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Com radicalização e decapitações, Estado Islâmico se expande e causa medo

Do UOL, em São Paulo

24/12/2014 06h00

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) conquistou regiões do norte e do centro do Iraque e da Síria, onde em junho proclamou um califado. Em resposta, os Estados Unidos e seus aliados ocidentais articularam uma ofensiva aérea para tentar conter sua expansão.

A instabilidade nos dois países facilitou o avanço dos radicais: a Síria é palco de um conflito armado há mais de três anos, enquanto o Iraque vive uma espiral de violência e disputas políticas, após a retirada das tropas americanas do país.

O ano de 2014 foi marcado pelo crescimento do EI, embora suas origens remetam a 2006, como um grupo vinculado à Al Qaeda contra a ocupação americana, sob o nome Estado Islâmico do Iraque. Na Síria, ele começou a operar dois anos depois do início do conflito em 2011 e alterou sua denominação para Estado Islâmico do Iraque e do Levante.

Mais tarde, declarou a criação de um califado, sistema político-religioso nascido no século 7 que se centra na figura do califa, considerado um sucessor do profeta Maomé.

A rápida expansão pelo território sírio fez com que as maiores facções rebeldes e a Frente al Nusra, braço da Al Qaeda na Síria e inimiga do EI, declarassem guerra ao grupo no início do ano para expulsá-lo da região.

Enquanto isso, no Iraque, o EI travava conflitos contra o Exército do país e milicianos tribais na província de Anbar (oeste), em uma tentativa de aumentar seus domínios.

No início de junho, o grupo conquistou a segunda maior cidade iraquiana, Mosul (norte), quando o Exército iraquiano se retirou sem esboçar resistência -- a chamada "grande derrubada".

A queda de Mosul foi o primeiro passo da instauração do califado dos jihadistas, em  junho, assim como a proclamação do líder do EI, Abu Bakr al Baghdadi, como o "califa de todos os muçulmanos".

Com o decorrer dos meses, os extremistas ampliaram seus "domínios" com a conquista quase total da província síria de Deir ez Zor e a tomada da região iraquiana de Sinjar.

O avanço dos jihadistas também causou a substituição do premiê iraquiano, o xiita Nouri al Maliki que, apesar de ter vencido as eleições de abril, foi forçado a renunciar para dar lugar a um novo governo, liderado pelo também xiita Haidar Abadi.

"Bombardeios seletivos"

A movimentação jihadista provocou o êxodo em massa de minorias étnicas iraquianas, como os yazidis, e comunidades cristãs, vítimas de massacres, apredejamentos, sequestros e até crucificações.

Num momento crucial, jihadistas cercaram milhares de yazidis em uma montanha no Iraque, impedindo-os de ter acesso a comida, a água e a ajuda humanitária.

Em agosto, o presidente dos EUA, Barack Obama, autorizou  bombardeios aéreos "seletivos" em áreas tomadas pelo EI  no Iraque para "proteger norte-americanos" e impedir o "genocídio" de civis no país. 

Graças aos ataques americanos, o cerco ao monte Sinjar pode ser quebrado.

Antes de decidir efetuar bombardeios na Síria, os EUA receberam apoio para criar uma coalizão antijihadista, aderida por 50 países.

Em 23 de setembro, aviões da aliança atacaram pela primeira vez o EI na Síria, com o sinal verde do seu governo local, que apoiou "qualquer esforço" contra o terrorismo.

Um dos motivos foram as decapitações de dois jornalistas norte-americanos sequestrados pelo EI na Síria James Foley e Steven Sotloff.

Foley foi o primeiro refém ocidental executado pelos extremistas, que divulgaram um vídeo na internet com sua decapitação no dia 19 de agosto. O mesmo aconteceu depois com Sotloff, no início de setembro. Seguiram-se decapitações de vários outros reféns, de diferentes nacionalidades.

Antecipando-se aos ataques, o Estado Islâmico esvaziou suas principais bases dias antes e levou combatentes à região curdo-síria de Kobani, na fronteira com a Turquia, em uma tentativa de tomar o controle da cidade.

No entanto, Kobani se mostrou um osso duro de roer para os extremistas que, após avançarem rapidamente durante as primeiras semanas, foram contidos pelos curdos, que receberam reforços de combatentes procedentes do Iraque e ajuda da coalizão internacional.

Nos últimos meses do ano, o Exército iraquiano parece ter aprendido a lidar com os jihadistas e conseguiu expulsá-los da refinaria de Biji, a maior do país, com uma produção diária de 250 mil barris de petróleo.

Mesmo assim, Baghdadi não se rendeu. Em uma gravação de áudio atribuída ao líder extremista, ele manifestou o desejo de expandir o califado pelo golfo Pérsico e pelo norte da África, onde outras organizações radicais já lhe juraram lealdade.