Redes de terrorismo por trás de atentados em Paris surgiram há 15 anos

Elise Vincent

  • AP

    Foto sem data mostra Abdelhamid Abbaoud, mentor dos ataques de 13 de novembro que foi morto na última quarta

    Foto sem data mostra Abdelhamid Abbaoud, mentor dos ataques de 13 de novembro que foi morto na última quarta

A identificação dos franceses que emprestaram sua voz ao áudio do comunicado de reivindicação dos atentados de Paris pela organização Estado Islâmico (EI) mais uma vez obrigou os serviços antiterroristas a vasculharem arquivos antigos. Fabien Clain, 37, e seu irmão Jean-Michel, 34, estiveram entre as figuras da chamada rede de "Artigat" (departamento de Ariège), um dos primeiros casos midiatizados de candidatos à jihad no Oriente Médio. O ressurgimento deles, depois do reaparecimento de figuras antigas da chamada rede de "Buttes-Chaumont" nos atentados de janeiro, vem ilustrar a volta cada vez mais recorrente dos "pioneiros" da jihad nos ataques terroristas.

Fabien Clain e seu irmão não são os primeiros dessa geração a ressurgirem dessa maneira. Os irmãos Kouachi, assassinos do "Charlie Hebdo", Amedy Coulibaly, autor do tiroteio em Montrouge (departamento de Hauts-de-Seine) e do ataque de janeiro ao HyperCacher de Porte de Vincennes, em Paris, ou ainda Salim Benghalem, suspeito de ter sido um dos carcereiros dos jornalistas franceses na Síria entre junho de 2013 e abril de 2014, todos eles emergiram dentro da esfera islamita radical no início dos anos 2000.

O contexto no qual os irmãos Clain surgiram na região de Toulouse hoje parece pré-histórico. Na época, em 2005, Fabien foi notado por ser suspeito de ser muito ativo na organização de uma rede de recrutadores de candidatos à jihad no Iraque. A organização terrorista que fascinava então os jihadistas era a Al-Qaeda. A Síria era só um país de trânsito, uma porta de entrada para penetrar no território iraquiano onde se dava o conflito com os Estados Unidos. Já a França não era de forma alguma vista como uma terra de combates.

Viagem à Síria era feita de ônibus

A viagem para a Síria era feita, na época, a bordo de ônibus da Eurolines através de Sófia, na Bulgária, ou por avião após uma escala em Bruxelas. As conexões identificadas nos últimos dias entre as redes jihadistas francesas e belgas dentro da investigação sobre os atentados de Paris já estavam sendo formadas. Mas quem imaginava então que elas poderiam resultar nos acontecimentos dramáticos de 13 de novembro?

Além disso, a rede de Artigat escondia relativamente bem suas atividades. Ela tinha a particularidade de ter se construído em um ambiente semi-rural, no cume de uma pequena colina arborizada de Ariège. Foi lá, em uma casa improvisada, que decidiu morar Olivier Corel, 69, um pregador nunca condenado e apelidado de "o sacerdote branco". O nome verdadeiro desse sírio naturalizado francês era Abdel Ilat al-Dandashi. Foi sobretudo com esse contato que Mohamed Merah, o assassino de sete pessoas entre Toulouse e Montauban em março de 2012, incluindo três crianças judias, veio a se radicalizar. Fabien Clain era então o braço direito de Olivier Corel.

Mesmo a preparação de futuros candidatos à jihad era relativamente diferente, naquela época. O Egito costumava ser uma parada obrigatória para aprender rudimentos do árabe e da doutrina. Na época em que os irmãos Clain começaram, antes de qualquer viagem as pessoas também se preparavam fisicamente. A Al-Qaeda não tinha aperfeiçoado, como o EI, a recepção aos novos recrutas antes de enviá-los ao front. A exemplo de Cherif Kouachi, que corria em volta do parque parisiense de Buttes-Chaumont, os cúmplices de Fabien Claien em Toulouse se aqueciam bem cedo pela manhã, aprendendo as técnicas de combate com um colega que sabia caratê.

Extrema violência

A rede de Artigat também foi a incubadora de Sabri Essid, 30. Depois de ser esquecido pelo grande público, o cunhado de Mohamed Merah ressurgiu no dia 11 de março, exatamente três anos depois do massacre cometido por Merah. As agências antiterroristas o identificaram em um vídeo do EI de extrema violência, onde é possível ver um rapaz muito novo matar à queima-roupa um árabe israelense considerado como "espião do Mossad". O menino de aproximadamente dez anos de idade seria seu enteado. Sabri Essid se juntou às fileiras do EI na primavera de 2014 junto com sua mulher e filhos.

De qualquer forma, com o reaparecimento dos irmãos Clain, a rede de Artigat veio minar a predominância dos antigos protagonistas do chamado caso de "Buttes-Chaumont". Esse caso, julgado em 2008, envolvia uma rede de recrutamento de candidatos à jihad para o Iraque, que foi desmantelada em 2005. Até hoje, eram sobretudo os nomes de seus antigos líderes que monopolizavam os noticiários, entre eles Chérif Kouachi, com o ataque ao "Charlie Hebdo" em janeiro, ou ainda Boubaker el-Hakim, 32, com a reivindicação do assassinato de dois opositores políticos tunisianos (Chokri Belaid e Mohamed Brahmi) em dezembro de 2014.

Os veteranos de Buttes-Chaumont dominaram os arquivos antiterroristas, devido à sua periculosidade, mas também por suas inúmeras amizades dentro da esfera islamita radical francesa. Um mundinho com o qual poucos costumam queimar pontes, mesmo após uma pena de prisão. Foi na detenção que Salim Benghalem fez amizade com um veterano de Buttes-Chaumont, Mohamed el-Ayouni. Chérif Kouachi acabou envolvido na tentativa de fuga de um dos autores dos atentados de 1995 ao trem do RER Saint-Michel, Smain Ait Ali Belkacem, ex-membro do Grupo Islâmico Armado (GIA) argelino, um caso no qual Amedy Coulibaly havia sido condenado.

Tradutor: UOL

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