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Cobiçado, PP da Câmara 'coleciona' líderes envolvidos em casos de corrupção

Aguinaldo Ribeiro, atual líder do PP, é investigado pela Operação Lava Jato - Rodrigo Nunes/Ministério das Cidades
Aguinaldo Ribeiro, atual líder do PP, é investigado pela Operação Lava Jato Imagem: Rodrigo Nunes/Ministério das Cidades

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

05/04/2016 06h00

Dono da quarta maior bancada da Câmara dos Deputados, com 49 parlamentares, o PP se transformou em uma das “noivas políticas” mais cobiçadas do governo, sobretudo após a saída oficial do PMDB da base aliada. Mas não é só o número de parlamentares que chama a atenção no PP. Além de ser o partido com o maior número de parlamentares investigados pela operação Lava Jato (32), todos os oito últimos líderes do partido na Câmara tiveram seus nomes envolvidos em escândalos de corrupção.

Os 49 deputados do PP são vistos como fundamentais pelo governo para barrar o processo de impeachment que tramita contra a presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados. Para que o processo seja aprovado pela Casa, são necessários 342 votos favoráveis.

Na Câmara, o governo enterra o processo se conseguir 172 votos contrários ou se a oposição não conseguir os 342 a favor. Com apenas 58 deputados, o PT viu seus planos de barrar o impeachment ficarem mais difíceis depois que o PMDB anunciou sua saída oficial da base governista no dia 29. O PMDB, maior partido da Câmara, tem 68 deputados.

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O fato de que todos os últimos oito líderes do PP são investigados ou já foram condenados por escândalos de corrupção é especialmente relevante porque é justamente com as lideranças do partido na Câmara que o governo terá que negociar para recompor sua base. Entre os ministérios que o governo cogita dar ao PP para ampliar seu apoio contra o impeachment estão o da Saúde (atualmente ocupado por Marcelo Castro, do PMDB) e o da Educação (atualmente ocupado pelo petista Aloizio Mercadante). 

Tido como uma sigla média, o PP já foi aliado do PSDB durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique (1995 a 2003) e, assim como o PMDB, também migrou para a base do governo do PT ao longo dos últimos anos. Ocupando ministérios desde o primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o PP se consolidou como um dos principais partidos da coalizão do governo Lula e da presidente Dilma, garantindo a aprovação de matérias importantes ao governo tanto na Câmara quanto no Senado.

Dois dos principais escândalos de corrupção da história recente do país, mensalão e Lava Jato, envolveram todos os oito líderes e ex-líderes do PP na Câmara desde 2003.

Mensalão

Entre os que se viram envolvidos pelo mensalão estão Pedro Henry (MT) e José Janene (PR).

Pedro Henry - Montagem UOL - Montagem UOL
Pedro Henry foi condenado no mensalão
Imagem: Montagem UOL

Pedro Henry foi líder do PP na Câmara entre 2003 e 2005. Em 2007, ele virou réu no caso do mensalão.

Em 2012, Henry foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a sete anos e dois meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. 

Outro líder do PP envolvido no mensalão foi José Janene. Ele liderou o PP na Câmara entre 2005 e 2006. Depois que o mensalão foi revelado pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) , Janene passou por um processo por quebra de decoro parlamentar na Câmara dos Deputados.

Em 2006, ele foi absolvido pelo plenário da Câmara e conseguiu manter seu mandato. 

No mesmo ano, ele foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como sendo o responsável pelo acordo entre o PP e o PT que viabilizava o mensalão. Janene morreu em 2010 devido a problemas cardíacos e não chegou a ser processado. 

Lava Jato

Já o esquema da Lava Jato envolve nada menos que seis dos últimos oito líderes e ex-líderes do PP na Câmara: Mário Negromonte (BA), João Pizzolatti (SC), Nelson Neurer (PR), Aguinaldo Ribeiro (PB), Arthur Lira (AL) e Eduardo da Fonte (PE).

Mário Negromonte ficou no cargo entre 2006 e 2010, ano em que assumiu o Ministério das Cidades. Em 2012, ele deixou o órgão após suspeitas de que membros de sua equipe teriam feito ingerências para que obras da Copa do Mundo em Cuiabá (MT) ficassem mais caras. 

Mário Negromonte - Alan Marques/Folhapress - Alan Marques/Folhapress
Ex-ministro Mário Negromonte foi denunciado na Lava Jato
Imagem: Alan Marques/Folhapress

À época, Negromonte negou as acusações. Em 2015, porém, ele foi incluído na lista de políticos investigados pela Operação Lava Jato e nesta semana, ele foi denunciado pela PGR por corrupção e ocultação de bens. Ele também nega as acusações. 

João Pizzolatti (SC) liderou o PP na Câmara entre 2010 e 2011. Em 2015, ele foi incluído na lista de políticos a serem investigados por participarem do esquema de desvios de recursos da Petrobras apurado pela Operação Lava Jato. No dia 30 de março, Pizzolatti foi denunciado pela PGR por corrupção e ocultação de bens. Ele nega as acusações. 

Nelson Meurer (PR), que foi líder do PP na Câmara em 2011, foi citado por delatores da Operação Lava Jato e é suspeito de ter recebido R$ 500 mil em propina para financiar sua campanha de 2010. Em outubro de 2015, ele foi denunciado pela PGR ao STF. Ele nega as acusações. 

O presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, Arthur Lira (AL), liderou o PP entre 2012 e 2013. De acordo com as investigações da Operação Lava Jato, ele pediu R$ 1 milhão ao empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, uma das empresas investigadas no caso. O doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores do esquema, também citou Lira em seus depoimentos à Justiça e disse que o parlamentar teve uma dívida de R$ 200 mil com dinheiro de propina.

No dia 24 de fevereiro, o STF determinou o sequestro de bens de Lira e de seu pai, o senador Benedito de Lira (PP-AL), também investigado pela Operação Lava Jato. Os dois negam as suspeitas de participação no esquema. No último dia 30, Arthur Lira foi denunciado pela PGR por corrupção passiva e ocultação de bens. O STF ainda não decidiu se ele se tornará réu ou não.

Eduardo da Fonte (PE) liderou o partido entre 2013 e 2016. Em 2015, ele foi incluído na lista dos políticos investigados pela PGR por suspeitas de participação no esquema apurado pela Operação Lava Jato. Ele foi citado por pelo menos dois delatores: Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. O doleiro disse que Da Fonte fazia parte de uma lista de políticos que recebia valores que variavam entre R$ 30 mil e R$ 150 mil por mês em dinheiro oriundo de propina. Questionado sobre o assunto, da Fonte afirmou que os inquéritos contra ele são apenas investigações e que não há condenação contra ele. 

Aguinaldo Ribeiro, atual líder do PP, também comandou o partido entre 2011 e 2012. Ele é investigado pela Operação Lava Jato e é suspeito de ter sido beneficiado pelo esquema de desvio de recursos da Petrobras. Segundo o doleiro Alberto Youssef, ele faria parte de um grupo de parlamentares que recebiam valores mensais a título de propina. 

Consultado sobre o assunto, Ribeiro afirma “não ter o que temer” e diz ser favorável às investigações.