maiores concentrações de renda e de terra do continente, que provoca conflitos entre “carperos” --como são chamados os sem-terra-- e “brasiguaios”, imigrantes brasileiros que adquiriram terras a preços baixos nas décadas de 60 a 80 e hoje formam a elite agrária do país.

Nas relações com o Brasil, o novo presidente terá que mostrar habilidade para conduzir as negociações em torno do valor pago pela energia de Itaipu. O tratado entre os dois países prevê que cada lado utilize 50% da energia. O Paraguai só consome 5% a que tem dinheiro e vende o restante ao Brasil por US$ 8,40 o MW/h, valor ínfimo se comparado ao que o Brasil paga em leilões de energia (mais de US$ 60).

Em negociações com o governo brasileiro, Lugo conseguiu elevar o valor em 200%, o que é considerado insuficiente tanto por Cartes, como por Alegre.

Por fim, o novo mandatário terá que encontrar maneiras de tornar mais eficaz o combate ao narcotráfico e ao contrabando. O Paraguai é rota do tráfico internacional de drogas e é por onde boa parte dos entorpecentes entra no Brasil.