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Em 10 anos, gastos da União com empreiteiras da Lava Jato aumentam 12 vezes

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

18/11/2014 06h00Atualizada em 18/11/2014 19h20

As empreiteiras suspeitas de pagar propina a políticos e investigadas pela operação Lava Jato da Polícia Federal viram seus contratos com o governo federal renderem 12 vezes mais em apenas 10 anos. Em 2004, as empreiteiras receberam R$ 251 milhões do governo federal (valores já corrigidos pela inflação), saltando, em 2013, para R$ 3 bilhões. 

Segundo levantamento feito pelo UOL junto ao Portal da Transparência, entre 2004 e 2013, o governo federal pagou mais de R$ 11 bilhões --em valores atualizados para 2013-- para as empreiteiras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão. A UTC Engenharia --a outra empreiteira investigada-- não tem valores pagos diretamente pelo governo, segundo o portal.

Os valores levantados no Portal da Transparência, porém, não levam em conta os pagamentos feitos a consórcios, nem aqueles efetuados diretamente pela Petrobras, que tem balanço próprio.

Segundo as investigações da Polícia Federal, os empresários montaram uma especie de “clube da propina” para controlar as principais obras do país.

Mais bem pagas

O salto em valores pagos fez com que as empresas passassem a frequentar a lista das mais bem pagas do país pelo governo federal. Foi assim com a Odebrecht em 2013, quando a empreiteira recebeu R$ 843 milhões pelo pagamento de obras pelo país, na ponta entre todas empresas privadas do país  a receber por contratos.

Além da Odebrecht, as empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão também apareceram na lista das 10 empresas privadas mais bem pagas pelo governo federal no ano passado, recebendo R$ 592 milhões e 508 bilhões, respectivamente. A Andrade Gutierrez ficou em 11º, embolsando R$ 392 milhões.

Nos dados parciais de 2014, Odebrecht e Camargo Corrêa também aparecem na lista das 10 mais bem pagas do país e já faturaram 756 milhões e 441 milhões, respectivamente.

Salto em 2007

Boa parte do crescimento deve-se ao aumento do volume de investimentos em obras, especialmente desde o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado em janeiro de 2007. Naquele ano, os pagamentos a empreiteiras tiveram o maior aumento da década: 102%, duplicando de R$ 433 milhões para R$ 878 milhões, em valores correntes de 2013. Foi o maior aumento percentual na década registrado em um ano e outro.

As empreiteiras suspeitas são responsáveis pelas maiores obras do país eque agora estão ameaçadas de paralisação por conta da prisão de seus diretores. Entre as obras tocadas por essas empresas estão a Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco; o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro; a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará; e a usina nuclear Angra 3, no Rio.

Segundo o Ministério do Planejamento, que administra o PAC e faz o Orçamento do governo, a responsabilidade pela realização de licitação, contratação, execução, fiscalização e pagamento de cada obra do programa é dos ministérios.

"O Ministério do Planejamento acompanha o andamento dos empreendimentos (status, execução física e financeira) e não a execução contratual de cada um dos mais 40 mil empreendimentos, que podem se subdividir em diversos contratos", informou em nota encaminhada ao UOL

Operação Lava Jato

A sétima fase da Operação Lava Jato, da PF, foi deflagrada na sexta-feira (14) para cumprir 85 mandados judiciais em cinco Estados e no Distrito Federal. A ordem também bloqueou cerca de 720 milhões de reais em bens de 36 investigados.

Ao todo, 23 pessoas estão presas por ordem da Justiça no Paraná, e estão detidas na sede da PF em Curitiba. Nesta segunda-feira (17), o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou cinco habeas corpus para executivos da OAS. Outros empresários também já ingressaram com pedido de soltura e esperam análise.

Todas as empresas citadas na investigação e que tiveram seus diretores presos negaram as acusações de pagamento de propina, assim como os partidos citados. Os advogados que representam os empresários também criticam as prisões preventivas.