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Policial federal citado em caderneta de Queiroz integrou governo Witzel

18.jun.2020 - Queiroz chega ao IML de SP após ser preso em Atibaia - Nelson Almeida/AFP
18.jun.2020 - Queiroz chega ao IML de SP após ser preso em Atibaia Imagem: Nelson Almeida/AFP

Gabriel Sabóia e Igor Mello

Do UOL, no Rio

23/06/2020 04h00

Atualmente adversário político do clã Bolsonaro, o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), já empregou alguns dos principais aliados da família do presidente em seu governo. Entre eles, está o ex-policial federal Aroldo Mendonça que, para o MP-RJ (Ministério Público do Rio), é citado em agendas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), encontradas em apreensão de dezembro de 2019.

Nos escritos de Queiroz, agentes encontraram trechos que diziam "Aroldinho Federal" e "Aroldinho pode chegar até Queiroz caso seja preço [sic]" (veja abaixo). De acordo com as investigações, o nome dele não está ali por acaso: Aroldo estaria citado entre policiais militares e federais que facilitariam a vida do ex-assessor de Flávio, caso o policial reformado fosse levado para o BEP (Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar) depois de preso.

Entre julho e outubro de 2019, Aroldo Mendonça ocupou a presidência da Coderte (Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais) do Rio de Janeiro. De acordo com fontes ligadas ao Palácio Guanabara, Aroldo teria sido uma indicação pessoal de Flávio para assumir o cargo, depois de apoiar Witzel na campanha que o levou ao governo.

Com salários líquidos que variaram entre R$ 11.221,98 e R$ 14.798,31 no período, Aroldo prometeu construir novos terminais rodoviários e estradas em território fluminense.

Em entrevista ao Sindicato dos Servidores da Polícia Federal no ano passado, ele afirmou que havia chegado ao cargo "acabando com muitas irregularidades", sem especificar quais. "Situações em que minha percepção policial se fez necessária para agregar à nova gestão", completou.

Registros de agendas apreendidas na casa de Fabrício Queiroz - Reprodução - Reprodução
Registros de agendas apreendidas na casa de Fabrício Queiroz fazendo referência a Aroldinho
Imagem: Reprodução

A saída do ex-policial federal do Executivo fluminense aconteceu justamente em outubro passado —mês em que a briga entre Witzel e Jair Bolsonaro se tornou mais explícita. No início daquele mês, ambos estiveram estiveram juntos no Rio pela última vez: durante agenda, o presidente chegou a falar sobre a existência de "inimigos dentro e fora do país", enquanto olhava fixamente para o governador —pouco antes, Witzel havia verbalizado a vontade de se candidatar à Presidência em 2022, o que despertou a ira de Bolsonaro.

Dias depois, os embates passariam a ser públicos. Bolsonaro afirmou que havia sido alertado três semanas antes pelo governador do Rio sobre a citação ao seu nome no processo que investiga a morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em resposta, Witzel afirmou que as acusações do presidente aconteceram "em um momento de descontrole emocional".

Como retaliação, alguns dos cargos indicados por pessoas ligadas a Bolsonaro e a deputados fiéis ao presidente foram cortados. Entre eles, estaria o de Aroldo.

"Não sei quem me indicou ao governo"

O UOL procurou Aroldo para explicar a indicação ao governo. Ele negou que tenha sido nomeado por indicação de Flávio, mas afirmou "não saber como foi parar lá [no governo Witzel]".

"Nunca fui à casa do Flávio, nem ele na minha. Estivemos juntos por três vezes durante a campanha de 2018, quando eu fui pré-candidato a deputado federal e apoiei a eleição da família. Um dia, depois disso tudo, recebi um telefonema de pessoas do governo Witzel dizendo que me queriam no Coderte. Sinceramente, não sei quem me indicou, como fui parar lá. Sei que saí por não aguentar essa rotina de convívio com a corrupção", resumiu.

A reportagem questionou a assessoria de Witzel sobre quais os critérios adotados para a nomeação de Aroldo e sobre eventual indicação política do ex-policial federal. Em nota, a assessoria de Witzel se limitou a dizer que Aroldo deixou o cargo alegando "motivos pessoais".

Sobre a suposta amizade com Queiroz, Aroldo afirma não ter contato com o ex-assessor de Flávio há anos.

"Estive com Queiroz algumas vezes durante a campanha, nos falávamos, mas não mantivemos amizade. Se fez alguma irregularidade, que pague. Eu não entendo o porquê de associarem um tal 'Aroldinho' citado numa anotação solta a mim", concluiu.

Em razão das anotações apreendidas na casa de Queiroz, o MP pediu à Justiça que Queiroz não ficasse detido no BEP, mas no Complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio.

O UOL também procurou a defesa de Fabrício Queiroz sobre as anotações na caderneta, mas ela ainda não se manifestou. O advogado Paulo Emílio Catta Preta contesta a prisão preventiva. Segundo ele, Queiroz estava colaborando com as investigações, apesar de ter faltado a depoimentos no MP alegando tratamento médico.

Ex-dirigente de escola de samba e policial federal

Aroldo também é dono de uma franquia da Kopenhagen no Rio, assim como Flávio Bolsonaro.

O nome dele chegou a ser cotado pelo PSL para a Prefeitura de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense. No entanto, a candidatura não deve sair do papel, já que Flávio e Jair Bolsonaro saíram do partido.

Policial federal por 32 anos, ele também ocupou cargos de direção na Unidos da Tijuca e manteve amizade com o empresário brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, que fez fortuna explorando, entre outros negócios, jogos de azar em Angola.