Nobel da Paz, vice-presidente do Egito renuncia após massacre
Mohamed El Baradei, vice-presidente interino do Egito e prêmio Nobel da Paz, anunciou sua renúncia ao cargo nesta quarta-feira (14) após os violentos confrontos que deixaram ao menos 235 mortos e mais de 2.001 feridos no país, segundo informações do governo.
Em carta enviada ao presidente interino Adly Mansour, El Baradei falou em "derramamento de sangue".
"Para mim é dificil continuar a assumir a responsabilidade de tomar decisões com as quais não estou de acordo e cujas consequências eu temo. Não posso carregar a responsabilidade por um derramamento de sangue", escreveu.
"Como você sabe, eu acreditava que havia maneiras pacíficas de encerrar este confronto na sociedade, havia soluções propostas e aceitáveis... que nos levariam ao consenso nacional", acrescentou. "Infelizmente, quem vai ganhar com o que aconteceu hoje são os grupos extremistas que querem a violência e o terror", concluiu o Nobel da Paz.
El Baradei, um dos líderes da oposição ao presidente deposto Mohammed Mursi, foi empossado como vice-presidente no último dia 14 de julho, ficando encarregado das relações internacionais do Egito.
Os conflitos desta quarta-feira começaram após a operação policial realizada no Cairo para desmantelar os acampamentos dos seguidores do presidente deposto Mohammed Mursi, que pedem sua volta ao poder.
A situação fez com que o governo decretasse estado de emergência por um mês, com toque de recolher das 19h às 6h. O anúncio foi feito na TV estatal, e o estado de emergência começou às 16h locais (11h em Brasília). A presidência pediu ao Exército que ajude o Ministério do Interior a reforçar a segurança no país.
AÇÃO CONTRA ACAMPAMENTOS TEM ATÉ RETROESCAVADEIRAS
Manifestantes e islamitas relatam um número de vítimas ainda maior. A Irmandade Muçulmana, grupo ao qual Mursi é filiado, chegou a afirmar que a ofensiva deixou ao menos 250 mortos. Os manifestantes, por outro lado, relatam até 2.200 mortos e mais de 10 mil feridos.
Entre os mortos, está um cinegrafista da Sky News, informou o canal britânico. A filha de 17 anos de um dos principais líderes da Irmandade Muçulmana também morreu, anunciou o grupo.
No Cairo, os confrontos aconteceram em dois acampamentos erguidos desde a deposição do presidente, no dia 3 de julho.
Um deles, na praça Al Nahda, próxima à Universidade do Cairo, foi rapidamente esvaziado e o local já está sob controle total da polícia, segundo as autoridades egípcias informaram às agências de notícias.
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Na outra ocupação, montada em frente à mesquita Rabia al Adawiya, no nordeste da cidade, ainda há confronto --segundo a agência de notícias Efe, houve intenso tiroteio no local. Rajadas de metralhadora foram ouvidas, e escavadeiras avançaram sobre as áreas dos acampamentos.
"Isso é sórdido, eles estão destruindo nossas barracas. Nós não podemos respirar e muitas pessoas estão no hospital", disse Ahmed Murad à BBC.
As forças de segurança também dispararam bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes, e testemunhas relatam dezenas de corpos em um hospital de campo.
Imagens de TV ao vivo mostraram médicos usando máscaras de gás e óculos de natação enquanto tentavam tratar os feridos, ainda segundo a BBC.
A operação aconteceu após o fracasso de esforços internacionais para mediar um fim a um período de seis semanas de impasse político entre partidários de Mursi e o governo instalado pelo Exército, que tomou posse após a deposição do presidente.
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Em entrevista à BBC na segunda-feira (12), o ministro das Relações Exteriores, Nabil Fahmy, disse que os acampamentos não poderiam ficar nas ruas por tempo indeterminado e prometeu diálogo.
"Se as forças policiais tomarem suas medidas, farão isso de acordo com a lei, com mandado judicial e de acordo com as normas básicas pelas quais essas coisas são feitas", disse na ocasião.
Nenhum sinal de Mursi
Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito depois de a saída de Hosni Mubarak --que governou o país por três décadas--, foi deposto pelo Exército após protestos em massa contra seu governo.
Desde 3 de julho, ele está detido em local secreto, sem que qualquer foto ou declaração dele tenha sido divulgada.
A eleição presidencial do ano passado ocorreu após os fortes protestos populares que haviam ajudado a derrubar, no começo de 2011, o regime de Mubarak.
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