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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Por que a Rússia ainda não dominou nenhuma grande cidade da Ucrânia?

Soldados ucranianos fazem patrulha nas ruas ao redor da Praça da Independência, em Kiev - Aris Messinis/AFP
Soldados ucranianos fazem patrulha nas ruas ao redor da Praça da Independência, em Kiev Imagem: Aris Messinis/AFP

Saulo Pereira Guimarães

Do UOL, no Rio de Janeiro

28/02/2022 13h56Atualizada em 28/02/2022 14h48

Rússia e Ucrânia chegam, nesta segunda-feira (28), ao quinto dia de guerra sem que Kiev, a capital ucraniana, ou nenhuma outra grande cidade do país tenha sido dominada pelas tropas de Vladimir Putin. Na opinião de especialistas, erros estratégicos, pressão internacional e outros fatores ajudam a explicar o atual cenário.

"A blitzkrieg [guerra-relâmpago, tática usada pela Rússia] obriga o inimigo a se dobrar rapidamente, por conta dos ataques-surpresa. Porém, se isso não acontece, ela perde eficácia e resulta em problemas", afirma Mariana Kalil, professora de geopolítica da Escola Superior de Guerra.

Segundo Mariana, a aposta russa na estratégia falhou à medida em que as potências ocidentais se envolveram no conflito, por meio de apoio militar e sanções econômicas.

Além disso, a especialista destaca o papel de Volodimir Zelensky, presidente da Ucrânia, que, na sua opinião, soube se posicionar bem diante das circunstâncias.

"Putin calculou que haveria um equilíbrio maior entre ele e o Ocidente por conta de seu arsenal nuclear. Mas Zelensky soube usar a situação para se fortalecer como líder e estimular a resistência. O Ocidente é democrático e tende a ser anti-Putin; Zelensky soube usar isso a seu favor", afirmou Mariana.

A postura do presidente ucraniano estimulou o movimento de resistência à invasão e dificultou a conquista das cidades do país.

"A Rússia está mostrando ao mundo que eles não são tão fortes quanto pensávamos. Isso está reforçando a confiança da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]", afirmou John Spencer, veterano do Exército americano que preside o departamento de Estudos de Guerra Urbana do Instituto de Guerra Moderna da Academia Militar dos EUA, em entrevista ao Washington Post.

Desde o fim da União Soviética, houve uma expansão simultânea da Otan —liderada pelos Estados Unidos— e da União Europeia rumo aos países do Leste Europeu, o que contribuiu para o início da guerra na Ucrânia.

Ritmo de ataque caiu, diz Ucrânia

No domingo (27), as tropas russas falharam na tentativa de dominar três aeroportos nas proximidades da capital ucraniana. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram imagens de restos de tanques e blindados russos queimados com soldados mortos pelas ruas de Irpin, um subúrbio de Kiev.

"Os invasores russos diminuíram o ritmo da ofensiva", afirmou nesta segunda (28) o Estado-Maior da Ucrânia por meio de um texto publicado no Facebook. Ontem, a mesma página informava que "as tentativas de tomar as grandes cidades falharam" graças "à massiva resistência civil e militar". "O inimigo está desmoralizado e sofre muitas perdas", dizia o texto.

"Infelizmente, há mortos e feridos entre nossos camaradas", admitiu o porta-voz militar russo Igor Konashenkov em entrevista neste domingo. Porém, ele afirmou que as perdas eram bem menores do que aquelas verificadas entre os ucranianos.

Nesta segunda, delegações de Rússia e Ucrânia se reuniram em Belarus para tratar sobre o conflito na região. O encontro terminou sem acordos.

Para Mariana, manter o domínio de Kiev e outras áreas será estratégico para Zelensky caso as negociações prossigam. "Com mais regiões sob seu controle, o poder de barganha do presidente ucraniano cresce na mesa de negociações, especialmente se o Ocidente estiver envolvido no processo", diz.

Porém, ela destaca um ponto como motivo de preocupação: "Zelensky fez algo perigoso: armou uma população sem treinamento". "Isso pode tornar a construção da paz no futuro algo bem mais difícil", afirmou.

Ela também acredita que, caso a invasão tenha sido pensada pela Rússia para acontecer rapidamente, o prolongamento dos conflitos aumenta as possibilidades de danos colaterais, como a morte de civis.

"Num cenário como esse, as violações de direitos humanos tendem a crescer", diz.