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Sete espécies de sapos minúsculos são descobertas no Brasil

Jonathan Webb

Repórter de ciência da BBC News

05/06/2015 14h50

Sete novas espécies de sapos minúsculos foram encontradas em sete montanhas diferentes no sul do Brasil.

Um estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), divulgado na publicação científica PeerJ, afirma que as descobertas foram fruto de cinco anos de pesquisas em áreas montanhosas da Mata Atlântica no Paraná e em Santa Catarina.

O clima único da região isola os picos montanhosos, onde as temperaturas são mais baixas do que nos vales. O isolamento, segundo os cientistas, permitiu a descoberta de 21 espécies conhecidas do sapo Brachycephalus - agora, são 28.

Todos eles têm cerca de um centímetro de comprimento e muitos possuem peles coloridas e venenosas, que afastam predadores.

Marcio Pie, professor da UFPR, disse que, para encontrar os animais, escalou mais montanhas do que consegue lembrar.

"É muito exaustivo. As montanhas não são tão altas - a maioria delas têm entre mil e 1.500 metros -, mas as trilhas não são bem sinalizadas", disse à BBC.

Jogo de adivinhação

De acordo com Pie, as florestas elevadas do sul possuem mais espécies diferentes por quilômetro quadrado do que a Amazônia.

Animais como os sapos Brachycephalus são particularmente sensíveis ao ambiente. Por isso, sentem o impacto até mesmo de mudanças de temperatura de uma montanha em relação a um vale. Isso faz com que a população de sapos em cada montanha se desenvolva, lentamente, em uma nova espécie.

Há restrições para o quão diferentes umas das outras estas pequenas criaturas podem ser tornar. Assim como os menores vertebrados terrestres, a maior parte da anatomia deles é otimizada para uma escala menor.

Por exemplo, eles costumam ter três dedos nas patas traseiras e dois nas dianteiras, ao invés dos cinco dedos traseiros e quatro dianteiros encontrados na maioria dos sapos.

A diferença mais óbvia entre as espécies de Bachycephalus é sua pele, que pode variar em termos de rugosidade e cor - tons mais vibrantes geralmente indicam níveis mais altos da substância química tetrodotoxina, que é venenosa.

Adivinhar como seria o aspecto de uma nova espécie se tornou um jogo para Marcio Pie e seus colegas.

"É uma experiência empolgante porque temos a expectativa de encontrar uma nova espécie em cada montanha, mas não sabemos como ela será."

"Então, enquanto planejamos a viagem, tentamos adivinhar quais serão suas características."

Ouvir sem ver

Depois de capturar espécimes suficientes - um processo que geralmente envolvia vasculhar a folhagem com as mãos - a equipe de pesquisadores fazia testes genéticos para descrever cada nova espécie.

Ele afirma, no entanto, que encontrá-las era o maior desafio. "É preciso muita prática e às vezes é muito frustrante subir a montanha por horas e voltar de mãos vazias."

Com frequência, os cientistas chegavam a ouvir os sons dos sapos muito antes de os verem, mas os animais - cujos principais predadores são cobras - não se deixam localizar facilmente.

"Dá para ouvi-los cantar e há provavelmente centenas deles, mas você não consegue pegá-los! Quando você se aproxima, (eles sentem) só pela vibração no solo e ficam em silêncio por 20 minutos ou meia hora. Aí você tem que vasculhar as folhas cuidadosamente com as mãos", relata Pie.

"A presença desses sapos em variações geográficas tão pequenas sugere que essa área tem sido bastante estável nos últimos 500 mil anos em termos de clima. Se (o clima) tivesse esquentado, o ambiente que caracteriza estas florestas provavelmente teria desaparecido e levado estas espécies à extinção. Se tivesse ficado mais frio, eles provavelmente teriam atravessado os vales e os encontraríamos juntos. Até agora, não encontramos mais que uma espécie em cada montanha."

Corrida contra o tempo

Pie e seus colegas alertam para o fato de que, para manter esta impressionante variedade de espécies, pode ser preciso criar algumas delas em cativeiro. Além disso, será necessário proteger seus habitats de outras espécies de animais e plantas invasoras, da derrubada de árvores e de outras ameaças.

Enquanto isso, o esforço para catalogar os sapos continua. A equipe já encontrou outras quatro espécies, cujos detalhes ainda não foram publicados, e mais expedições a montanhas estão planejadas.

"Estamos muito confiantes de que vamos encontrar ainda mais espécies. Há muitos outros lugares onde você tende a encontrar um clima semelhante, então os sapos provavelmente estarão lá também", afirma Pie.

Ben Tapley, chefe da equipe de herpetologia (estudo de répteis e anfíbios) do Zoológico de Londres, disse que a descoberta é notável. "A descrição de uma espécie sempre é empolgante, imagine de sete espécies."

"Os anfíbios estão sofrendo um declínio global e catastrófico e é provável que muitas espécies tenham se tornado extintas antes mesmo de terem sido descritas pela ciência. As descrições de espécies informam políticas de conservadorismo e ajudam a priorizar as ações necessárias", afirma.