Governo segura desde junho estimativa maior de desmatamento da Amazônia
Uma revisão do desmatamento da Amazônia entre 2014 e 2015 mostrou que o corte raso nas florestas da região alcançou 6.207 km², ou seja uma extensão 6,45% maior que os 5.831 km² divulgados no final do ano passado. Concluídos em maio pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), os dados estão retidos desde junho no MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), aguardando o ministro Gilberto Kassab (PSD) liberar a divulgação.
A nova avaliação para o desmatamento de 2014 a 2015 traz uma segunda má notícia. Ela reajusta também de 16% para 24% o aumento da devastação na Amazônia em comparação com o período anterior, de 2013 a 2014, que foi de 5.012 km². Além disso, o número reforça a dificuldade de manter resultados positivos já alcançados. Em 2012, o governo Dilma anunciou 4.571 km², a menor taxa anual desde o início do monitoramento em 1988.
Embora a notícia seja desfavorável para o governo Dilma Roussef (PT), uma das principais preocupações da gestão de Michel Temer (PMDB) com sua divulgação é o aumento da devastação também de 2015 a 2016. O próximo período de monitoramento, que deverá ser anunciado ainda neste ano, começou em agosto de 2015, ainda sob a gestão petista, mas incluirá também maio, junho e julho de 2016, já sob o governo interino, e em plena estação seca, que agrava ainda mais a devastação.
Risco de tendência crescente
O governo está preocupado também com o risco de uma tendência crescente da devastação neste ano desde agosto, quando começou o primeiro período anual de monitoramento dentro da atual gestão. A reportagem não conseguiu na noite desta sexta-feira (23) nenhum posicionamento do MCTIC, ao qual é subordinado o Inpe, que realiza o monitoramento dos desmatamentos, nem do MMA (Ministério do Meio Ambiente), que é responsável pelas ações de prevenção e combate ao desmatamento.
Enquanto Kassab não liberava os dados da revisão, o MMA, cujo titular é o deputado licenciado Sarney Filho (PV-MA), agendou um seminário técnico-científico em Brasília nos dia 5 e 6 de outubro para discutir a nova estimativa. No final das contas, o dado revisado e aumentado para 2014-2015 implicará um patamar de devastação mais elevado e, portanto, mais confortável para uma comparação com o período 2015-2016.
Além do monitoramento anual oficial do corte raso da floresta Amazônica pelo Inpe, em São José dos Campos (SP), também são realizadas estimativas preliminares mensais pela ONG Imazon (Instituto Homem e Meio Ambiente na Amazônia), sediada em Belém (PA). Desde março deste ano essas avaliações paralelas têm indicado aumento em relação ao ano passado não só da supressão completa da vegetação, mas também da degradação por meio da extração seletiva de madeiras e também por incêndios ocorridos anteriormente.
Devastação total acumulada
Assinada pelo engenheiro e físico teórico Leonel Perondi, que ocupou até quarta-feira (21) o cargo de diretor do Inpe, a nota técnica informa que a diferença entre as duas estimativas para 2014-2015 se deve ao uso de uma nova metodologia, que na revisão considerou 214 imagens do satélite Landsat 8, ao passo que anteriormente foram analisadas 96 imagens. Além do maior número de imagens, outra novidade foi o uso do satélite sino-brasileiro CBERS-4, mais moderno. As imagens detectam desmatamentos de áreas com mais de 6,25 hectares.
Os estados "campeões" da derrubada da floresta de 2014 a 2015 são Pará (2.153 km²), Mato Grosso (1.601 km²) e Rondônia (1.030 km²).Com base nessa revisão da mais recente estimativa anual, o desmatamento acumulado por corte raso, ou seja, a supressão completa de floresta na Amazônia brasileira em agosto de 2015 alcançou 770.414 km², uma área pouco maior que a da Bahia e equivalente a quase a metade da do estado do Amazonas.
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