Topo

Combustíveis fósseis ou energia nuclear? Como limitar a mudança climática

"Se realmente estivermos falando sério a respeito de substituir os combustíveis fósseis, nós vamos precisar da energia nuclear", diz Peter Thiel - Charles Platiau/Reuters
"Se realmente estivermos falando sério a respeito de substituir os combustíveis fósseis, nós vamos precisar da energia nuclear", diz Peter Thiel Imagem: Charles Platiau/Reuters

Peter Thiel

27/11/2015 06h00

Em meados deste ano, os países do Grupo dos 7 (G7) prometeram "uma ação urgente e concreta" para limitar a mudança climática. Que ações exatamente? Os ativistas esperam por respostas na futura Conferência do Clima em Paris, que começará no domingo (29). Em vez disso, eles deveriam olhar hoje para Washington.

A ação individual mais importante que podemos tomar é degelar uma política de energia nuclear que mantém nossa tecnologia parada no tempo. Se realmente estivermos falando sério a respeito de substituir os combustíveis fósseis, nós vamos precisar da energia nuclear, de modo que a escolha é clara: podemos continuar apenas falando sobre um mundo livre de carbono, ou podemos seguir em frente e criar um.

Nós já sabemos que as atuais fontes de energia não podem sustentar o futuro no qual queremos viver. Isso é mais óbvio nos países pobres, onde bilhões sonham em viver como os americanos. A forma mais fácil de atender essa demanda por uma vida melhor é queimar mais carvão: apenas na última década, a China adicionou mais capacidade de queima de carvão do que os Estados Unidos jamais tiveram. Mas apesar de os indianos e chineses consumirem em média 30% menos eletricidade que os americanos, o ar que respiram é muito pior. Eles merecem uma terceira opção além de extrema pobreza ou céus sujos.

Nos Estados Unidos, a esquerda se preocupa mais com nossas cinco bilhões de toneladas de emissões anuais de dióxido de carbono e o que podem causar ao clima da Terra. Na direita, mesmo aqueles que descartam os efeitos ambientais dos combustíveis fósseis não podem negar sua contribuição para a volatilidade econômica. Nós vimos isso em 2008, quando uma alta histórica do preço do petróleo coincidiu com uma crise financeira histórica.

A necessidade de energia alternativa já estava clara para os investidores há uma década, o motivo para terem injetado fundos em tecnologia limpa durante o início dos anos 2000. Mas apesar do dinheiro estar lá, a tecnologia não estava: o resultado foi uma série de falências e o escândalo da Solyndra, a fabricante de painéis solares da Califórnia que faliu em 2011, após receber uma garantia federal de centenas de milhões de dólares. Geração eólica e solar somadas fornecem menos de 2% da energia mundial e não estão crescendo rápido o bastante para substituir os combustíveis fósseis.

O que é especialmente estranho a respeito do esforço fracassado em prol de energia renovável é que já tínhamos um plano prático nos anos 60 para nos tornarmos plenamente livres de carbono, sem necessidade de energia eólica e solar: energia nuclear. Mas após anos de estouros de custos, desafios técnicos e a bizarra coincidência do acidente de Three Mile Island e o lançamento em 1979 do filme de horror de Hollywood, "A Síndrome da China", aproximadamente uma centena de reatores propostos foi cancelada. Se tivéssemos continuado a construí-los, nosso sistema elétrico estaria livre de carbono há anos.

Em vez disso, seguimos no caminho inverso. Em 1984, a quase concluída usina nuclear William H. Zimmer de Ohio foi abruptamente convertida em uma usina a carvão: um microcosmo do retrocesso do país ao carbono.

O desastre de Fukushima de 2011 pareceu inicialmente confirmar velhos temores: quase 16 mil pessoas foram mortos pelo terremoto e tsunami de Tohoku. Mas ninguém no Japão morreu por radiação e, em 2013, os pesquisadores das Nações Unidas previram que "não é esperado nenhum aumento discernível de incidência de efeitos à saúde relacionados à radiação".

Os críticos apontam com frequência para o acidente de Chernobyl, na União Soviética, como um alerta ainda mais assustador contra a energia nuclear, mas aquele acidente foi resultado direto tanto de falha no projeto quanto incompetência dos operadores. Menos de 50 pessoas teriam morrido por causa de Chernobyl. Em comparação, a Associação Americana do Pulmão estima que a fumaça das usinas elétricas a carvão mata cerca de 13 mil pessoas por ano.

Apenas recentemente a ansiedade em relação ao clima passou a superar o medo nuclear. Assim como o impacto da fumaça do carvão faz os efeitos da radiação de Fukushima parecerem pequenos, a previsão é de que o aquecimento global seja bem pior do que mera poluição. O problema é tão grande que alguns ambientalistas proeminentes já declararam derrota.

Mas nem todos estão paralisados. Enquanto políticos preparam uma grande barganha de limites de emissões que futuros políticos dificilmente obedecerão, uma nova geração de cientistas nucleares americanos está produzindo projetos para reatores melhores. De forma crucial, esses novos projetos podem finalmente superar o obstáculo mais fundamental para o sucesso da energia nuclear: o alto custo. Projetos usando sal derretido, combustíveis alternativos e pequenos reatores modulares atraem interesse não apenas de acadêmicos, mas também de empreendedores e capitalistas de risco como eu, prontos a colocar dinheiro na energia nuclear.

Entretanto, nenhum desses novos projetos pode beneficiar o mundo real sem um caminho para aprovação regulatória, e as regulamentações atuais são específicas para reatores tradicionais, tornando quase impossível a comercialização dos novos.

Felizmente, nós já resolvemos esse problema antes. Em 1949, o governo federal construiu uma instalação de teste no Laboratório Nacional de Idaho para estudo e avaliação de novos projetos de reatores nucleares. Nós devemos nosso setor de energia nuclear à antevisão dessa geração do New Deal e precisamos de novo dessa abertura à inovação agora.

Neste ano, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei pedindo pela reforma de nossos laboratórios nacionais. Recentemente, a Casa Branca promoveu uma cúpula em apoio à energia nuclear. Entretanto, passados os discursos, ainda carecemos de um plano para financiar e produzir protótipos dos novos reatores que precisamos urgentemente.

Tanto o medo do governo na direita quanto o medo da tecnologia na esquerda têm atrapalhado nossa política de energia nuclear, mas nessa questão os liberais detêm o equilíbrio do poder. Falando sobre a mudança climática em 2013, o presidente Obama disse que nossos netos perguntarão se fizemos "tudo o que podíamos quanto tivemos a chance para lidar com esse problema".

Até o momento, a resposta seria não --a menos que aproveitemos este momento. Apoiar a energia nuclear com mais do que palavras é o teste de seriedade a respeito da mudança climática. Como a ida de Nixon à China, isso é algo que apenas Obama pode fazer. Se este presidente abrir o caminho para uma nova era nuclear, os cientistas americanos estarão prontos para construí-la.