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Tal pai, tal filho: lista de investigados pela Lava Jato é recheada de parentes

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

14/08/2016 06h00

Entre as centenas de nomes de investigados pela Operação Lava Jato, que apura há mais de dois anos um grande esquema de corrupção na Petrobras, há gente que compartilha do mesmo sobrenome.

Na extensa lista que está na mira da força-tarefa, é possível observar mais do que isso: alguns têm laços sanguíneos de pais e filhos, como é o caso do ex-presidente da Câmara e deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e de sua filha Danielle Dytz da Cunha, ambos réus da Lava Jato.

A reportagem do UOL fez um levantamento de casos de pais que estão juntos de filhos em investigações por supostas atividades ilegais.

Eduardo e Danielle Cunha

Eduardo Cunha e Danielle Dytz da Cunha - Montagem - Montagem
Imagem: Montagem
 

Eduardo Cunha é réu em duas ações da Lava Jato. Ele é acusado de ter recebido propina de US$ 5 milhões em relação a contratos de navios-sonda da Petrobras. Ele nega e diz que não há provas de que os repasses tenham sido feitos diretamente a ele. Cunha também é investigado por manter contas não declaradas na Suíça, nas quais ele teria recebido propina relativa à compra de um campo de petróleo pela Petrobras na costa do Benin, na África. A defesa de Cunha diz que os depósitos no exterior tiveram origem no pagamento de uma dívida e nega recebimento de propina.

Segundo as investigações, uma dessas contas está no nome da mulher de Cunha, a jornalista Cláudia Cruz, e teria a filha dele, Danielle Dytz da Cunha Doctorovich, como beneficiária. A publicitária é investigada pela força-tarefa da Lava Jato por suposta manutenção de conta não declarada no exterior. A defesa de Cruz diz que ela não praticou nenhum delito. A da filha de Cunha afirma que ela "é apenas indicada como beneficiária da conta, cuja titularidade é atribuída a sua madrasta".

Pedro e Aline Corrêa

Pedro Corrêa e Aline Corrêa - Montagem - Montagem
Imagem: Montagem

O ex-deputado do PP por Pernambuco Pedro Corrêa cumpria pena no regime semiaberto por ter sido condenado no mensalão quando teve a prisão preventiva decretada pelo juiz federal Sérgio Moro, que comanda as decisões em primeira instância da Operação Lava Jato. Moro condenou Corrêa a 20 anos e três meses de prisão por ter recebido propina, inclusive enquanto era julgado no mensalão. Para ter sua pena reduzida, ele firmou acordo de delação premiada, no qual admitiu que recebeu propina de quase 20 órgãos do governo ao longo de sua vida política, desde a década de 1970.

Já sua filha, a ex-deputada Aline Corrêa (PP-SP), é investigada por peculato, por conta da contratação de secretárias fantasmas para repassar parte dos salários a seu pai. Sua defesa acionou a Justiça para remeter o caso para uma das varas federais de Brasília, argumentando que a acusação contra ela não tem relação com a corrupção na Petrobras, que está nas mãos da 13ª Vara Federal de Curitiba. O pedido de liminar foi concedido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região até o julgamento do mérito, que não tem previsão para ocorrer. 

José Dirceu e Camila Ramos de Oliveira e Silva

Dirceu e Camila - Joel Rodrigues e Marlene Bergamo/Folhapress - Joel Rodrigues e Marlene Bergamo/Folhapress
José Dirceu, em 2014, e Camila Ramos de Oliveira e Silva, em imagem de 2003
Imagem: Joel Rodrigues e Marlene Bergamo/Folhapress
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu ainda cumpria pena, em prisão domiciliar, pela condenação no caso do mensalão, quando foi preso por envolvimento em corrupção na Petrobras. Dirceu acabou sendo condenado a 20 anos e dez meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito da Lava Jato. Segundo as investigações, ele recebeu propina de empreiteiras investigadas pela operação. Dirceu ainda é réu em outra ação ligada à Lava Jato. A defesa de Dirceu nega as irregularidades atribuídas a ele.

Uma de suas filhas, Camila Ramos de Oliveira e Silva, tornou-se ré da Operação Lava Jato pelo crime de lavagem de dinheiro. Ela é acusada de ser proprietária de um imóvel comprado com dinheiro de propina recebida por seu pai. A defesa dela nega que ela tivesse ciência da origem do dinheiro

Benedito e Arthur Lira

Benedito de Lira e Arthur Lira - Montagem - Montagem
Imagem: Montagem
 

O senador Benedito de Lira (PP-AL) é investigado pela Operação Lava Jato por participação no esquema de corrupção na Petrobras. O MPF (Ministério Público Federal) denunciou o parlamentar por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O STF (Supremo Tribunal Federal) ainda não proferiu decisão sobre o caso.

