Sem acreditar em Lula candidato, PCdoB quer unir a esquerda para o 1º turno

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

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    Lideranças do PT tiveram uma reunião com o PCdoB na última quinta-feira (19)

    Lideranças do PT tiveram uma reunião com o PCdoB na última quinta-feira (19)

Há pelo menos cinco fatores que fazem o PCdoB tentar unir os partidos de esquerda, principalmente o PDT, do presidenciável Ciro Gomes, e o PT, de Luiz Inácio Lula da Silva, tendo em vista a eleição de outubro. Vendo a direita em torno do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e o centro, do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), o partido enxerga a esquerda pulverizada.

Dos motivos apresentados pelo partido ao longo de três dias de reuniões, entre sexta-feira (20) e domingo (22), o mais forte é o fator Lula. O PCdoB, aliado histórico do PT em pleitos há três décadas, indicou não acreditar que Lula conseguirá ser candidato. O partido apoiou os petistas em todas as eleições presidenciais desde a redemocratização.

Neste ano, o PCdoB tem o nome da deputada estadual Manuela D'Ávila (RS), mas indica que poderia abrir mão em prol da união entre PT, PDT e PSB para a disputa presidencial. Em comunicado emitido no final do ciclo de reuniões, no domingo, o PCdoB disse querer "a unidade, já no primeiro turno, para vencer as eleições". Para o comitê central do partido, a estratégia política "deve ter por centro a vitória eleitoral em outubro". "O que exige marcharem unidos desde já".

Mas, para que isso aconteça, o partido indicou ao longo das reuniões ao menos seis itens que precisariam ser superados. Se não houver alterações, a tendência principal do partido é manter a pré-candidatura de Manuela. "Porque a dispersão das nossas forças prevalece e nós, com a pré-candidatura, podemos influenciar naquilo que nós defendemos".

1 - 'Lula não é o candidato'

Na sexta-feira (20), a presidente nacional do PCdoB, a deputada federal Luciana Santos (PE), disse acreditar que a esquerda tem "muita chance de ganhar" a eleição. "Mas temos que ter uma compreensão dos partidos políticos, principalmente do PT por motivos óbvios". Ela se referia à situação de Lula, que, em função de sua condenação em segunda instância, atualmente, está inelegível.

"O que ocorre? Uma coisa é você ter Lula. Lula candidato presidente da República não dá para ninguém, é todo mundo se juntar e a gente ia 'simbora' fazer o bom debate", lembrou. "Mas acontece que não é Lula o candidato. Será um candidato do PT. Então é mais fácil para as forças desse conluio que deu o golpe".

Para Luciana, a resposta mais contundente que a esquerda "pode dar à injustiça de Lula estar preso e a esse estado de coisas é vencer as eleições".

'Lula não é o candidato', diz presidente do PCdoB

2 - Tática de risco

Em mais de uma oportunidade, a líder do PCdoB disse ser arriscada a estratégia dos petistas de manterem a candidatura de Lula tendo em vista a possibilidade de ela ser barrada pela Justiça Eleitoral e o partido ficar de fora da eleição. "Nós achamos que é uma tática que o PT está utilizando de altíssimo risco", disse.

O PT tem sustentado que irá levar a candidatura de Lula até as últimas consequências. Consultores do partido apontaram que é possível tentar reverter a inelegibilidade de Lula até depois da eleição, antes da diplomação dos eleitos, em dezembro.

3 - Pulverização de votos de Lula

A presidente do PCdoB avalia que o PT precisaria entender que uma eleição sem Lula como candidato é diferente. "Não é Lula que vai ser enfrentado. É o PT que vai ser enfrentado", comentou. "Enfrentar Lula é uma coisa, mas enfrentar o PT não é, assim, enfrentar Lula".

Os cenários sem o ex-presidente também foram comentados pela deputada. "Quando você tira Lula da cena, não quer dizer que os votos vão para o candidato do PT. Há uma transferência, por óbvio, mas ela não é automática. Ela é diluída", disse. Luciana indicou que os votos de Lula têm ido para atores diversos, como a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).

Na última pesquisa Datafolha, divulgada em 10 de junho, em cenário em que Lula não está e ele é substituído pelo ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), Bolsonaro tem 19% das intenções de voto, Marina, 15%, Ciro, 10% e Manuela, 2%. Haddad fica com 1%.

Já no último levantamento do Ibope, de 26 de junho, Bolsonaro registrou 17% das intenções de voto, Marina, 13%, Ciro, 8%, Haddad, 2% e Manuela, 1%.

4 - Isolamento

Luciana pontuou que as alianças para a eleição deste ano precisam ser fechadas até 5 de agosto, quando se encerra o prazo para realização de convenções partidárias. "O que é que está se desenhando, camaradas? Infelizmente, o isolamento", disse a integrantes do PCdoB. "Por enquanto, o que se tem é um isolamento por parte do PT. Um isolamento de Ciro".

Atualmente, a presidente enxerga o partido no "centro do tabuleiro". "Para onde o PCdoB for, vai ajudar a consolidar um caminho ou outro".

Em sua avaliação, as pré-candidaturas de Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) saem na frente em função de um ser o candidato das reformas e o outro, de Temer, sendo que os dois contariam com ajuda da "máquina do governo".

5 - Conquista do centro

As alianças já acertadas por Alckmin com o 'centrão' fazem com que o tucano possa ter força para desconstruir a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), acredita a presidente do PCdoB. "Eles podem virar alternativa sem Lula no páreo e com essa dispersão das nossas forças".

Com candidaturas espalhadas na esquerda, Luciana acredita em dificuldades se não houver união entre os partidos desse espectro político. "Esse que é o nosso impasse. Nós temos partidos pulverizados. Não conseguimos fazer as alianças e disputar setores do centro".

Para ela, teria sido positivo se Ciro tivesse conseguido conquistar o centrão porque isso "iria dividir a direita". "Isso que ia colocar outras condicionantes para a disputa eleitoral. Então, camaradas, o cenário é muito adverso para nós".

6 - Projeto de país

Em crítica ao PT e ao PDT, partidos que têm cobiçado o PCdoB por aliança na disputa presidencial, Luciana indicou estar vendo mais projetos partidários, não de país. "Para nós, é preciso que eles estejam abaixo do projeto nacional. Não pode um projeto partidário ficar acima de um projeto de país e de Brasil", comentou.

"Infelizmente, nesses atores, isso é o que tem prevalecido. Nos atores principais dessa disputa, o que tem prevalecido é isso, camaradas, infelizmente", disse a presidente a membros do PCdoB. "Dependendo dessas peças, quando elas se mexerem, a gente vai poder ver qual o melhor cenário, se vai ser mais ou menos favorável para a gente ganhar as eleições pela quinta vez consecutiva".

Uma definição do partido precisa acontecer até 1º de agosto, quando será realizada a convenção nacional do PCdoB, em Brasília.

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