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Senador diz que governo tenta intimidar CPI: 'recebi ameaças no celular'

Otto Alencar é o senador mais velho da CPI e por isso convocou a primeira sessão ontem. Desde então, ele diz que vem recebendo ameaças - Jefferson Rudy/Agência Senado
Otto Alencar é o senador mais velho da CPI e por isso convocou a primeira sessão ontem. Desde então, ele diz que vem recebendo ameaças Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

28/04/2021 20h01Atualizada em 28/04/2021 23h59

O senador Otto Alencar (PSD-BA) disse hoje que o governo federal tem tentado intimidar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, que teve a sua primeira reunião realizada ontem. Alencar convocou a sessão por ser o parlamentar mais velho entre os membros da CPI, com 73 anos, e disse que desde então vem recebendo ameaças pelo celular.

"O governo tem apelado de todas as formas para desestabilizar a CPI", afirmou o senador em entrevista à CNN Brasil.

Dia 27 de abril eu convoquei a sessão. Daí em diante meu celular recebeu mensagens, ameaças, mais de 500 mensagens de robôs, de pessoas de outros códigos [de área], muitas do Rio de Janeiro, com as coisas mais absurdas na tentativa de intimidação.
Otto Alencar, senador

Antes de ser deputado federal por 28 anos pelo Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) era vereador carioca, e sempre teve o seu reduto eleitoral concentrado na capital fluminense, assim como dois de seus três filhos parlamentares — o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Para Alencar, o governo Bolsonaro está por trás do pedido feito na Justiça para tentar barrar a escolha do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da CPI, o que acabou se confirmando ontem. Renan chegou a ser impedido de tomar posse como relator graças a uma decisão liminar, que depois foi suspensa.

A liminar concedida anteontem (26), na véspera da primeira reunião da CPI, atendeu a um pedido da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada próxima de Bolsonaro. Hoje, ela recorreu ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da Primeira Região) para ainda tentar barrar a indicação de Renan à relatoria da CPI.

O senador Otto Alencar também lembrou a atitude de três senadores — Jorginho Mello (PL-SC), Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE) — que entraram com um mandado de segurança hoje no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a escolha de Renan como relator. Alencar reconheceu sua surpresa com o fato.

"Para a minha surpresa três colegas vão ao STF. Também não vai ter respaldo jurídico. O que me chama atenção é a falta de respeito com o colega [Renan]. Não creio que o Supremo vai tomar essa decisão, me parece muito mais um ato cênico para chamar atenção da mídia e da imprensa", disse o senador membro da CPI.

"Confissão de culpa"

Alencar ainda disse chamar a atenção a forma como o governo Bolsonaro tem demonstrado receio da CPI, que visa investigar as ações e possíveis omissões da gestão federal na condução da pandemia, além da atuação também de estados e municípios sobre a covid-19. Segundo o senador, o governo mostra "quase uma confissão de culpa".

O que me chama atenção é esse receio exagerado do governo, quase que uma confissão de culpa pela omissão, pela submissão dos agentes do governo que estavam comandando o Ministério da Saúde. A ciência não se dobra a uma ordem que não seja sintonizada com aquilo que a medicina prescreve. Não pode um profissional de saúde receber determinação, mesmo sendo presidente, de alguém que não conhece a medicina.
Otto Alencar, senador