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Bolsonaro dá indireta a Doria sobre prisões em SP: "Atingem a alma"

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

17/04/2020 12h21Atualizada em 17/04/2020 13h43

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez hoje uma crítica indireta ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), durante a posse do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, em solenidade no Palácio do Planalto.

"Essas prisões, mais que ilegais, atingem a alma de cada cidadão brasileiro. Medidas como essas têm que ser rechaçadas."

"Vocês sabem que no que depender de mim, nenhum cidadão seria preso por isso nesse país. Aquelas cenas prendendo uma mulher na praia, em praça pública, de um cidadão bastante forte sendo jogado ao chão, colocando algemas, eu não posso entender", completou o mandatário.

O governador de SP anunciou que poderia recorrer a medidas mais duras, como prisão e multa, se a população não cumprisse o pedido de quarentena e isolamento social para tentar contar as transmissões do novo coronavírus.

Nesta semana, Doria fez uma declaração mais branda e anunciou uma orientação educativa a comércios e serviços que descumprirem a quarentena em São Paulo. O estado é o que registra mais mortes pela covid-19 no país, com 853 óbitos até ontem, segundo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde.

A defesa do isolamento social foi uma das divergências que levaram à saída de Luiz Henrique Mandetta do ministério da Saúde. Desde o início da pandemia, o presidente Bolsonaro defende o afrouxamento do isolamento e a reabertura de estabelecimentos comerciais, o contrário do que vem sendo recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e especialistas da área.

Bolsonaro lamenta 'não poder intervir'

Ao criticar Doria pelas medidas restritivas, Bolsonaro lamentou não poder intervir diretamente na situação. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que a competência para decidir sobre o isolamento em estados e municípios é dos governadores e prefeitos, e não do presidente.

"É uma pena que não possa intervir em muita coisa", queixou-se.

Bolsonaro declarou ainda que a população não pode admitir "prisões mais do que ilegais", que "atingem a alma de cada cidadão brasileiro". Apesar da inquietude, o presidente observou que não estaria "pregando a desobediência civil".

"Não vou pregar a desobediência civil, mas medidas como essa têm que ser rechaçadas por todos nós."

Teich busca neutralidade

Preocupado em se colocar de forma neutra no debate, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou que, independentemente dos argumentos de quem apoia ou critica o isolamento, o lado humano se impõe em um momento como esse.

Não importa se é saúde ou economia, não importa o que você fala, o final é sempre gente
Nelson Teich

O oncologista disse ainda que a população está com medo e associou o momento atual a um filme. O ministro citou como exemplo o Rio de Janeiro, onde ele mora com a família. Declarou ter ficado assustado com a quantidade de indivíduos com máscaras nas ruas no trajeto realizado até o aeroporto Santos Dumont, na região central da capital fluminense, pouco antes da viagem a Brasília.

"A gente vive não só um problema clínico que é administrar uma sociedade que está com muito medo. E a gente vai ter que trabalhar que a gente vai levar para as pessoas um começo de uma solução", explicou.

Parece um filme o que a gente está vivendo
Nelson Teich

O ministro classificou a nova função viver o maior desafio da carreira. "Hoje eu recebo o maior desafio da minha vida profissional. Em um momento tão difícil ter a oportunidade de ajudar as pessoas desse país é uma oportunidade única. Eu vivi durante muito tempo a interação médica, como clínico, as pessoas são muito próximas. E isso é uma coisa que me mudou."

O substituto de Mandetta relembrou o período em que atuou como médico em cidades pequenas pelo Brasil e argumentou que esse trabalho o aproximou das pessoas, "moldou o seu lado humano".

Falta de informação

Teich revelou que sua primeira missão no cargo será cobrar a junção de todas as informações disponíveis sobre a covid-19. Ele defendeu um trabalho integrado com as outras pastas para "capturar" o maior volume possível de dados e, a partir desse trabalho, traçar estratégias de atuação.

O ministro não quis se alongar ao comentar os trabalhos técnicos que estão sendo desenvolvidos no combate ao coronavírus. Deixou claro, no entanto, que está acompanhando os estudos, como a análise da eficácia de moléculas antivirais, e considera que em breve o país poderá ter uma "resposta" da ciência.

Conselho de Bolsonaro

Além de agradecer Mandetta pelos serviços prestados e minimizar as rusgas com o ex-subordinado, Bolsonaro deu um conselho a Teich durante a solenidade de posse:

"Junte eu e o Mandetta e divida por dois. Tenho certeza que você vai chegar naquilo que interessa para todos nós."