O seu filho, o deputado Arthur Lira (PP-AL) foi denunciado pela Procuradoria pelos mesmos crimes, e seu caso ainda está nas mãos do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, que autorizou, no entanto, o bloqueio de bens de até R$ 4,2 milhões dos dois. Pai e filho foram citados por ao menos três delatores da Lava Jato por terem recebido propina dentro do esquema de corrupção. A defesa de pai e filho afirma que ambos só receberam "doação de campanha oficial" e que não há irregularidades em suas contas

José e Roseana Sarney

José Sarney e Roseana Sarney - Montagem - Montagem
Imagem: Montagem

O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) é investigado por tentar interferir nas investigações da Operação Lava Jato. A PGR (Procuradoria-Geral da República) chegou a pedir a sua prisão, que foi negada pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF. Sarney foi acusado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em sua delação premiada, de ter recebido dinheiro desviado da Petrobras. A defesa de Sarney nega a acusação de obstrução da Justiça e que Sarney tenha recebido qualquer valor de Machado.

Sua filha, a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB-MA), também é alvo de investigação da Lava Jato. Dois delatores denunciaram que o então secretário-chefe da Casa Civil de Roseana, João Abreu, recebeu propina em troca da liberação de um precatório de R$ 134 milhões em favor da UTC Engenharia. Abreu chegou a ser preso, mas conseguiu habeas corpus. As investigações do caso começaram em Curitiba, mas a defesa de Roseana recorreu e conseguiu que o caso fosse encaminhado para a Justiça estadual no Maranhão. A defesa de Roseana afirma que não há irregularidades no acordo feito com a empresa.

Nelson Meurer, Nelson Meurer Júnior e Cristiano Meurer

Nelson Meurer - Lula Marques/Folhapress - Lula Marques/Folhapress
Líder do PP na Câmara, Nelson Meurer é investigado na Lava Jato
Imagem: Lula Marques/Folhapress
 

O deputado federal Nelson Meurer (PP-PR) é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Integrante da cúpula do partido, ele é acusado de receber propina no esquema que desviou dinheiro da Petrobras para partidos políticos. Segundo denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, Meurer recebeu R$ 29,7 milhões em propina.

Seus dois filhos, Nelson Meurer Júnior e Cristiano Augusto Meurer, também se tornaram réus e respondem pelos mesmos crimes. As investigações apontam que os dois contribuíram para receber e esconder a origem do dinheiro destinado a seu pai. Os advogados dos Meurer dizem que pai e filhos não realizaram nenhum ato irregular e que não há provas contra eles.

Mário Negromonte e Mário Negromonte Junior

Mário Negromonte e Mário Negromonte Junior - Montagem - Montagem
Imagem: Montagem

O ex-deputado federal e ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP-BA) foi denunciado pelo MPF pelos crimes de corrupção passiva e ocultação de bens no âmbito da Operação Lava Jato. Ele foi citado nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. A defesa de Mário Negromonte declara que não há indícios no inquérito que possam sustentar a denúncia contra ele. 

Mário Negromonte Junior (PP-BA) foi indiciado pela Polícia Federal por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele é acusado de participar do esquema de desvio de obras da estatal. O parlamentar também foi indiciado por ameaça, por tentar obstruir as investigações. O advogado de Negromonte Júnior nega a prática de atos ilícitos e afirma que não há "indício concreto" contra ele. 

Sérgio Machado e Daniel, Sérgio e Expedito Machado

Sérgio Machado, Daniel Firmeza Machado, Sergio Firmeza Machado e Expedito Machado da Ponte Neto - Montagem - Montagem
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Sérgio Machado foi presidente da Transpetro entre 2003 e 2014. Em delação premiada à força-tarefa da Lava Jato, ele acusou mais de 20 políticos dos principais partidos brasileiros --PMDB, PT, PP, DEM, PSDB e PSB-- de receber propinas de desvios da subsidiária da Petrobras. Machado também repassou para os investigadores gravações de conversas que teve com aliados e principais líderes do PMDB, como Romero Jucá (RR), José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL). Eles rebateram as acusações, mas, após a divulgação do conteúdo desses diálogos, Jucá perdeu o cargo de ministro de Planejamento.

Assim como o pai, três filhos de Machado fecharam acordo de delação premiada com a Lava Jato. Daniel Firmeza Machado, Sergio Firmeza Machado e Expedito Machado da Ponte Neto contaram aos investigadores quais empreiteiras e empresas pagaram propinas em contratos com a Transpetro.

Filho ajuda pai, mas não no crime

Nestor Cerveró e Bernardo Cerveró - Montagem - Montagem
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O caso de Nestor e Bernardo Cerveró tem um roteiro diferente dos demais citados acima. O ex-diretor da área Internacional da Petrobras foi condenado em duas ações penais da Lava Jato a 27 anos e quatro meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. De acordo com as investigações, ele recebeu propina em contratos da Petrobras. Cerveró passou cerca de um ano e meio preso em regime fechado, mas atualmente cumpre pena em casa, no Rio de Janeiro, depois que fechou um acordo de delação premiada no qual assumiu a autoria dos crimes.

Bernardo Cerveró não é investigado pela Lava Jato. Chegou até a ser elogiado pelo juiz Sérgio Moro, que o chamou de “corajoso”. Bernardo gravou uma conversa com o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) e o então advogado do pai Edson Ribeiro, que tentaram evitar que Nestor fizesse acordo de delação premiada. Amaral e Ribeiro foram presos por tentar atrapalhar as investigações. Posteriormente, o ex-senador acabou também fazendo acordo de colaboração com a força-tarefa da Lava Jato.

Veja trechos da delação de Sérgio Machado

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