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Revista divulga áudios da mulher de Queiroz: 'Não estou aguentando'

Fabrício Queiroz e sua mulher - Reprodução
Fabrício Queiroz e sua mulher Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

21/08/2020 17h52

A mulher de Fabrício Queiroz, Márcia de Aguiar, afirmou em áudios divulgados hoje pela revista Veja que a "família está desmoronada" e que não aguentava mais a situação em que se encontra. Os registros seriam de novembro de 2019.

As mensagens teriam sido colhidas diretamente do celular de Márcia. Segundo a revista, ela conversava com a advogada Ana Flávia Rigamonti, contratada pelo advogado Frederick Wassef, dono do sítio onde o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi preso em Atibaia (SP).

Na conversa, Márcia ainda declara que voltou a se sentir depressiva e que é uma mulher forte, mas que não está sabendo como lidar com a questão.

"A nossa família está desmoronada, Ana, e eu estou assim emocionalmente abalada. A minha depressão sei que voltou, porque eu vivo chorando pelos cantos. Eu vivo chorando, entendeu? Na minha vida eu sempre fui uma mulher muito forte, mas eu não estou aguentando essa onda sozinha", diz ela em uma das gravações, de novembro.

"Só que eu não estou aguentando, você está entendendo? Não estou aguentando. Está muito difícil, amiga, está muito difícil, está muito difícil. Só Deus sabe. Só Deus para me ajudar a seguir. Porque não tenho vontade de fazer nada, nada, nada, de fazer comida, de fazer nada. Não tenho vontade de sair, vontade de me arrumar. Não tenho. Cheguei a um estágio emocional, amiga, que está...", declara Márcia, em outra gravação.

Além de falar que está emocionalmente abalada, a mulher do Queiroz, segundo a Veja, ainda insinua que o marido era coagido a não dar esclarecimentos para a imprensa. Ela também disse à advogada que se preocupava com a saúde emocional do companheiro.

"A gente não é foragido. Isso está acabando comigo, amiga, acabando. De boa mesmo. Está acabando. Está me destruindo por dentro. Eu estou aqui desabafando, porque não consigo passar isso para ele. Porque se eu passar o estado emocional que estou, como estou falando com você, para o Queiroz, ele vai ficar desesperado. Porque a força dele é em mim aqui?", afirma Márcia, em outra gravação divulgada.

Como resposta, Ana Flávia disse para Márcia que Queiroz reclamou da situação para o "Anjo", que os investigadores acreditam ser Wassef. O advogado já negou o apelido.

"Eu sei que ele não está bem. Igual você falou: ele tenta mostrar que ele está bem e tudo. Mas a gente sabe que ele está preocupado. E não é para menos, né? Ele se distrai aqui, cozinhando, arrumando a casa, essas coisas. (?) Ele mesmo falou para o Anjo: 'Olha, eu não estou aguentando mais. Quero ir para minha casa'", respondeu Ana Flávia.

Em outro áudio divulgado pela revista, a advogada afirmou:

"Ele [Queiroz] tenta não transparecer, mas está estressado, sim. Ele falou para o Anjo que não aguenta mais isso, que está cansado e que ele quer ir embora. Eu também falei para o Anjo: 'Olha, essa história de alugar casa aí, eu não vou atrás. Não vou. A não ser que você sente e dê o dinheiro."

A Veja aponta que os investigadores acreditam que Márcia possa ser o elo mais frágil da cadeia de blindagem e que, sob pressão, poderia fazer denúncias sobre o esquema da rachadinha e se a família Bolsonaro se beneficiou com isso.

O caso e a prisão domiciliar

Queiroz foi inicialmente detido em 18 de junho na casa de Frederick Wassef, então advogado do senador Flávio Bolsonaro, em Atibaia (SP).

O ex-assessor é suspeito de operar um esquema de "rachadinhas" — apropriação de salários de funcionários — no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O nome de Queiroz veio à tona em dezembro de 2018, quando o Estadão revelou que ele fez movimentações financeiras "atípicas".

Menos de um mês após Queiroz ser preso, o presidente do STJ, João Otávio de Noronha, aceitou, no dia 9 de julho, um pedido da defesa do ex-assessor.

No habeas corpus, os advogados de Queiroz pediram a conversão da prisão preventiva em domiciliar. Como argumento, citaram o estado de saúde do ex-assessor e o contexto de pandemia, além de criticarem fundamentos da medida autorizada pela Justiça.

Na ocasião, Noronha estendeu a prisão domiciliar para Márcia, que estava foragida. "Por se presumir que sua presença ao lado dele (Queiroz) seja recomendável para lhe dispensar as atenções necessárias", argumentou o presidente do STJ.

O presidente do STJ decidiu sobre o caso durante o plantão do Judiciário, sendo responsável pela análise de casos considerados urgentes.

A decisão de Noronha foi derrubada na última quinta-feira pelo relator do habeas corpus, Felix Fischer, que retornou às atividades do tribunal nesta semana.

Ao derrubar a prisão domiciliar do casal, Fischer apontou que o casal já supostamente articulava e trabalhava "arduamente" para impedir a produção de provas ou até mesmo a destruição e adulteração delas nas investigações de um esquema de rachadinha. Na avaliação de Fischer, as manobras de Queiroz e Márcia para impedir a localização pela polícia "saltam aos olhos".

No dia 14 de agosto, o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu devolver o ex-assessor e sua mulher para a prisão domiciliar. Agora, com a decisão, a prisão domiciliar do casal foi restaurada.