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PT e movimentos sociais fazem "vaquinhas" para despesas com julgamento de Lula

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

04/01/2018 20h52

O PT e a Frente Brasil Popular, formada por movimentos sociais e centrais sindicais, recorreram a "vaquinhas" pela internet para arcar com as despesas de eventos e viagens ligados ao julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado para o dia 24 em Porto Alegre.

Nesta data, o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) analisará a apelação do chamado processo do tríplex, da Operação Lava Jato, em que Lula foi condenado a nove anos e meio de prisão. O julgamento é decisivo para o ex-presidente; se for condenado, pode ficar inelegível ou até mesmo ser preso. O petista tem liderado as pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2018.

A campanha de arrecadação do PT tem lançamento previsto para segunda-feira (8) e contará com um site próprio para arrecadar os recursos. Segundo o secretário de finanças do partido, Emídio de Souza, o dinheiro será empregado na infraestrutura dos atos programados em torno do julgamento.

"Não há nem haverá fixação de meta", disse Souza.

A "vaquinha" da Frente Brasil Popular, por sua vez, está no ar desde o dia 26 de dezembro e tem como meta arrecadar R$ 300 mil. Até as 20h desta quinta-feira (4), a campanha já havia obtido pouco mais de R$ 58 mil.

Segundo informações disponíveis no site criado para receber as doações, a campanha "tem por objetivo garantir as condições de infraestrutura para receber as caravanas que virão de diferentes locais do Brasil para Porto Alegre neste período."

Entre as organizações que integram a Frente Brasil Popular estão a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a UNE (União Nacional de Estudantes).

"Vaquinhas" virtuais estão liberadas na eleição

A arrecadação de dinheiro por partidos pela internet é uma das novidades para as eleições de 2018, a primeira disputa presidencial desde a proibição das doações de empresas para campanhas eleitorais.

Pré-candidatos podem começar a arrecadar fundos pela web a partir de 15 de maio --a confirmação das candidaturas só vem depois, de 20 de julho a 5 de agosto. No entanto, o dinheiro só pode ser liberado após o registro da candidatura.

O PT já testou este mecanismo de doações nas chamadas "caravanas" de Lula pelo Brasil. Em novembro, o partido recebeu, pela internet, doações que somaram R$ 100 mil em pouco mais de 15 dias para custear as despesas da viagem do ex-presidente por Minas Gerais. A campanha atraiu mais de mil doadores.

Calendário de manifestações

Nesta quinta, o PT divulgou um calendário de eventos e "manifestações pacíficas em defesa da democracia e do direito de Lula ser candidato a presidente da República", segundo nota assinada pela presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR).

A agenda prevê protestos em todos os Estados brasileiros no dia 13. O restante do calendário se concentra em Porto Alegre, com atos na capital gaúcha entre os dias 22 e 24. 

O calendário também diz que o comando do PT fará uma reunião no dia 25, um dia depois do julgamento, "para reafirmar a candidatura de Lula à presidência da República".

O PT não confirma se Lula vai participar de alguma das atividades previstas ou mesmo se vai a Porto Alegre na semana do julgamento.

Segundo a "Folha de S. Paulo", lideranças petistas dizem que a tendência é de que o ex-presidente não esteja na capital gaúcha no dia 24. A interpretação é de que sua presença poderia ser vista como uma tentativa de tumultuar o julgamento ou desafiar o Judiciário.

O julgamento do TRF-4 analisará em segunda instância a sentença dada em julho pelo juiz Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná. Ele condenou o petista a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os advogados afirmam que não há prova dos crimes e que evidências da inocência do ex-presidente foram ignoradas.

Segundo a sentença, Lula recebeu R$ 2,2 milhões em propina da construtora OAS na forma do tríplex, localizado no Guarujá (SP), e nas reformas realizadas no imóvel. Para Moro, os crimes ocorreram em um contexto de "corrupção sistêmica na Petrobras e de uma relação espúria" entre o ex-presidente e a empreiteira.