Confrontos deixam 8 mortos e 125 feridos na Bolívia; Evo fala em "massacre"
Resumo da notícia
- Manifestação pró-Evo foi repreendida pela polícia perto de Cochabamba
- Cerca de 125 pessoas ficaram feridas; oito chegaram mortas ao hospital
- Comissão Internacional de Direitos Humanos condenou a violência policial
Pelo menos oito pessoas morreram durante violentos confrontos entre manifestantes pró-Evo Morales e a polícia militar em Sacaba, perto de Cochabamaba, na sexta-feira (15). O protesto era contra a presidente interina do país, Jeanine Añez.
O representante da Defensoria do Povo da Bolívia em Cochabamba, Nelson Cox, relatou que os mortos são manifestantes que foram transferidos a um hospital "com ferimentos de bala", mas morreram antes de chegar às instalações. Segundo ele, as forças conjuntas de policiais e militares realizaram uma operação "desproporcional" diante da manifestação, que nos dias anteriores terminou com pessoas feridas por bala. Além disso, denunciou que as forças de segurança nos pontos de controle não deixaram passar ambulâncias que transportavam feridos.
"Tenho insistido todos os dias para que evitem mobilizações, não só não violentas, mas para evitar mobilizações. Desde domingo, assistimos a uma escalada das intervenções das forças conjuntas, da polícia e das Forças Armadas, que tiveram intervenções desproporcionais", argumentou.
Nelson Cox, afirmou à rede CNN que outras 125 pessoas ficaram feridas e 110 manifestantes foram detidos durante a manifestação, considerada a mais violenta até agora desde a renúncia e saída de Morales do país.
A polícia alegou que os agentes "foram atacados com armamento letal e armas de fogo improvisadas" entre as cidades de Cochabamba e Sacaba, e que uma viatura "recebeu impactos de armas de fogo", o que está sendo investigado. Um dos oficiais das forças conjuntas disse a canais de televisão que os manifestantes estavam utilizando "dinamite e armamento letal" que, segundo ele, nem a polícia possui.
Cox chamou a reação das forças de segurança da região de "ato de repressão". "Estamos trabalhando com a ouvidoria nacional para realizar autópsias para determinar a causa da morte e buscar justiça para essas vítimas", afirmou à Reuters na manhã de hoje.
Os apoiadores de Morales continuam agindo, bloqueando as principais vias, cortando oleodutos e lançando protestos em massa nas ruas de La Paz, El Alto e nas regiões de cultivo de coca há muito tempo leais a ele.
Embora a capital La Paz estivesse calma no sábado de manhã, os bloqueios nas rodovias provocaram pânico nas ruas, com muitos correndo para acumular mantimentos, já que os suprimentos estavam diminuindo e os preços subiram.
Os embates começaram quando um grande número de cocaleros tentava entrar na cidade por um dos acessos onde as forças da ordem instalaram controles. Os manifestantes tinham como destino final La Paz, para apoiar protestos a favor de Evo Morales, que no domingo passado renunciou ao poder e recebeu asilo do México.
Comissão de Direitos Humanos condena repressão
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou em um comunicado o "uso desproporcional da força policial e militar", enquanto confirmou os cinco mortos e destacou que havia um número indeterminado de feridos. A CIDH informou ainda que "as armas de fogo devem estar excluídas dos dispositivos utilizados pelo controle dos protestos sociais".
Evo Morales condena repressão: 'Parem o massacre'
O ex-presidente da Bolívia Evo Morales condenou nesta sexta-feira a repressão a grupos cocaleros perto de Cochabamba, ação que deixou cinco mortos, e pediu para que as Forças Armadas e a polícia "parem o massacre".
"Condeno e denuncio ao mundo que o regime golpista que tomou o poder por assalto em minha querida Bolívia reprime com balas das Forças Armadas e da polícia o povo que pede pacificação e a reposição do estado de direito", escreveu no Twitter.
Morales pediu às Forças Armadas e à polícia que "parem o massacre" porque "o uniforme das instituições da pátria não pode ser manchado com o sangue do povo". "Agora, assassinam nossos irmãos em Sacaba, Cochabamba", denunciou Morales, que está no México, após renunciar à presidência da Bolívia e aceitar o asilo oferecido pelo governo do país.
O ex-presidente ainda classificou como "ditadura" o governo da presidente interina Jeanine Áñez, citando também os opositores Carlos Mesa e Luis Fernando Camacho. "Para justificar o golpe, Mesa e Camacho nos acusaram de 'ditadura'. Agora sua 'presidenta' autoproclamada e seu gabinete de advogados defensores de violadores e repressores, massacra o povo com as Forças Armadas e a polícia como a verdadeira ditadura".
(Com informações da EFE, AFP, Agência Brasil e Reuters)
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