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Guedes era 'chucro' e Moro 'ingênuo' até chegarem ao governo, diz Bolsonaro

Bolsonaro falou sobre o despreparo dos ministros Sergio Moro (esq.) e Paulo Guedes quando chegaram ao governo - Ian Cheibub/Folhapress
Bolsonaro falou sobre o despreparo dos ministros Sergio Moro (esq.) e Paulo Guedes quando chegaram ao governo Imagem: Ian Cheibub/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

04/09/2019 09h16

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, era "chucro" politicamente e o ministro da Justiça, Sergio Moro, era "ingênuo" até chegarem ao governo. As declarações foram dadas em entrevista à "Folha", publicada hoje pelo jornal.

Segundo Bolsonaro, o ex-juiz federal não tinha "malícia" da política. Na sua avaliação, o nome de Moro não passaria hoje no Senado em uma indicação para ser ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Guedes foi citado no contexto sobre a relação do presidente com Moro, desgastada nas últimas semanas.

A "Folha" questionou o presidente sobre as especulações em torno da possibilidade de Moro disputar a Presidência em 2022. "Já falamos, eu disse para ele que essa cadeira de super-homem é feita de kriptonita. Se quiser sentar, senta".

Doria é 'ejaculação precoce', diz Bolsonaro

O presidente também afirmou que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não tem chance nas eleições presidenciais de 2022 porque é uma "ejaculação precoce". Na avaliação de Bolsonaro, Doria deveria pensar "talvez" somente nas eleições de 2026. "Ele não tem apoio popular", afirmou.

Bolsonaro declarou que está disposto a concorrer à reeleição. "Pretendo sim, se estiver bem lá."

Eleições municipais

O presidente afirmou que não fechou apoio a nenhum candidato para a disputa de 2020: "Tem muita gente aí falando em meu nome, mas eu ainda não tenho ninguém". Ele disse que prioriza a vitória nas seguintes capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, pelo tamanho, e Boa Vista e Porto Velho, pelo "simbolismo" por receberem imigrantes venezuelanos.

Bolsonaro aproveitou para alfinetar a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), cotada para ser a candidata do seu partido à Prefeitura de São Paulo. "Joice está com um pé em cada canoa", afirmou, referindo-se à aproximação dela com João Doria.

Evangélicos

"Todos os principais líderes estarão comigo no desfile de Sete de Setembro, entre eles o bispo Edir Macedo [Igreja Universal], ao meu lado", disse o presidente. "Eu não o conhecia pessoalmente até domingo [quando Bolsonaro esteve em um culto da Universal], só me ligou uma vez durante a eleição", disse. Segundo Bolsonaro, é preciso conversar com os evangélicos. "Trazer para perto".

Declarações polêmicas

O presidente afirmou que declarações polêmicas recentes, como a que tratou da morte do pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, na época da ditadura, são reações ao que chamou de "sacanagem" contra ele.

Afirmou que, apesar do que diz ter sofrido, não tomou nenhuma medida excepcional. "Se eu levantar a borduna, todo mundo vai atrás de mim e eu não fiz isso ainda", disse.

Bônus por volume

Bolsonaro anunciou que pretende editar uma medida provisória para mudar as regras do BV (Bônus por Volume), comissão paga a agências de publicidade por direcionar anunciantes. Para o presidente, um projeto de lei não andará rápido no Congresso.

"Pelo menos por cinco meses por ano [na verdade o prazo de validade de uma MP é de 120 dias se não for votada pelo Congresso] teremos democracia na distribuição de verbas publicitárias no Brasil".

Ele ameaça reeditar a MP a cada ano de seu governo. O alvo da medida é o Grupo Globo, segundo Bolsonaro.

Volta da CPMF

O presidente afirmou que a recriação de um imposto nos moldes da antiga CPMF deve ser condicionada a uma compensação para a população. "Já falei para o Guedes: para ter nova CPMF, tem que ter uma compensação para as pessoas. Se não, ele vai tomar porrada até de mim", disse.

Bolsonaro afirmou que a proposta de reforma vai se concentrar em impostos federais. "O Cintra [Marcos Cintra, secretário especial da Receita Federal] às vezes levanta a cabeça, mas eu vou lá e dou uma nele", disse.

Apoio a Eduardo

Segundo Bolsonaro, os vetos dele ao projeto sobre abuso de autoridade podem tirar apoio de senadores à indicação de seu filho Eduardo ao cargo de embaixador nos Estados Unidos. Por isso, a oficialização da indicação pode levar mais tempo.

A nova lei, que trata de abuso de autoridade, foi aprovada pelo Congresso e o veto de itens pode desagradar os senadores. Já a indicação do nome de Eduardo precisa ser aprovada por maioria simples no Senado. "Ele [Eduardo] vai perder muito apoio com os vetos, vou esperar [a indicação]", disse o presidente.

Bolsonaro negou intenção em recuar da decisão de indicar o filho. "Você já namorou? Quanto tempo demorou para levar para o motel? Não é na primeira vez", declarou sobre a demora em confirmar a indicação.

Discurso na ONU

O presidente adiantou pontos do discurso que fará na Assembleia-Geral da ONU, em 24 de setembro, em Nova York. "Será um discurso de soberania e patriotismo. E falarei da Amazônia", disse.

Ele voltou a negar a oferta de recursos feita pelo presidente francês, Emmanuel Macron, para combater as queimadas. "Só aceito se Macron pedir desculpas, ele me chamou de mentiroso. Não preciso de esmola. Ele [Macron] me deu duas coisas de graça: o discurso da soberania e o de patriotismo".

Embaixadas brasileiras

Bolsonaro anunciou também que pretende mexer em comandos de embaixadas que, segundo ele, têm atuado contra seu governo.

Disse ainda que pretende indicar uma pessoa de sua confiança, que não seja necessariamente diplomata de carreira, para a embaixada do Brasil em Cuba. Ele não descartou escolher um militar para a função.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.