Ex-PM que testemunhou atentado ao Riocentro diz sofrer ameaças
Em depoimento à CNV (Comissão Nacional da Verdade), na manhã desta terça-feira (29), o ex-policial militar Mauro Cesar Pimentel afirmou que viu dois militares dentro do veículo modelo Puma que explodiu no Riocentro, em 1981. O depoimento foi realizado no dia em que a CNV apresentou um relatório preliminar do caso Riocentro, intitulado: “Terrorismo de Estado Contra a População Brasileira”. Por conta do depoimento, Pimentel afirma sofrer ameaças.
Pimentel disse se recordar que as janelas do Puma estavam abertas, e ele conseguiu ver o interior do carro. “Me aproximei porque o Puma era o modelo dos meus sonhos. Gostava muito do estilo do carro”, disse.
“Vi o homem que estava sentado no carona, manuseando um cilindro, do tamanho de um extintor de incêndio. Na parte de trás do carro, havia mais dois cilindros”, afirmou Pimentel, que hoje é corretor de imóveis. Segundo ele, quando chegou perto do veículo, os dois homens o intimidaram, mandando ir embora com xingamentos e palavrões: “Vai embora daqui, seu m...”, disse.
Logo depois que se afastou do carro, Pimentel disse que houve a explosão. “Eu estava há uns 15 metros e distância e me joguei no chão. Quando fui ver o que tinha acontecido, vi um homem estrebuchando – essa é a palavra. Tentei ajudar, socorrer. Na carteira dele, vi que era capitão. E fui buscar ajuda. Quando voltei, já havia vários militares em volta do carro”, disse. O homem ferido era o capitão Wilson Machado.
Pimentel afirmou que a explosão foi provocada pelos militares. “Ninguém lançou granada no carro, que estava parado, com os dois homens dentro”, afirmou.
“Ele [Wilson Machado] teve a cara de pau de dizer em depoimento que foi o motor do carro que explodiu”, afirmou o ex-PM, que disse que gostaria de passar por uma acareação com Machado, que hoje é coronel.
“Eu olharia nos olhos dele e diria: ‘Eu não sei se salvei tua vida, mas eu te socorri. Tive uma atitude humana. Tenha você também esse ato de humanidade e diga a verdade sobre o que ocorreu”, disse Pimentel. “Eles não contavam que eu fosse aparecer 33 anos depois do atentado”, afirmou.
“O que é importante neste relatório é ressaltar que o caso Riocentro tornou-se emblemático de uma política de estado da época que se utilizava de atentados à bomba”, afirmou o coordenador da CNV, Pedro Dallari. O gerente de projetos da CNV, Daniel Lerner afirmou que o relatório apresentado nesta terça-feira é importante pelo robusto conteúdo comprobatório da participação de militares no atentado do Riocentro. “E as informações sobre o andamento do atentado com certeza chegavam à Brasília”, concluiu Lerner.
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