Topo

Quatro são mortos durante protesto em quartel onde Mursi está detido

Do UOL, em São Paulo

05/07/2013 10h29

Apoiadores do presidente deposto do Egito, Mohamed Mursi, foram baleados nesta sexta-feira (5) quando tentaram se aproximar da sede do Ministério da Defesa, onde Mursi está detido, segundo as agências de notícias.

LEIA MAIS

Saiba mais sobre Adlir Mansour, presidente interino do Egito
Exército suspende Constituição, depõe Mursi e anuncia novas eleições
Entenda a onipresente influência do exército na política do Egito
Face pública do golpe, general deve provar que se afastou de Mursi

De acordo com os relatos, pelo menos quatro pessoas morreram durante as manifestações, após soldados dispararem contra a multidão. O Exército nega a mortes e diz que as balas usadas para conter os manifestantes são de festim. 

Os manifestantes estão reunidos em torno do quartel da Guarda Republicana, para onde Mursi foi levado na manhã desta sexta-feira (5). Há também relatos de manifestações nas regiões do Cairo , Luxor e em Arish. 

Segundo relatos de internautas pelo microblog Twitter, homens da Guarda Republicana também deram tiros para o alto para disperar a multidão que grita "sylmeya" ("pacífico"). Uma testemunha diz que viu um homem ser alvejado por guardas quando tentava colocar uma foto de Mursi na cerca de arame farpado que cerca o lugar. 

A imprensa egípcia está ignorando os protestos, segundo internautas. A emissora estatal de TV noticia nesta sexta-feira (5) apenas o decreto de suspensão do Parlamento emitido pelo presidente interino, e a substituição no comando da agência de inteligência do país. As duas medidas são parte do "mapa" proposto pelas Forças Armadas para resolver a crise política no Egito.

"Sexta da recusa"

Esta sexta-feira (5) é dia dos protestos convocados pela Irmandade Muçulmana por todo o país contra o golpe de Estado do Exército que depôs Mursi e colocou em seu lugar o chefe do Supremo Tribunal Constitucional, Adly Mansur.

A principal concentração acontece na praça Rabea al Adauiya, no Cairo, onde os islamitas protagonizaram nos últimos dias manifestações para defender a legitimidade de Mursi, que foi eleito democraticamente no ano passado.

O porta-voz da Irmandade, Ahmed Aref, insistiu na quinta-feira (4) que as manifestações devem ser pacíficas e pediu às instituições do Estado garantias de segurança.

Egito em transe

  • As sucessivas crises e confrontos no Egito tem raízes mais antigas e profundas, na briga entre secularistas e islamitas e uma democracia ainda imatura. Entenda mais sobre a história recente do país

    Clique Aqui

Mursi foi transferido na manhã desta sexta para a sede do Ministério da Defesa, enquanto toda sua equipe permanece detida em um edifício militar.

Na madrugada, o Exército egípcio fez um apelo à unidade e à "reconciliação". As Forças Armadas pediram, sobretudo, que se rejeite "a vingança" para que seja possível "concretizar a reconciliação nacional", em um texto publicado na página oficial de seu porta-voz no Facebook.

Ainda segundo a nota, "as medidas excepcionais e arbitrárias contra qualquer movimento político" devem ser evitadas.

Tensão

O golpe militar no país árabe mais populoso do mundo provoca inquietação no exterior. Os Estados Unidos analisam as implicações legais na importante ajuda militar que concedem ao Egito, enquanto a União Europeia pediu a realização imediata de novas eleições presidenciais.

Sete pessoas foram mortas em confrontos com as forças de ordem em Marsa Matrouh e em Alexandria, na costa mediterrânea. Três opositores também morreram em combates contra militantes favoráveis a Mursi em Al-Minya (centro). Desde 26 de junho, 57 pessoas morreram, sendo dez na noite de quarta-feira em confrontos com as forças de segurança e nos choques entre partidários e opositores a Mursi.

O Ministério do Interior advertiu que responderá com firmeza aos distúrbios, e tanques foram mobilizados nas ruas do Cairo.

Um soldado egípcio morreu e outros dois ficaram feridos em ataques simultâneos de militantes islâmicos na manhã desta sexta-feira (5) contra postos da polícia e do Exército na região do Sinai.

Nos arredores da cidade de Al-Gura, no norte do Sinai, um ataque com foguetes e metralhadoras matou um soldado e feriu outros dois militares em um posto de controle.

Uma delegacia da polícia e um prédio da Inteligência militar também foram alvo dos militantes islâmicos na cidade de Rafah, próxima à Faixa de Gaza, revelaram fontes da segurança. (Com agências internacionais)

ENTENDA A CRISE NO EGITO


O que aconteceu?
O comandante-geral do Exército, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou na TV que a Constituição foi suspensa e que o presidente da Suprema Corte assumiria poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohammed Mursi. Com isso, Adli Mansour comanda o governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. No Twitter, Mursi chamou o pronunciamento de "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação". Soldados e carros blindados rondam locais importantes do Cairo enquanto centenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas.

O que motivou a crise?
O descontentamento começou em 2012, quando Mursi, 1º presidente democraticamente eleito do Egito, deu a si mesmo amplos poderes numa tentativa de garantir que a Assembleia Constituinte concluísse a nova Constituição. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Quando a nova Constituição, polêmica e escrita por um painel dominado por islamitas, foi aprovada às pressas, as manifestações em massa tomaram as ruas, e Mursi acionou o Exército. Mas enfrentamentos continuaram, deixando mais de 50 pessoas mortas. Diante da pressão, os militares deram um ultimato ao presidente, que tinha 48 horas para atender às demandas populares. Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito, e houve intervenção.

Qual o caminho traçado pelos militares?
Após encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, o general Sisi disse que o povo clamava por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". Ele disse que o Exército fez "grandes esforços" para conter a situação, mas o presidente não atendeu "às demandas das massas" e era hora de por "fim ao estado de tensão e divisão". Como a nova Constituição era alvo de fortes críticas, ele suspendeu-a temporariamente. O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares. Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido.
  • Fonte: BBC Brasil