Preocupado com a Amazônia? 9 fatos que você precisa saber sobre a floresta
Desde a semana passada, quando o governo federal publicou decreto que extinguia uma reserva nacional para atrair investimentos em mineração, a Amazônia tem mobilizado ambientalistas, políticas, artistas e empresários.
O decreto extinguia a Reserva Nacional de Cobre e Associados --uma área do tamanho do Espírito Santo--, e abre a área para a exploração mineral da área por iniciativa privada. Os atos foram suspensos por decisão liminar da Justiça do Distrito Federal nesta quarta (30), mas o governo vai recorrer.
A região, do tamanho da Dinamarca, é rica em ouro e tem unidades de conservação e terras indígenas no seu interior.
Ambientalistas dizem que o decreto fragiliza a preservação da floresta e das comunidades tradicionais. O governo afirma que a exploração dos minerais não afeta as unidades de conservação e que qualquer empreendimento só poderá ser feito se cumprir exigências federais rigorosas para licenciamento.
Grande em extensão, a Amazônia alimenta sonhos de empreendimentos econômicos e guarda recursos naturais incalculáveis --estoques de madeira, borracha, castanha e minérios--, bem como uma diversidade cultural acumulada pelos povos originários que vivem na região.
De olho na complexidade da região, o UOL enumerou fatos que você precisa saber sobre a Amazônia e alguns projetos de lei no Congresso que podem alterar as regras na área:
1. Gigante quase do tamanho da Austrália
Se a região amazônica fosse um país, estaria entre os maiores do planeta. Com 6,5 milhões de km² (um pouco menor do que a Austrália), a floresta se estende por nove países: Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.
No Brasil, uma lei de 1966 criou a chamada Amazônia Legal, que ocupa quase 60% do território do país (5 milhões de km²) e está presente nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
2. Amazônia perde 128 campos de futebol por hora
No Brasil, a floresta perdeu 7.989 km² de extensãoentre 2015 e 2016, segundo levantamento do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Isso significa que foram desmatados aproximadamente 128 campos de futebol por hora na região no ano passado, a maior área registrada desde 2008.
Mas não pense que a floresta vai ao chão em blocos gigantes. De acordo com o Ipam, a maior parte das áreas desmatadas têm até 30 hectares conhecidas pelos ambientalistas como “puxadinhos”, extensões ilegais de terras privadas. “Os ‘puxadinhos’ são possivelmente uma estratégia utilizada por médios e grandes proprietários de terra para driblar a fiscalização”, indica o relatório publicado em janeiro deste ano.
Proporcionalmente, o desmatamento aumentou mais nos Estados do Amazonas (54%), Acre (47%) e Pará (41%) no ano passado. Em números absolutos, os que mais desmataram foram Pará (3.025 km²), Mato Grosso (1.508 km²) e Rondônia (1.394 km²), que juntos corresponderam a 75% de todo desmatamento registrado em 2016.
3. Amazônia tem mais gado do que gente
Se o desmatamento na Amazônia cresce em ritmo acelerado, a criação de gado tem parte da culpa nesse processo. Um estudo feito pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostra que a pecuária ocupa 60% das áreas desmatadas na região.
Nos municípios da Amazônia Legal existem cerca de 80 milhões de cabeças de gado, segundo o IBGE. Isso é mais de três vezes o número de pessoas que vivem na região –25 milhões, de acordo com o Censo 2010.
“A pecuária exige baixos níveis de capital, pouco preparo para o solo e tem poucas restrições associadas a relevo e a áreas livres de troncos em florestas recentemente desmatadas. Esses fatores tornam a pecuária a atividade mais intensamente associada aos processos de desmatamento na maior parte da região”, afirma um grupo de pesquisadores da UFPA (Universidade Federal do Pará) em um artigo sobre o tema publicado na revista científica Nova Economia.
4. Maior bacia hidrográfica do mundo já sofreu com a seca
O rio Amazonas, que lança ao mar cerca de 175 milhões de litros de água por segundo, e os 1.100 afluentes da região amazônica fazem dessa a maior bacia hidrográfica do mundo. A quantidade de rios e a umidade característica da região, no entanto, não tem sido suficiente para afastar a ameaça da seca.
As registradas em 2005 e 2010 bateram recordes na região, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, quando o volume dos rios baixou drasticamente e as populações ribeirinhas ficaram ilhadas e sem sustento. Para os cientistas, esses fenômenos podem ficar ainda mais frequentes por conta do impacto do desmatamento, principal agente causador de outra grande seca, a de 2016.
