Em 7 anos de Alckmin, roubos sobem e homicídios caem em SP
Luís Adorno
Do UOL, em São Paulo
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Claudinei Ligieri/Futura Press/Folhapress
Geraldo Alckmin ao lado do secretário da Segurança, Mágino Barbosa Alves Filho
Próximo de deixar o cargo para concorrer à Presidência da República, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), apresentou bons e maus resultados na área da segurança pública durante sua última gestão à frente Estado, que teve início em 2011. Principal pré-candidato dentro de seu partido, o tucano precisa deixar o comando do Estado até o começo de abril para poder disputar o Planalto.
Segurança e saúde, os gargalos que mais preocupam a população, segundo pesquisa Datafolha de dezembro de 2017, devem ser utilizados por Alckmin, segundo cientistas políticos, como elementos para tentar gerar empatia da maioria dos eleitores em outubro.
Na segurança, de acordo com o plano de governo de 2014, que o ajudou a ser reeleito governador no primeiro turno, um dos principais desafios de Alckmin era combater os roubos no Estado.
O tucano utilizou como principal bandeira na campanha de 2014 o sistema de inteligência Detecta, que funciona a partir de câmeras espalhadas pelo Estado. O sistema gerou custo aproximado de R$ 30 milhões aos cofres públicos do Estado. No entanto, policiais que trabalham com o sistema criticaram à reportagem a eficiência da tecnologia.
Segundo dados divulgados nesta quarta-feira (24) pelo secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, foram registrados 303,9 mil roubos no Estado em 2017. Em 2011, o índice foi de 235,5 mil. Ou seja, em sete anos, o aumento foi de 29%.
De acordo com Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um erro na implementação do programa que "é muito comum na gestão pública": "preocupa-se com a mais avançada tecnologia e esquece-se de que são humanos atrás dos computadores que precisam ser adequadamente capacitados para que elas produzam os resultados esperados."
No entanto, 2017 apresentou uma queda nos roubos de 7% quando comparado com o ano anterior.
Além dos roubos, a gestão Alckmin teve aumento de 6,6% no número de denúncias de estupros. Para o secretário Mágino Alves, a alta está relacionada às campanhas que pedem para que as vítimas denunciem. Houve também um acréscimo de 2,7% no número de vítimas de latrocínios (roubo seguido de morte).
Homicídios registram queda de 20%
Por outro lado, Alckmin termina seus sete anos de governo com uma expressiva redução no número de de homicídios no Estado. Em 2011, foram 4.403 mortes. Em 2012, o índice subiu para 5.209. De lá para cá, só caiu, chegando a 3.503 em 2017. Ou seja, entre 2011 e 2017, uma queda de 20,4%.
Segundo o secretário da Segurança, "vidas foram poupadas" graças às polícias e políticas públicas estaduais. "Esse número é muito significativo, que impressiona se nós compararmos com o restante do país e com algumas cidades de grande importância no cenário mundial", afirmou.
Ainda sob a gestão Alckmin, houve queda de 14,4% no roubo de veículos em São Paulo e de 4,7% no registro de furtos no Estado.
"Eu acho que o trabalho da polícia de São Paulo é muito eficiente sempre. Em todas as suas áreas de atuação", afirmou o secretário da Segurança. "Sem sombra de dúvida, as nossas polícias são a melhor força de segurança de todo o país", complementou Mágino Alves.
Para o bem ou para o mal, dados não são só fruto do governo
Segundo o professor de Gestão Pública da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, o crime de roubo tem questões multifatoriais, mas que englobam, principalmente a situação econômica e a falta de investimento do governo com as polícias Civil e Militar.
"No caso dos roubos, existe a questão da economia, que é muito sensível a variações de seguro econômico. Mas o que melhor explica o aumento no número de roubos é a dificuldade que a Polícia Civil tem tido de poder desbaratar quadrilhas. Durante o governo Alckmin, São Paulo teve uma redução no número de policiais --fundamentalmente, na Polícia Civil, que foi sucateada, mas também na Polícia Militar-- e isso acaba afetando", afirma.
