Gleisi contraria Haddad e defende indulto, mas diz respeitar opção de Lula

Luiz Alberto Gomes e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, disse não ver "problema nenhum" em uma eventual concessão pelo presidente de indulto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tirando-o da prisão. A declaração, feita em entrevista ao UOL, aconteceu após o candidato do partido ao Planalto, Fernando Haddad, ter afirmado que, caso eleito, não vai tirar Lula da prisão. 

A reportagem questionou a senadora se o assunto já era um tema apaziguado dentro do partido. Gleisi, então, afirmou que o "indulto é uma previsão constitucional". "Eu não veria problema nenhum em o presidente eleito dar indulto ao presidente Lula. Isso aí é absolutamente normal. Mas nós vamos respeitar a decisão do presidente [Lula]. Se ele não quer, nós vamos aceitar. Mas não haveria problema nenhum em fazê-lo", diz ela.

Lula está preso na Polícia Federal em Curitiba desde abril em razão de sua condenação no processo do tríplex. Gleisi, porém, acredita que ele "tem que ser colocado em liberdade o mais cedo possível".

Ela voltou a indicar que Lula seria alvo de perseguição e citou a situação de outros políticos, como o ex-governador paranaense Beto Richa (PSDB), que foi preso durante investigação e solto na mesma semana, sem considerar que, no caso de Richa, a prisão não é fruto de condenação após segunda instância. "Por que o Lula está preso? Para não ser candidato a presidente, para não governar de novo esse país. É uma sacanagem isso. Então, eu não veria problema nenhum [no indulto]".

Queremos o eleitorado de Lula, diz Gleisi sobre o 1º turno

PT não quer tirar votos de Ciro, diz Gleisi

Gleisi acredita ser possível ampliar a transferência de votos entre Lula e Haddad e projeta um cenário em que Haddad termina o primeiro turno da eleição na liderança. "A meta é a gente ter esse eleitorado que era do Lula junto com a gente no primeiro turno", disse Gleisi, que também é candidata a deputada federal pelo Paraná.

A presidente do PT concedeu entrevista ao UOL no início da noite de segunda-feira (24) na sede do diretório do PT, em São Paulo, cerca de uma hora antes de o Ibope divulgar uma nova pesquisa presidencial, em que se apontou um avanço de Haddad de 19% para 22% e a estagnação do atual líder, Jair Bolsonaro (PSL), em 28%.

Nós queremos terminar a transição, a transferência dos votos do presidente Lula para o Haddad. Ainda tem muito voto a ser transferido

Gleisi Hoffmann, presidente do PT 

Para ela, o objetivo no momento é "fortalecer a candidatura do Haddad, ligando-o sempre ao presidente Lula, e falando com a nossa base social". Nas últimas pesquisas em que teve seu nome testado, Lula aparecia com 37% das intenções de voto no Ibope e 39% no Datafolha --Bolsonaro tinha 18% e 19%, respectivamente.

Gleisi diz que o PT não está atrás dos votos de Ciro Gomes (PDT)principal adversário de Haddad na disputa por votos na esquerda. Na última pesquisa, o concorrente apareceu estacionado com 11%. "Os votos que o PT quer são os do povo brasileiro que estavam com o Lula", comentou, ressaltando que a "transição [de votos] ainda não terminou".

"Nós temos muita gente que migrou para o branco e o nulo, que ainda está observando o cenário. Teve uma migração forte para o Fernando Haddad, é verdade, tanto que ele cresceu bastante se olhar a curva da pesquisa. Mas tem uma parte considerável que foi para o branco e nulo e está observando", disse Gleisi.

Apesar dos resultados das pesquisas, a presidente do partido prefere não dar como certa a presença de Haddad no segundo turno. "Não nos cabe de maneira nenhuma achar que já estamos lá. Nós vamos trabalhar muito, nós temos duas semanas [de campanha]. Temos muito eleitorado do presidente Lula para conversar".

Haddad assumiu a candidatura do PT em 11 de setembro, depois de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter barrado Lula em razão da Lei da Ficha Limpa. O ex-presidente foi condenado por órgão colegiado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que o tornou inelegível. Mesmo com essa condição, Lula, que está preso, foi registrado como candidato do PT e pediu votos.

Gleisi: Seria 'sacanagem' querer que Haddad fosse Lula

"Sacanagem"

Gleisi refuta a ideia de que o PT estaria fazendo o eleitor votar em alguém que ele não conhece. Em viagens recentes, eleitores demonstravam desconhecimento a respeito de Haddad, não sabendo citar seu nome corretamente, por exemplo.

Para Gleisi, oferecer o nome do ex-prefeito de São Paulo foi uma responsabilidade "com o destino do país". "Nós estamos apresentando o substituto do presidente Lula. Obviamente que o prazo que nós temos é curto, o prazo para o eleitorado conhecer, mas o nosso candidato era o Lula até a Justiça retirar. Para que a gente não deixe de ser responsável com o destino do país, com a população brasileira, nós apresentamos o Haddad", disse. A senadora ressalta o histórico de Haddad, "que tem qualidades muito grandes, como gestor público, que já foi ministro da Educação, prefeito de São Paulo, formação, visão política".

Apesar do slogan petista reforçar que "Haddad é Lula", para Gleisi, é uma "sacanagem" a tentativa de igualar o candidato e o ex-presidente. "O Haddad tem a personalidade dele, a história dele. A gente tem que respeitar muito isso."

O Haddad é o Haddad. O Haddad não é o Lula. O Haddad representa o Lula. Seria uma sacanagem aqui querer que um seja o outro. Isso não vai acontecer

Gleisi Hoffmann, presidente do PT

Depois de construir um discurso inicial de que "eleição sem Lula é fraude", a presidente diz que o partido vai respeitar o resultado do pleito. Ela ainda cutucou o seu principal adversário hoje na disputa, mas sem mencionar seu nome. Bolsonaro fez declarações sobre a hipótese de fraude eleitoral em caso de derrota.

"Mas por que seria questionado [o resultado da eleição]? Acho que esses atores têm que falar por que seria questionado. É muito ruim isso. Então, se o resultado é para ser questionado, talvez esses atores não tenham nem que participar, se é esse o pressuposto", comentou Gleisi.

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