5. Plantas e animais na lista de ameaçados de extinção
Gigante na extensão territorial e na oferta de água, a Amazônia é o maior bioma do Brasil e um dos mais importantes berços da biodiversidade no mundo. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, na região são encontradas 2.500 espécies de árvores (ou um terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul).
A floresta também abriga cerca de 3.000 espécies de peixes e 950 tipos de pássaros, sem contar a o grande número de insetos, répteis, anfíbios e mamíferos, nem todos identificados e catalogados pelos cientistas. De acordo com o Ibama, no entanto, ao menos 40 espécies de animais que vivem na Amazônia brasileira estão ameaçadas de extinção, entre eles o peixe-boi-da-Amazônia.
Uma pesquisa publicada na revista científica “Science Advances” em 2015 mostra que metade das espécies de plantas amazônicas podem estar ameaçadas de extinção.
6. Área abriga 306 mil indígenas e cerca de cem povos isolados
A floresta Amazônica abriga uma grande riqueza cultural. Acredita-se que antes dos europeus chegarem havia cerca de 8 milhões de pessoas na região, especialmente perto das margens de rios como o Amazonas e o Tapajós. Hoje, porém, o número é bem menor: 306 mil indígenas, segundo dados do IBGE.
Tikuna (AM), Makuxi (RR), Yanomami (AM e RR), Mundurukú (PA), Santaré-mawé (AM e PA), Múra (AM) e Baré (AM) estão entre as etnias mais populosas da região. Atualmente, são faladas cerca de 240 línguas, entre elas Tupi, Aruaque, Tukano, Jê, Karib e Pano.
Por outro lado, a Funai (Fundação Nacional do Índio) já identificou 107 povos indígenas que vivem isolados na Amazônia Legal, como o grupo fotografado no Acre no fim do ano passado.
Esses povos são pouco conhecidos e mantêm-se isolados mesmo diante do avanço das fronteiras agrícolas e do crescimento das cidades. Com a crise orçamentária, no entanto, a Funai fechou ao menos cinco das 19 bases de proteção a esses índios.
7. Projeto de lei pretende reduzir floresta no Pará
Diversos projetos de lei tramitam no Congresso para mudar leis ambientais e unidades de conservação da região. Entre elas, o projeto de lei nº 8.107,enviado pelo presidente Michel Temer ao Congresso neste ano e que tem o apoio dos ruralistas. O projeto pode reduzir em até 1 milhão de hectares a Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará.
Segundo o texto, não haveria mais restrições a atividades rurais e à mineração, e aqueles que ocuparam a região ilegalmente poderiam obter o título das terras.
8. Floresta tem fundo de R$ 2,8 bilhões
Criado em 2008, o Fundo Amazônia reúne doações dos governos da Noruega e da Alemanha e da Petrobras. O fundo já recebeu R$ 2,8 bilhões em doações, sendo R$ 2,7 bilhões, quase todo o dinheiro, vindos da Noruega, grande produtor de petróleo e que investe em projetos ambientais em outros países para tentar compensar o volume de gases que libera.
O dinheiro é gerenciado pelo BNDES, que destina recursos para projetos de prevenção, monitoramento e controle do desmatamento na Amazônia. Como já dito, esse esforço não parece estar sendo suficiente, já que a derrubada de árvores aumentou no ano passado.
Diante dos resultados ruins, a Noruega anunciou neste ano um corte de 50% nos repasses que faria para fundo. Alemanha, que doou R$ 60 milhões até agora, pode fazer o mesmo.
9. Região amazônica lidera conflitos no campo
Só nos cinco primeiros meses deste ano, o Brasil registrou 37 mortes no campo, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra). Dessas, nove pessoas foram assassinadas em uma chacina na zona rural de Colniza (MT) em abril e dez durante a operação policial em Pau D'Arco, no sudoeste do Pará em maio.
Em 2016, 61 pessoas foram assassinadas no campo no Brasil. Rondônia, que é um dos líderes de desmatamento, registrou 21 mortes. “Na Amazônia se concentraram 57% das ocorrências de conflito e 54% das famílias envolvidas em conflitos por terra. Como a região abriga só 12% da população brasileira, pode-se ter uma noção da intensidade dos conflitos que lá ocorrem”, destaca um relatório do CPT.
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