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Bolsonaro quer diplomatas em voo pela Amazônia: 'Não verão nada queimando'

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

22/10/2020 12h59Atualizada em 22/10/2020 13h51

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje que vai organizar um sobrevoo pela região amazônica com diplomatas estrangeiros. A ideia, de acordo com o governante, seria mostrar à comunidade internacional a narrativa sustentada pelo governo: a de que não há focos de incêndio e desmatamento na floresta brasileira.

O voo se daria de Manaus e Boa Vista e reuniria representantes da diplomacia de "outros países". O presidente não especificou quais nações seriam convidadas. O governo Bolsonaro tem sido alvo de críticas em virtude das queimadas na Amazônia e no Pantanal, principalmente por parte de países da Europa.

"Naquela curta viagem de uma hora e meia, [os diplomatas] não verão em nossa floresta amazônica nada queimando ou sequer um hectare de selva devastada", disse. A declaração ocorreu durante solenidade no Palácio do Itamaraty —o evento teve aglomeração e pessoas circulando sem máscara.

A cerimônia foi organizada em comemoração ao Dia do Diplomata (22 de outubro) e também marcou a formatura de novos diplomatas que concluíram o curso do Instituto Rio Branco. "Não é fácil levar e falar a verdade, mas confiamos em vocês. Temos que lutar por aquilo que é nosso", disse ele aos formandos.

"Não podemos nos deixar vencer pela falsa narrativa. O mundo sempre esteve em guerra, nem que seja apenas comunicações. Não é fácil estar do lado da verdade. Mas a verdade me trouxe até aqui. E a verdade libertará o nosso país, e os senhores são instrumentos disso."

"Precisamos cada vez mais que os senhores mostrem ao mundo que o Brasil está fazendo o que é certo, reformando a nossa economia, cortando gastos, fazendo reformas. Combatendo a corrupção pelo exemplo."

Queimadas na Amazônia

Segundos dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados no começo de outubro, as queimadas na Amazônia aumentaram 13% nos primeiros nove meses do ano em comparação com o mesmo período de 2019. Os dados revelam que a floresta vive a sua pior fase de incêndios em uma década. Em setembro, foram registrados 32.017 focos na maior floresta tropical do mundo, um aumento de 61% em relação mesmo mês do ano anterior.

Em agosto do ano passado, o fogo na Amazônia foi objeto de repercussão mundial e gerou reação de líderes mundiais, como o presidente francês Emmanuel Macron. Recentemente, o tema também foi abordado no debate entre os dois concorrentes à eleição americana, Donald Trump (republicanos) e Joe Biden (democratas). Biden propôs um esforço mundial para fornecer 20 bilhões de dólares para parar com o desmatamento da Amazônia e, sem especificar, ameaçou o Brasil com "consequências econômicas significativas" se o país não parar a devastação da floresta.

Economia

Bolsonaro também fez comentários sobre a economia do país e chegou a citar nominalmente o ministro Paulo Guedes.

"Estamos simplificando impostos. Nosso país, Paulo Guedes, não aumentou impostos durante a pandemia e não aumentará também quando ela nos deixar."

A questão tributária é um tema delicado ao governo. O ministério defende que seja instituído um novo imposto sobre transações financeiras em ambiente digital —proposta que tem sido rotulada como o retorno da extinta CPMF. A medida é antipopular e sofre forte resistência dentro do Congresso Nacional.

Em discurso, Bolsonaro disse ainda "suportar" o que jornalistas "escrevem, mostram e divulgam" e que, "apesar de tudo", nunca houve "qualquer retaliação".

"Preservamos a liberdade de imprensa. Imprensa brasileira, em nenhum momento vocês ouviram desse presidente algo parecido com controle social da mídia. Apesar de tudo, nós suportamos o que vocês escrevem, mostram e divulgam. Sem qualquer retaliação da nossa parte."