Para Cid, irritação de Ciro em MG não afeta campanha; aliados veem armação

Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

Após o presidenciável Ciro Gomes (PDT) se irritar diante de uma plateia de prefeitos em Belo Horizonte e deixar o palco sob vaias nesta terça-feira (19), aliados rejeitaram que a situação demonstre destempero do pré-candidato e sugeriram que houve uma armação contra ele.

Coordenador de campanha de Ciro, o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PDT) avaliou que a reação do irmão de reclamar ao microfone do tempo disponível para responder as perguntas foi "razoável". "Eu, sinceramente, não vi nada demais. Sempre que me dizem isso [de Ciro falar demais], eu fico preocupado. Sabe que o frio no estômago não deu?", afirmou ao UOL, querendo dizer não ter se preocupado com a situação.

No Congresso Mineiro de Municípios, em Belo Horizonte, Ciro considerou pouco o tempo de cinco minutos de fala e de três minutos para resposta concedidos no evento e perdeu a cabeça quando foi interrompido após a primeira pergunta.

A segunda questão, feita em seguida, era semelhante, e ele se indignou, pois foi interrompido anteriormente ao falar sobre o mesmo assunto. Segundo Ciro, ele não foi avisado de que teria somente cinco minutos para falar de temas importantes como tributos e federalismo.

Diante da explicação de que teria mais cinco minutos para as considerações finais, Ciro apenas emendou "muito obrigado a todos". E saiu vaiado.

Com agenda em São Paulo, Cid disse não ter visto o vídeo exibido ao vivo pelas redes sociais de Ciro. Ao ser questionado pelo UOL, fez uma defesa do irmão. "Cinco minutos é muito pouco tempo para falar de coisas sérias. Se for para falar do jogo do Brasil, cinco minutos dá, mas não de coisas sérias", afirmou.

Cid reforçou o argumento do presidenciável de que é preciso evitar as simplificações dos temas. "Você não pode simplificar problemas. Resposta fácil para problemas complexos é demagogia". No evento, Ciro fez comentário parecido: "Falar coisa séria por cinco minutos. Vocês acham delicado isso? Eu não sou demagogo. A conversa fiada é solução pra qualquer tipo de problema."

A campanha de Ciro afirmou que o evento foi "desorganizado" e que para o presidenciável, "as questões do Brasil são muito graves e complexas para serem tratadas em cinco minutos".

Questionado pela reportagem se Ciro não poderia "morrer pela boca" como na eleição presidencial de 2002, Cid rejeitou que a "franqueza" possa atrapalhar os planos do irmão. "Eu acho que cada vez mais o povo brasileiro quer franqueza, quer sinceridade. O Ciro tem essas duas características absolutamente inerentes da personalidade dele", afirmou. Segundo ele, há quem veja a postura de Ciro como "virtude".

"Circo armado"

Para o deputado federal Mário Henringer (PDT-MG), as perguntas repetidas no congresso são fruto de uma armação de militantes de adversários de Ciro. "Alguém é palhaço para ficar respondendo o tempo todo. A ideia é irritar o Ciro. Ele virou um cara tão importante nessa disputa, está tão forte, que estão organizando coisas para irritá-lo", avaliou.

Apesar de não ter presenciado o evento, o deputado alegou que há uma tentativa de rotular Ciro como alguém "esquentado". "Eu prefiro um presidente estopim curto, do que um presidente ladrão ou incompetente", opinou.

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e também coordenador da campanha junto com Cid, afirmou que há "muito circo armado". "Não sei se teve provocação, mas há muita coisa sendo feita para instigar", disse. Segundo ele, a vaia contra o pré-candidato não afeta o curso da campanha.

Cid reforça crítica contra Holiday

Um dia antes da vaia em Minas Gerais, Ciro foi questionado por uma crítica ao vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM). "Imagina, esse Fernando Holiday aqui. O capitãozinho do mato, porque é a pior coisa que tem é um negro que é usado pelo preconceito para estigmatizar, que era o capitão do mato do passado", declarou em entrevista à rádio Jovem Pan na segunda (18). Holiday é negro, crítico de ações afirmativas como cotas raciais e não havia sido mencionado na entrevista.

Para Cid Gomes, o pré-candidato não deveria amenizar as palavras contra o vereador. "Joaquim Silvério dos Reis e Judas existiram e sempre existirão. Farsas têm que ser denunciadas", endossou.

Heringer avaliou que Ciro Gomes não fez um ataque gratuito, mas respondia a provocação de Holiday nas redes sociais. Ao chamá-lo de despreparado, o deputado federal disse que o vereador paulistano atua sem se atentar à história brasileira. "É um capitão do mato, sim. Ele não está fazendo referência histórica", alegou. Lupi reforçou o agravo: "Esse vereador é um negro racista."

Em vídeo divulgado nas redes sociais, o vereador demista disse que racismo é crime "não importa de onde ele venha, da direita ou da esquerda" e prometeu processar Ciro por injúria racial. "Agora é na Justiça! Holiday processará civil e criminalmente Ciro Gomes por injúria racial!", afirmou em um meme publicado na página do político. 

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