Topo

Para especialistas, oposição demorou e novo protesto afeta pouco o governo

16.ago.2015 - Simpatizante do governo em meio a protesto contra Dilma, em SP - Alex Silva/Estadão Conteúdo
16.ago.2015 - Simpatizante do governo em meio a protesto contra Dilma, em SP Imagem: Alex Silva/Estadão Conteúdo

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

16/08/2015 23h49Atualizada em 16/08/2015 23h49

O terceiro grande ato nacional contra a presidente Dilma Rousseff, neste domingo (16), perdeu a força em relação aos protestos de março e abril e deve ter pouco efeito sobre a situação do governo, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. Para eles, o Executivo conseguiu tornar a situação "menos pior" graças à sua reação nos dias que precederam o evento, e a oposição parece ter demorado demais para aderir às manifestações.

Veja abaixo o que dizem os pesquisadores Jairo Pimentel Júnior, da consultoria APPC; Fábio Wanderley Reis, da  UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); e Hilton Cesário Fernandes, da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

16.ago.2015 - O cientista político Jairo Pimentel Jr., pesquisador da consultoria APPC - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Jairo Pimentel Júnior, (APPC, consultoria de opinião pública)

Saldo para o governo: "Acabou sendo neutro, pois não acho que as manifestações vão afetar mais o governo do que já foi afetado. Não vai piorar por causa disso. Os eleitores que foram para a rua hoje foram, basicamente, quem votou na oposição e eles já estão mais do que zangados com a presidente. Os atos não vão piorar os índices de aprovação dela, que já são muito baixos. Para ocorrer o impeachment, é preciso ter elementos mais tangíveis, como descobrir que ela participou diretamente dos crimes da operação Lava Jato, ou por crime de improbidade no Tribunal de Contas da União. Enquanto isso, a imagem dela vai continuar negativa por conta da questão econômica, mas isso não vai levar ao impeachment".

Saldo para a oposição: "Foi um pouco negativo. Nesta manifestação, o foco foi o impeachment de Dilma, mas nas outras o foco foi mais geral. Como o público foi menor [em relação a março], creio que o movimento perdeu força nos últimos meses, independentemente da popularidade de Dilma ter caído nesse tempo. Para políticos da oposição que tentaram se vincular aos protestos, essa intenção não teve a força que poderia ter tido naquele período [o primeiro semestre]. A decisão deles de participar talvez tenha sido um pouco fora de hora, porque nesse momento há menos pessoas dispostas a ir para a rua".

22.out.2003 - Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participa de mesa redonda sobre o tema "A construção social da sub-cidadania", em Caxambu (MG) - Jefferson Coppola/Folhapress - Jefferson Coppola/Folhapress
Imagem: Jefferson Coppola/Folhapress

Fábio Wanderley Reis (UFMG)

Saldo para o governo: "Vejo esses atos como 'desinflados', com um começo de perda do empuxo popular. Acho que é natural, pois é difícil manter a mesma dinâmica por muito tempo. Em relação ao governo, o saldo é positivo, pois há claramente uma regressão da postura mais agressiva em comparação a momentos anteriores. A movimentação política desta semana indica um certo esforço de moderação, com o recuo de Renan no Senado; um isolamento do presidente da Câmara [Eduardo Cunha], e as convergências de apoio na faixa empresarial".

Saldo para a oposição: "O quadro agora envolve um certo refluxo da movimentação política contra o governo. A alternativa que nós tínhamos, a do impeachment, envolve riscos, visto o enfrentamento de forças políticas latente desde a eleição passada, e não é desejável que a turbulência enfrentada pelo governo continue".

16.ago.2015 - Hilton Cesário Fernandes, cientista político e professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Hilton Cesário Fernandes (Fespsp)

Saldo para o governo: "É até positivo, não tanto pelas manifestações. Por elas, é claramente negativo, porque emitem uma movimentação mais forte para o impeachment. Mas foi positivo porque o governo soube reagir dessa vez, ao contrário de março e abril. No primeiro momento, com o reposicionamento de Dilma durante a semana, que compareceu a mais eventos, depois ao se aproximar com o PMDB, via Renan Calheiros, com o acordão [Agenda Brasil], e ainda um movimento dentro do PT para se unir em torno da presidente. Os atos anteriores foram precedidos por manifestações sindicais, mas que aconteceram dias antes do 'Fora Dilma'. Desta vez, o PT programou uma manifestação no mesmo dia, na frente do Instituto Lula, sem partir para o confronto. Isso foi muito estratégico, pois não importa tanto a quantidade de pessoas, já equilibra um pouco o assunto".

Saldo para a oposição: "Não dá para avaliar agora. Por um lado, a oposição começou a se aproximar agora desse movimento, que apesar de se dizer apolítico, permitiu que eles [os políticos] falassem alguma coisa. É possível que a participação do PSDB tenha esvaziado um pouco o chamado para as ruas, pois algumas pessoas podem ter se sentido incomodadas de participar de um movimento que elas não sabem quem lidera e podem até se sentir manipuladas. E ainda é um movimento disforme, de ataques e criticas à presidente, mas sem uma pauta para a substituição dela".