Acordo histórico de emissões é celebrado pelo mundo e debochado nos EUA
O histórico acordo de emissões entre a China e os EUA retira uma barreira crucial nos esforços liderados pelas Nações Unidas para criar um pacto global para o clima. Agora, o presidente Barack Obama tem que achar uma forma de concretizá-lo no seu país.
Um acordo internacional para restringir a emissão de gases-estufa não serviria de nada sem a participação da China e dos EUA, os dois maiores produtores de emissões de carbono, e até ontem os dois países divergiam muito em várias questões.
Agora que Obama e o presidente chinês Xi Jinping concordam que as duas maiores economias do mundo têm certa responsabilidade de assumir a liderança na luta contra a mudança do clima, outros países poderiam se mostrar mais dispostos a imitar seu exemplo quando os enviados se reunirem no mês que vem em Lima para a próxima rodada de negociações organizada pela ONU.
"Este poderia ser um primeiro passo fundamental para destravar a obstrução nas negociações pela mudança do clima", disse Yvo de Boer, quem supervisionou os esforços da ONU contra o aquecimento global entre 2006 e 2010, em entrevista por telefone de Seul. "Torna-se muito mais fácil que as outras peças do quebra-cabeça se encaixem".
Pela primeira vez na história, a China estabeleceu uma meta para limitar suas emissões de carbono, e os EUA concordaram em acelerar seus próprios esforços no acordo anunciado ontem em Pequim.
Assim, Xi se afastou da Índia, do Brasil e da África do Sul, e Obama voltará aos EUA para enfrentar um Congresso hostil.
'Charada não vinculante'
"Este acordo é uma charada não vinculante", disse em um comunicado Jim Inhofe, republicano por Oklahoma e o membro com mais tempo de serviço no Comitê de Meio Ambiente e Obras Públicas do Senado. "Quando entrarmos em um novo Congresso, eu farei tudo o que puder para controlar e esclarecer as regulamentações incontroladas da Agência de Proteção Ambiental (EPA)".
Conforme o acordo, os EUA se comprometeram a reduzir as emissões de gás-estufa para entre 26 e 28 por cento abaixo dos níveis de 2005 até 2025. A atual meta dos EUA é alcançar um patamar 17 por cento inferior às emissões de 2005 até 2020.
Para tornar isso realidade, é provável que Obama contorne o Congresso e vá às agências regulatórias, previram lobbystas de empresas e grupos ecologistas. A EPA se unirá aos departamentos de Energia, Interior e Agricultura dos EUA para almejar a poluição com carbono de usinas de energia, o metano dos perfuradores de petróleo e gás natural e as emissões dos escapamentos de caminhões, trens e até aviões.
Os líderes republicanos deixaram claro que eles esperam que os esforços de Obama desacelerem a economia dos EUA.
"Este plano irrealista, que o presidente vai descarregar no seu sucessor, garantiria uma alta dos preços das empresas de energia e a perda de muitos empregos", disse Mitch McConnell de Kentucky, o líder republicano no Senado, em um comunicado.
Impacto econômico
Os efeitos econômicos potenciais têm sido um dos principais obstáculos nas negociações pelo clima na ONU. A China e outros países em desenvolvimento têm se resistido a fixar metas de poluição. Na sua perspectiva, os países mais ricos que criaram o problema deveriam agir primeiro. A Índia, o Brasil e a África do Sul pediram à ONU que considerasse o histórico de emissões de todos os países na hora de determinar com quanto cada país deveria contribuir.
Segundo o acordo de ontem, a China disse que seu total de emissões de dióxido de carbono atingiria seu pico em 2030. A medida ajuda a abordar as crescentes preocupações com a saúde da própria população do país e de empresas estrangeiras a respeito da poluição.
"Aqueles que vêm argumentando que os Estados Unidos não deveriam agir quanto ao clima porque outros países como a China não se nos unirão agora terão que procurar novos argumentos para justificar sua verdadeira meta, que é evitar estabelecer limites ao carbono", disse Alden Meyer da União de Cientistas Preocupados.
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