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Disputa presidencial no Chile opõe melhora na educação a finanças do governo

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

17/11/2013 06h00

Os chilenos vão às urnas neste domingo (17) e existe a possibilidade de que Michelle Bachelet, do Partido Socialista, seja eleita presidente já no primeiro turno do pleito. Bachelet, 62, governou o Chile entre 2006 e 2010 e deixou o cargo com 80% de aprovação.

Outros oito candidatos estão na disputa, mas a principal adversária da ex-presidente é a candidata da situação, Evelyn Matthei, 60, ex-ministra do Trabalho do atual presidente, Sebastián Piñera --no Chile não há reeleição. Na última pesquisa divulgada pelo Centro de Estudos Públicos (CEP), um dos mais respeitados do país, Bachelet aparece com 47% das intenções de voto, enquanto Matthei tem 14%.

“Bachelet mostrou uma capacidade de apelo eleitoral que ninguém supunha. Já Matthei não deslanchou; representa um discurso de direita muito marcado por temas conservadores. Nos últimos dias, têm até apelado para temas religiosos”, disse o historiador Alberto Aggio, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e especialista em história política latino-americana.

A vitória de Bachelet significaria um giro à esquerda no governo do Chile. A ex-presidente promete um aumento progressivo dos impostos sobre as empresas para arrecadar mais de US$ 8 bilhões (3% do PIB) e injetar o valor na educação, principal foco recente de descontentamento social no Chile --os protestos organizados pelo movimento estudantil chileno desde 2011 pedem, principalmente, educação gratuita e de qualidade.

“Bachelet está tentando dar respostas mais concretas ao movimento estudantil, embora isso sempre esbarre no problema do financiamento. Ela, que tem chance de vitória, coloca isso no centro do debate, como proposta de governo. E ela tem a plataforma realista para isso, conquistando inclusive o apoio do Partido Comunista”, afirmou Aggio.

A última vez que o Partido Comunista esteve no poder foi com Salvador Allende, há 40 anos. Entre os apoiadores de Bachelet está a candidata a deputada pelo PC Camilla Vallejo, ex-líder estudantil que ficou conhecida como musa dos protestos no Chile.

“Bachelet conseguiu o feito de não só ampliar o apelo popular que tem, como personalidade, mas de ampliar sua estratégia política, com uma ampla coalizão de centro-esquerda”, afirma o historiador Aggio, ao se referir à Nueva Mayoria, uma aliança de socialistas, democratas cristãos e comunistas.

No último debate transmitido pela TV, enquanto Bachelet defendeu "educação gratuita para todos pela desigualdade social", Matthei afirmou que “educação gratuita significa uma conta bilionária para o Estado”. Uma das principais bandeiras da candidata do governo é a criação de 600 mil postos de trabalho a partir de estímulos à economia.

OS CANDIDATOS E SUAS PROPOSTAS

Michelle Bachelet: Reforma tributária para investimento em educação, com foco na gratuidade do ensino
Evelyn Matthei: Crescimento da economia e criação de 600 mil vagas de trabalho
Franco Parisi: Defende o fim da discriminação contra as mulheres nos planos de saúde
Marco Enriquez-Ominami: Mudanças na educação e saúde, com reforma tributária mais radical que a de Bachelet
Roxana Miranda: Costureira que surgiu como candidata depois de liderar um movimento em defesa de moradia
Marcel Claude: Nacionalização da indústria do cobre para financiar a educação gratuita e as melhorias na saúde
Ricardo Israel: Estímulo ao desenvolvimento regional e combate à centralização
Alfredo Sfeir: Mudança do modelo econômico neoliberal para um que seja sustentável
Tomas Jocelyn-Holt: Aposta na renovação da política com a retirada da geração que assumiu no pós-Pinochet

Matthei assumiu a candidatura do governo há apenas quatro meses, depois que o candidato vencedor das primárias de sua chapa, o ex-ministro Pablo Longueira, renunciou em razão de problemas de saúde. “Matthei é uma mulher das elites chilenas, daquilo que foi o êxito do neoliberalismo no período pós-Pinochet. Tem uma marca conservadora muito forte, característica do Chile moderno. Mas isso está mudando no país, por isso ela não tem muito apelo”, disse o historiador.

“Ela também não tem uma bandeira governamental clara. Embora a economia chilena esteja crescendo, o governo de Piñera foi muito afetado pela crise internacional. O Chile é uma economia profundamente internacionalizada, muito mais que a brasileira”, completou Aggio.

Dos outros sete candidatos que disputam a Presidência --quantidade inédita na história eleitoral chilena--, ao menos dois conseguiram representatividade nas pesquisas e aparecem como surpresa desta eleição. O economista e professor Franco Parisi, 45, que aparece com cerca de 10% das intenções de voto, chegou a ameaçar o segundo lugar de Matthei. Parisi, que é um candidato independente, ganhou destaque há pouco tempo depois de protagonizar um programa de TV no qual explicava a economia de forma didática.

Também está na disputa o cineasta e deputado socialista Marco Enríquez-Ominami, 40, filho de um guerrilheiro de esquerda morto em combate. Apesar da surpresa que causou nas eleições de 2009 ao obter 20% dos votos, Enríquez-Ominami -- que criou seu próprio partido de esquerda, o Partido Progressista-- aparece nesta disputa com apenas 7% das intenções dos eleitores.

Os outros cinco candidatos, que não apresentaram resultados expressivos nas pesquisas, são Marcel Claude, Ricardo Israel, Roxana Miranda, Alfredo Sfeir e Tomas Jocelyn-Holt. Além de escolherem o próximo presidente, os eleitores elegerão senadores, deputados e conselheiros regionais.

Esta é a primeira eleição presidencial no Chile na qual o voto não é obrigatório, e o percentual de eleitores que de fato votarão é um enigma. Em 2012, quando o novo sistema estreou, a abstenção chegou a 60%. Para este ano, a expectativa é que entre 7 milhões e 9 milhões de eleitores --de um total de mais de 13 milhões-- compareçam às urnas.(Com agências internacionais)