Janaina chora, cita Deus e rebate Dilma sobre misoginia
A advogada Janaina Paschoal, autora do pedido de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, afirmou nesta terça-feira (30) que "sofreu" por pedir o impedimento da primeira presidente mulher do Brasil. Ela falou por cerca de uma hora na tribuna do Senado e chegou a chorar ao final do discurso, quando pediu desculpas à presidente afastada, Dilma Rousseff. "Eu peço desculpas porque eu sei que, muito embora esse não fosse o meu objetivo, eu lhe causei sofrimento. E eu peço que ela [Dilma], um dia, entenda, que eu fiz isso pensando, também, nos netos dela", disse, emocionada.
A advogada começou o discurso rebatendo a fala de Dilma ao Senado ontem. "Eu sofri mais do que sofreria em outras situações pelo fato da presidente da República ser mulher", afirmou. "Muito me doeu o fato de constatar ser justamente eu a pessoa a solicitar o afastamento da primeira mulher presidente da República do país."
Ela disse, ainda, que ninguém pode ser perseguido por ser mulher, mas que "ninguém pode ser protegido por ser mulher", e que teria feito a mesma coisa se a presidente fosse um homem.
Durante seu interrogatório, na segunda-feira (29), Dilma afirmou que o processo teria um "componente" de preconceito contra mulheres.
"Tem sempre um componente de misoginia e de preconceito contra as mulheres nas ações que ocorreram contra mim", afirmou Dilma, em resposta à senadora Regina Sousa (PT-PI), que citou o tema.
"O recado que estão dando nesse processo é também para todas as mulheres. Com o seu impedimento eles nos dizem: mulher não pode", disse a senadora.
"Deus deu coragem às pessoas"
Durante sua fala, Janaina ainda citou Deus ao negar "conluios" dos favoráveis ao impeachment.
"Eles (defensores de Dilma) alegam a todo tempo que foram vítimas de vários conluios. Conluio de (ex-presidente da Câmara) Eduardo Cunha, dos partidos de oposição, dos denunciantes", afirmou a advogada.
"Eu acho que se tiver alguém fazendo algum tipo de composição neste processo é Deus", disse. "Foi Deus que fez com que várias pessoas, ao mesmo tempo, cada uma na sua competência, percebessem o que estava acontecendo com nosso país e conferisse a essas pessoas coragem para se levantarem e fazerem alguma coisa a respeito."
"Fraude"
Sobre as denúncias em que se baseiam o pedido de impeachment, Janaina Pascoal afirmou que o governo Dilma cometeu "fraude".
A advogada disse que Dilma foi alertada que não deveria atrasar o pagamento aos bancos públicos referentes ao Plano Safra, mas mesmo assim o fez. A prática ficou conhecida como "pedalada fiscal".
Segundo a acusação, o atraso no pagamento de benefícios sociais aos bancos públicos seria um tipo de empréstimo ao governo, o que não é permitido. Essa é uma das denúncias contra Dilma no processo de impeachment.
Ela também questionou a honestidade da presidente afastada. "Não me parece honesto dizer para um povo que existe dinheiro para continuar com programas que para esse povo são essenciais, quando já se sabe que eles não existem."
Janaina Paschoal, autora do pedido de impeachment ao lado de Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo, deu as declarações durante a etapa de debates do julgamento de impeachment, realizada nesta terça-feira.
A acusação tem uma hora e meia para falar. Na sequência, a defesa terá o mesmo tempo para se pronunciar. Em seguida, há a possibilidade de mais uma hora de fala para cada lado para réplica e tréplica.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Ricardo Lewandowski, que conduz a sessão, afirmou que pretende terminar as falas de acusação e defesa antes do horário do almoço desta terça. A previsão é que isso aconteça por volta das 14h.
Na sequência, devem começar as falas dos senadores. Cada um tem dez minutos para isso.
Até o início dos trabalhos desta terça, eram 65 senadores inscritos para falar.
Lewandowski afirmou que pretende terminar a fase de debates nesta terça ou seguir pela madrugada de quarta-feira.
Ele afirmou, ainda, que a votação final deve acontecer na manhã de quarta (31).
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