Análise: "Lula é um animal político. A tendência é partir para o ataque"
O doutor em ciência política Malco Camargos, professor da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), disse que, a partir de agora, a tendência é de o ex-presidente Lula se tornar presença mais ativa na cena política em razão da sua condução coercitiva para depor na Polícia Federal.
“O Lula é um animal político natural. E na sua capacidade de reagir como animal político, uma vez que se sente acuado, a tendência é partir para o ataque”, disse o especialista.
Para exemplificar, ele citou a coletiva que Lula deu na sede do PT, em São Paulo, após ter sido interrogado na Polícia Federal. “A dúvida hoje era, será que ele vai chamar uma coletiva de imprensa mais tarde? Vai ter coragem para isso? Ele foi mais além, não foi para casa, foi para a sede do partido, chamou uma coletiva e partiu para o ataque. Acho que vamos vê-lo mais combativo, mais presente”, afirmou.
Camargos classificou como “excesso” a ação protagonizada pela Polícia Federal em razão de, segundo ele, o ex-presidente ter colaborado com as investigações.
Candidato em 2018?
O cientista político, por outro lado, disse entender que o episódio de hoje poderá ter o condão de inflamar a militância petista. “O partido [PT], que estaria hoje acuado [em razão do vazamento da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT)], teve a chance de partir para o ataque. Não em cima de quem está desgastado, porque o governo está desgastado, mas em cima do Lula, que ainda tem um patrimônio”, declarou.
O professor ainda entendeu que a presidente Dilma Rousseff ganhou mais tempo para pensar no que fazer diante da delação do senador petista.
“Ela [Dilma Rousseff] terá dificuldade quando for confirmada a delação premiada do [senador] Delcídio [do Amaral]. Ela vai ter que explicar isso mais para frente. Mas ela ganhou tempo para pensar sobre o que vai dizer”, salientou.
Ele ainda avaliou que o impacto da ação desta sexta-feira não trará prejuízo ao PT, com vistas ao pleito de 2018, porque, no entendimento dele, o partido já está “esgarçado”.
“Eu acho que o PT, em qualquer circunstância, dificilmente será um player competitivo em 2018. O partido sai desse processo bastante esgarçado. Normalmente já sairia pelo tempo que está ocupando o poder. Ao que tudo indica, se chegar ao final do mandato [presidencial], vai chegar muito maltrapilho”, frisou.
Apesar de criticar o modo como a ação foi desenvolvida contra o ex-presidente, Camargos disse ter vislumbrado um ponto positivo.
“Esse recado é importante de ser dado. Ninguém, de nenhum partido, independentemente do cargo que tenha ocupado, é intocável. O outro lado da história é: para se chegar às pessoas, tem que ter motivo, tem que ter um processo consistente, tem que ter procedimentos. E eu acho que os motivos de hoje, os processos e os procedimentos [para a condução coercitiva do ex-presidente] foram equivocados”, explicou.
Viés de seletividade
O especialista disse crer que a conclusão da Operação Lava Jato não pode ser feita com “viés de seletividade”.
“O grande risco que eu vejo é o de ela se encerrar com um viés de seletividade, ou seja, focar na busca de apenas um partido e de apenas uma liderança. Se ela fizer isso, em nada contribui para a diminuição da corrupção no país. Eu acho que ela deveria fazer uma análise de todos os institutos que recebem dinheiro de empreiteiras, por exemplo. Para produzir bons reflexos para a nossa sociedade, a médio e longo prazos, ela deveria ampliar o seu espectro”, salientou.
Ele, no entanto, disse enxergar um saldo positivo até o momento em razão do desenrolar da Lava Jato.
“Não há dúvida do sucesso da operação no que ela conseguiu provar referente aos desvios praticados na Petrobras. Agora, ao que tudo indica, a ligação é muito frágil entre a Petrobras e o processo que envolve o ex-presidente [Lula]”, externou.
Porém, ele apontou uma restrição no andamento da operação e disse esperar a ampliação das investigações.
“Isso a Lava Jato conseguiu. As pessoas estão muito mais indignadas com o clima de corrupção. Acho que a gente tem que ter uma universalização do problema e, nesse sentido, acho que é a falha da Lava Jato. Ela não consegue ampliar o debate na esfera política como um todo”, finalizou.
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