No início do mês, o governador anunciou reajuste de 4% aos policiais do Estado. No entanto, o aumento não foi visto com bons olhos pelos trabalhadores. "O desprezo que o governo tem com o policial e a família do policial faz com que ele se sinta mais desmotivado para trabalhar. Ele precisa sair da polícia e não ficar focado apenas no seu trabalho policial. Ele tem que realizar bicos", complementa Alcadipani.
Já sobre os homicídios, ele pontuou que "tem que ser destacado que a redução de homicídio é muito positivo dentro de um país em que o homicídio só tem aumentado. Ser capaz de ter essa redução é extremamente louvável".
No entanto, ele pondera que a redução não é fruto apenas do trabalho do governo. "Existem questões que apontam a eficiência do Estado na redução do homicídio, mas há fatos demográficos. A prevalência de uma única facção criminosa no Estado... Não é só o PCC [Primeiro Comando da Capital] que explica a redução de homicídios, mas o PCC é um fator que é importante nessa redução de homicídios", analisa.
Para a pesquisadora Samira Bueno, "o que é pior para o governo é que os roubos têm forte conexão com a sensação de insegurança da população". Segundo ela, mesmo com a redução dos homicídios, o aumento dos crimes contra o patrimônio "pode ser um problemão para a campanha do Alckmin".
"O problema é que sabemos muito pouco sobre a investigação de crimes contra o patrimônio e não temos informações sobre o quanto a polícia esclarece desses crimes, e tampouco temos polícias que trabalham de forma integrada", avaliou a diretora do Fórum.
Para Vera Chaia, professora de ciências políticas da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), a queda no número de homicídios do maior Estado do país será usada na campanha eleitoral. No entanto, segundo ela, é necessário um olhar crítico nessa questão.
"Os índices são positivos em alguns pontos, mas houve um aumento de mortes pelos atores políticos, que é a polícia, por exemplo. Se não houve homicídio generalizado, houve da polícia. Essas mortes devem ser contabilizadas", avalia.
Ainda de acordo com a professora, um gargalo extremamente presente no Estado é a existência do PCC. "Continuam agindo. [O Estado] não tem controle sobre isso. Não se fala sobre isso. Desde as ações do PCC, em 2006, é um tabu falar sobre as organizações criminosas aqui", diz.
Secretaria da Segurança enaltece quedas de índices
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) se posicionou informando que, diferentemente da análise comparativa entre quando Alckmin assumiu e 2017, o cenário com realidade mais equivalente é entre os anos de 2016 e 2017.
A partir disso, a pasta informou que foi possível constatar queda de 4,65% no número de vítimas de homicídio doloso, 6,37% na quantidade de vítimas de latrocínio, 5,99% nos roubos em geral e de 13,07% nos roubos de veículos.
"Com as variações dos indicadores de mortes intencionais, as taxas também diminuíram. Assim, em 2017, houve 7,54 casos e 8,02 vítimas de homicídios a cada 100 mil habitantes do Estado de São Paulo. Ambos os índices são os menores desde o início da série histórica, iniciada em 2001. É também a menor taxa do Brasil", informou a secretaria.
Sobre os casos de estupro, a SSP disse que o Estado "é pioneiro no aprimoramento de políticas de segurança no combate à violência sexual e de gênero", com 133 DDM (Delegacias de Defesa da Mulher) – o que representa 35,8% de todas as DDMs do país.
A SSP reafirma ser de extrema importância o registro pela vítima do boletim de ocorrência para que o crime seja investigado e os autores punidos.
"É importante ressaltar que as polícias trabalham diuturnamente para combater o crime, tanto que essa atuação [das polícias] resultou em 190.680 prisões, realizadas ao longo de 2017. O total é 1,02% superior ao registrado no ano anterior", finalizou a pasta.
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