Falta de linhas de transmissão atrasa operação de 34% dos parques eólicos
A energia eólica no Brasil tem hoje a capacidade de geração de 3,4 Gigawatts (GW) distribuída em 140 parques, mas 48 deles, mesmo prontos, não podem operar por falta da conexão entre a usina e a rede elétrica. As usinas paradas, localizadas nos Estados da Bahia e Rio Grande do Norte, deixam de gerar 1,2 GW, pouco mais de um terço da capacidade total. Em operação, esses parques poderiam iluminar 2 milhões de casas, diz a Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica).
No último leilão, na semana passada, foram contratados 2,3 GW de energia eólica, elevando para 4,7 GW o volume negociado em 2013. Hoje o Brasil apresenta uma matriz elétrica com 123 GW instalados, composta por 69% de hidrelétricas, 27% de termelétricas, 2% de eólicas e 1,6% de nucleares, segundo a Abeeólica.
A previsão é de que 21 dos parques no RN comecem a funcionar até maio de 2014, junto com os 17 parques localizados na Bahia. Os 10 restantes só estarão conectados a rede elétrica em 2015. Em 28 dos casos, a previsão de entrada em operação era 2012. Em 20, era setembro de 2013. Os dados são da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica ) e da Abeeólica.
De acordo com o relatório de novembro da Aneel sobre o estágio das obras dos parques, 28 das usinas que hoje estão paradas tiveram sua construção concluída em 2012, quando foi realizada a colocação das torres. No caso dos parques cuja conexão à rede elétrica está prevista para 2015, a colocação das torres teve início neste ano.
A única divergência entre os dados da Abeeólica com os apresentados pela Aneel está relacionada a entrada em operação das Usinas Asa Branca. A entidade prevê início ainda em 2014, enquanto a agência apenas em 2015. Toda rede de transmissão na região nordeste é de responsabilidade da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Procurada, a estatal não se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta matéria.
Na visão da presidente executiva da Associação, Elbia Melo, a Chesf não pode ser inteiramente responsabilizada pelo atraso. "Licenças ambientais, liberações do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], além da complexidade de engenharia para construir as linhas estão entre as causas do atraso. Estamos em um momento de aprendizado pelos quais também passam México, China e Inglaterra, agora na instalação de turbinas off-shore (no mar)."
Para evitar problemas como este, que não prejudicaram as usinas hidrelétricas, o Ministério de Minas e Energia publicou portaria em julho que prevê a responsabilização do administrador do parque eólico pelo atraso na geração de energia e pagamento de multa com o objetivo de evitar “o descompasso entre a geração e transmissão de energia elétrica”. A determinação foi válida para o leilão realizado em 18 de novembro, mas a portaria foi extinta no dia seguinte (19). A Empresa de Pesquisa Energética prevê o investimento de R$ 17,9 bilhões em projetos de expansão de energia elétrica para o período de 2013 a 2018. Caso seja aprovado, os projetos devem ser licitados em 2014.
O professor da Universidade Federal do Ceará e consultor em projetos relacionados a energia eólica Demercil Oliveira Júnior diz que a demora no início da operação gera prejuízo. O principal problema, segundo ele, é a necessidade de utilizar a energia térmica, mais cara do que energia eólica e hidroelétrica. “Além do prejuízo do parque montado sem operar, temos que pagar por uma energia mais cara. É uma conta dupla”, avalia.
A opção por termoelétricas também é mais nociva ao meio ambiente, já que elas utilizam combustível e emitem CO2, o que não ocorre nas usinas eólicas. Dados disponíveis no site da Abeeólica mostram que a implantação de parques eólicos no Brasil poupa a emissão de 3 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera por ano.
A instalação de usinas eólicas no Brasil começou em 2004, com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). O programa tinha como objetivo diminuir a parcela de responsabilidade das hidrelétricas e da variação das chuvas. No ano do lançamento do programa, o preço do quilowatt por hora gerado por uma usina eólica era superior a R$ 320 (com as correções feitas), valor quase três vezes superior ao do último leilão realizado em 13 de dezembro, quando alcançou o preço médio de R$ 119,03/MWh, em 97 projetos contratados de parques eólicos, somando 2.337,8 MW e 67% da potência total negociada. A energia eólica foi a principal modalidade contratada neste leilão.
A rápida redução de preço da energia eólica é resultado de sua maior capacidade, aponta o mestre Leonardo Damas, em dissertação de mestrado defendida em agosto desse ano. Se em 2004 a previsão de operação das usinas, na capacidade máxima, alcançava 30%, o último leilão realizado em dezembro atingiu patamares de 55%. A melhoria na tecnologia dos novos aerogeradores disponíveis no mercado nacional e a criação de uma cadeia produtiva do setor eólico no país, com incentivos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que empresas estrangeiras se instalem, também é apontada por Damas como fatores que incentivam a energia eólica.
Em 2004, as torres tinham até 50 metros, hoje chegam a 100 ou 120. A potência dos aerogeradores também aumentou e foi de 500 quilowatts para 3 megawatts. Por conta do salto tecnológico, o potencial de geração no país foi recalculado, saltando de 143 Gigawatts para 350.
Em seu trabalho, o engenheiro mecânico também faz um alerta sobre a real capacidade de geração inicialmente prevista pelos administradores dos parques. Um dos motivos para a diferença entre o que foi medido em testes antes do início da operação comercial e após, quando já estão em funcionamento, é a irregularidade da formação dos ventos e a medição feita a mais de 10 quilômetros da localização do parque.
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